Começar de novo

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[Argentina, 7 de novembro de 2008]

Quando saí do banho, o vi me olhar como de costume. Seus olhos passaram por toda extensão do meu corpo e não vou mentir que aquilo não me enchia de paixão. Ele se levantou e foi minha vez de admirá-lo. Christopher havia crescido tanto em tão pouco tempo, não só fisicamente, mas também emocionalmente. Eu sabia que tínhamos que sentar e conversar, só que vê-lo assim mexia com meus instintos e era difícil resistir, ainda que eu não quisesse tomar atitude nenhuma nesse momento. Sorri singela e disse "bom dia" baixinho.

Hoje era o dia do show no Luna Park, não tínhamos como tirar o dia livre e conversar com tranquilidade, mesmo sabendo que aquilo estava nos planos mais breves...pelo menos nos meus.

Quando ele saiu do banho fui surpreendida pela seu anseio em falar sobre o que tinha acontecido.

- "Ontem...eu saí, tinha que cuidar um pouco da minha mente" – ele falou de cabeça baixa enquanto me puxava para seu colo com ternura. Ouvi aquilo querendo abraçá-lo e beijá-lo, mas sabia que interromperia a importância desse diálogo. Por mais que eu buscasse me colocar no lugar dele, sei que minha atitude podia ser mais severa e que talvez eu não voltasse tão rápido. Tentei ser transparente e falei que teria feito o mesmo em seu lugar.

Ele me olhou com surpresa e disse que foi egoísta de sua parte. Concordei com ele que não foi a atitude mais madura, e quando ia me levantar de seu colo ele me puxou de volta me impedindo de sair assim.

"Volta aqui" - sua voz é firme - "Sei que hoje não haverá tanto tempo para conversarmos, temos que nos preparar para o show e tudo mais. Queria te dizer apenas que estou contigo e vai ficar tudo bem, pequena".

Nessa hora parei de controlar meus sentimentos. Uma lágrima escorreu de meu rosto e ele me beijou levemente nos lábios... Depois nos abraçamos e acolhemos um ao outro.

Não era do caráter do Christopher voltar sem refletir sobre as coisas que o feriam. Ele precisava ter certeza de que estava bem porque assim, não correria o risco de se machucar e machucar a mim, como já havia acontecido algumas vezes no meio das nossas incertezas.

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Estávamos prontos! Mas sair levava um pouco de tempo a mais do que o esperado, já que agora sim, o hotel estava lotado de fãs na recepção e em sua fachada. Os seguranças, principalmente Osho que andava mais perto de nós, tratavam de organizar nossa saída enquanto aguardávamos a chamada. Dulce estava linda, com um corpete preto e uma saia da mesma cor. Eu havia comprado uma flor rosa para que ela usasse em seu cabelo, assim como as argentinas usam. Ela adorava agradecer aos fãs o amor que recebia fazendo uso de objetos simbólicos.

Eu havia adotado calça branca e camisa preta para essa turnê, para o adeus. Não vou mentir dizendo que minhas fãs não amavam porque muitas não faziam questão de esconder e já me davam a letra disso quando nos encontrávamos por aí. Terminei de passar um perfume, peguei meu fone de ouvido e coloquei o meu objeto simbólico na cabeça: uma boina esverdeada. Estávamos prontos para mais um show. A abracei por trás enquanto ela terminava sua maquiagem no espelho do banheiro e ela segurou firme em minhas mãos entrelaçando nossos dedos.

Não falamos nada, apenas nos permitimos sentir aquele momento.

E assim, ouvimos uma batida na porta que nos avisava que tudo estava pronto para nossa saída.

Entramos no elevador, Dul e eu, Christian e dois de nossos seguranças. Os outros sairiam pelo outro elevador.

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