As nuvens haviam aparecido logo pela manhã, tornando o dia ainda mais cinzento. Dias como esse eram sempre naturalmente cinzentos, pra falar a verdade. Era como se o clima, ou quem sabe Deus, estivesse prestando seus respeitos de alguma forma. A chuva caía fina como um véu sobre nossas cabeças e sobre a grama mal aparada do cemitério. Todos estavam com uma flor em suas mãos, uma rosa branca, sendo mais exata.
Os pais de Elizabeth se abraçavam, em frente a cova aberta onde estava o caixão. Mais distantes, formando um círculo, estavam os amigos e conhecidos. Senhor Baker e sua esposa, Lilly, August Finchbell e sua esposa que também chamava-se Lilly, os irmãos Heistings e algumas outras pessoas que eu não conhecia. Não havia um padre para rezar por Elizabeth naquele dia.
Mantive-me a certa distância de todos, observando de longe. Hans não havia comparecido, era provável que estivesse no hospital. Quando o encontrei em seu apartamento, a porta estava destrancada e ele caído ao chão, com sua mão aberta e sangrando. Pra falar a verdade eu não tinha ideia do que poderia ter acontecido. Ninguém na pensão havia escutado nada de estranho, ou sequer visto alguém entrar no meio da noite. O senhor Baker confirmou que havia esquecido a porta da frente destrancada, o que facilitaria a entrada de algum ladrão ou algo do tipo. Mas por que entrar especificamente no quarto de Hans? O que tornava tudo mais estranho era o fato de que nada havia sido roubado.[
Enquanto meu cérebro tentava adivinhar de alguma forma a resposta para todas as perguntas que se formavam a cada instante, meus olhos se focavam em outro lugar. Um homem, distante de todos os que prestavam seus respeitos, olhava fixamente na direção da cerimônia.
Tirei do bolso minha garrafa de conhaque, bebi um bom gole para me esquentar e entrei em ação. Como quem não queria nada, andei em direção ao misterioso indivíduo que observava tudo de longe. Como eu esperava, ao meu ver ele correu.
-Parado aí!- Gritei em sua direção enquanto apontava minha pistola para suas costas.
O homem parou quase que instantaneamente, facilitando muito meu trabalho.
-Vire-se, bem devagar ou eu atirou em você.- Ordenei.
-Eu não fiz nada.- Disse ele, ainda sem se virar.
-Se não tivesse feito não teria corrido. Agora vire-se logo caramba!
Ele agora olhava diretamente para mim. Uma barba espessa lhe cobria o rosto rechonchudo e seus cabelos eram enrolados em perfeitos caracóis. Nunca havia o visto antes, provavelmente lembraria se já tivesse o encontrado, um homem com o tamanho dele não passava despercido.
-O que está fazendo aqui?- Perguntei.
-O que todo mundo em um cemitério faz. Vim visitar o túmulo de um ente querido.
Puxou o martelo da pistola para trás da forma mais dramática que pude. Queria que ele se sentisse mais nervoso. Era mais fácil tirar alguma coisa dessa forma.
-Se mentir mais uma vez pra mim eu meto uma bala na sua testa.
Ele se manteve em silêncio.
-Fale!- Eu já estava perdendo a paciência. Se ele tentasse me enrolar mais uma vez eu iria fazer questão de atirar em sua perna apenas para aliviar o estresse.
-Eu... Vim ver Elizabeth.- Respondeu ele. Sua voz era grave e possuía um sotaque estranho, não soube identificar de onde.
-E porquê?
-Eu a amava. - Respondeu o homem sem fazer rodeios.- Meu nome é James Morgan. Eu e Elizabeth fomos namorados.
-E por que não está lá, com os outros?
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Café Frio
Misterio / Suspenso(completa) Dois irmãos, Eva e Hans Schuleman, trabalham como detetives particulares há vários anos, e após o término de um de seus casos, resolvem voltar à cidade natal para se reorganizarem. Mas logo quando retornam ao local, eventos suspeitos come...