Capítulo 1- A pergunta

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Eu retirei algumas roupas da minha mala e as coloquei sobre a cama. Meu relógio marcava dez pras nove. Eu optei por uma camisa branca, acompanhada de um suspensório de couro marrom e mocassins do mesmo material. Nada de gravatas.

O corredor estava completamente vazio. As janelas estavam abertas, fazendo com que as cortinas revoassem como véus brancos como a neve. Me aproximei da porta de Eva e coloquei meu ouvido na tábua de madeira. Nenhum som, presumi que ela já estivesse na sala comum.

Desci as escadas e atravessei a sala de entrada, encontrando minha irmã sentada em uma bela cadeira de estofado verde e belamente adornada nos pés e no apoio dos braços.

-Bom dia, minha irmã querida!- Exclamei com o maior entusiasmo que pude oferecer.

-Bom dia Hans.- Eva não se esforçou muito, mas já estava surpreso por ela me dirigir a palavra. Uma mesa de café da manhã estava posta no centro do local. Um punhado de ovos mexidos, uma jarra de suco de laranja, um bule de café e algumas fatias de pão dispostas em uma grande bandeja prateada. Me servi de pão e ovos e também de uma boa xícara de café.

Sentei-me em uma cadeira próxima a de Eva e me pus a observar o ambiente. O senhor Baker estava sentado do outro lado da sala, ao lado de sua esposa, Theodora. Reconheci também alguns rostos familiares a mim. Jennet Pinkmole, a camareira da pensão Baker estava logo a minha frente, separada pela mesa de café. Estavam ali também o senhor August Finchbell e Lilly, sua esposa. Costumavam se hospedar na pensão enquanto viajavam. Eram londrinos na verdade. Estavam sempre de férias, como todo casal rico.

Comi um pouco do meu omelete e tomei um bom gole da minha xícara de café. Faltava açúcar, como sempre. Eu já estava acostumado. Me levantei da minha cadeira e fui novamente à mesa posta no centro com o café da manhã. Enquanto eu colocava mais algumas colheres de açúcar, aproveitei para observar novamente as faces no salão. Estavam ali também os irmãos Heistings. Nunca gostei daqueles dois, eram sempre muito calados para o meu gosto. Pessoas silenciosas não são confiáveis de forma alguma, sempre nos dão a impressão de estar escondendo algo. Haviam também outros dois que eu não conhecia. Um homem de cerca de cinquenta anos, bem vestido, provavelmente endinheirado e uma mulher de idade semelhante, talvez cinco anos a menos. Um jornal repousava sobre sua mão esquerda e delicadamente segurava uma xícara de café com a mão direita.

Terminei de colocar o açúcar e voltei a me sentar.

-Você acha que ninguém percebe ?- Perguntou Eva entre um risinho irônico.

-Não me importo que percebam.

-Deveria. Fica parecendo uma espécie de psicopata enquanto observa a todos com esses olhos esbugalhados.- Disse Eva.

Mantive-me em silêncio. Não estava interessado em entrar num embate novamente com Eva. Ela era boa no que fazíamos, mas lhe faltava muita coisa. Ela não sabia observar nada e era discreta como um pavão. Era mais inteligente do que a maioria, mas seu cérebro era preguiçoso demais para alcançar sua total potência.

Depois do café, subi ao meu quarto e coloquei um casaco simples e minha boina. Eva também estava prontamente vestida. Numa comunicação sem palavras, definimos nossa próxima parada. Entramos no carro e fomos calmamente fazer nossa visita.

A casa ficava há cinco ruas da pensão. Continuava como eu me lembrava. Estava do mesmo jeito desde minha infância. Um andar apenas, pintada de branco, já escurecida pelo tempo.

-Devemos bater na porta?- Perguntou Eva.

-Não, não precisamos.- Eu coloquei a mão na porta e girei a maçaneta. Meu pai estava sentado no sofá, logo na sala de entrada. Estava junto de um copo de café e um jornal do dia.

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