Morada

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- "Como é bom te ter aqui" – Ouço ele falar enquanto percorria com suas mãos toda a extensão das minhas costas.

Sou tomada por um longo arrepio e soluço de prazer naquele exato momento. Respondo-o dessa forma, me entregando inteiramente, de corpo e alma, sem repudiar, sem hesitar. E naquela noite dançamos sem parar, a nossa melodia que tanto nos faltava, ao som de nossas vozes que baixinhas, como breve sussurros, completavam a música que compúnhamos. Por prazer, por amor, nos conhecíamos muito bem na cama. Bem o bastante pra eu entender quando o havia cansado.

- "Insaciável" – sua voz vem sem fôlego fazendo-me concluir o que eu já imaginava, sorrio travessa.

- "Ainda me falta" – brinco com ele fazendo surgir aquele sorriso singelo...

- "Eu já perdi 5 quilos só nesse tempo" – ele me puxa fazendo-me deitar em seu peito nu, em meu peito nu.

- "Você tá tão magrinho, dessa vez fui eu, mas e antes?" – coloco meu queixo em seu peito e levanto uma sobrancelha procurando seu olhar...

- "Você me abandonou, tive que saciar meus desejos sexuais por aí" – ele já fala dando uma gargalhada safada sabendo o perigo de sua afirmação...

- "Você me abandonou!" – afirmo dando um tapinha em seu peito fazendo ele soltar um grito de dor. – "Exagerado" – falo sorrindo e fazendo cara de desconfiada.

E assim, adormecemos os dois, em meio a sorrisos, brincadeiras, poucas palavras e muita saudade.

"Sem dúvida, este é o melhor encontro que eu posso sempre lembrar
Eu sempre irei me lembrar o som do rádio

O obscuro das luzes macias, o cheiro do seu cabelo
Que você enrolava nos seus dedos
E o tempo no relógio quando percebemos que era tarde

E esta caminhada que nós dividimos juntos...

e eu sabia que você queria... eu sabia que você queria..."

Desperto e olho para o meu lado. Não há possibilidade de você acordar ao lado de alguém como ele e não sorrir. Mas não um sorriso qualquer, um sorriso gigante, daquele que fazia tempo que não sorria. Aquele sorriso que acompanha o brilho nos olhos, um frio na barriga e uma vontade extrema de viver. Levanto devagarzinho da cama para não despertá-lo e me enrolo em sua camisa que junto do chão. Aliás, difícil era dizer o que não estava jogado no chão do quarto...um furacão tinha passado por ali e fui eu quem desfrutou desse vendaval. Prendo meus cabelos no alto e preparo a banheira, era o que eu desejava loucamente agora, um bom banho quente.

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Acordo despreparado para sentir a sua ausência quando antes de abrir os olhos a procuro com minhas mãos que percorrem o vazio do travesseiro ao meu lado. De imediato, abro os olhos procurando-a por alguns segundos sem achá-la. É então que ouço um barulho de água vindo do banheiro e não aguento muito tempo sem ir ao seu encontro. Dispenso bater na porta, mas entro devagar quando a vejo deitada submersa pela espuma da banheira. Naquele seu mundo, as pálpebras cerradas, a boca molhada, as bochechas rosadas, observo-a uns minutos antes de resolver me juntar a ela.

Olhando-a assim, percebi que no meio do caos pode haver um pouco de paz.

Coloco a mão na água sentindo sua temperatura, a temperatura do corpo dela. Mas sou pego de surpresa quando ela agarra a minha mão fazendo-me sorrir:

- "...Ótimo reflexo" – Deixo as palavras interromperem o momento...

- "Você ainda não viu nada, sou muito capaz de sentir" – Ela abre os olhos, encontra os meus e sorri devagar.

- "Seria capaz de me sentir quando estou longe?" – Distância era a única coisa certa na nossa vida daqui pra frente, não desvio de seu olhar e sorrio um meio sorriso.

- "É pra isso que existem os celulares" – ela brinca levantando uma sobrancelha...

- "Não falo de tecnologia, você sabe" – agora sim, desvio abaixando um pouco a cabeça.

Ela coloca sua mão embaixo do meu queixo me fazendo levantar a cabeça.

- "Eu posso estar do outro lado do mundo, vou continuar sentindo você em mim" – sua voz era segura, mas seus olhos não me encaravam seriamente. – "...Agora, vem aqui!" – seu tom de mandona nunca mudava.

Obedeço cedendo aos seus caprichos,

como se fosse muito sacrifício mesmo.

Perdemos a hora com as nossas saudades.

Hoje será um dia cheio.

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