RBD: sonho e música

167 13 2
                                    


Perdemos a hora com as nossas saudades.
Hoje será um dia cheio.

______________

Estávamos todos nos preparando para gravar a propaganda do nosso último show da turnê em Madri, dia 21 de dezembro de 2008. Tudo havia começado bem, Dulce e eu estávamos tranquilos, sabíamos que isso era uma das coisas mais importantes que tínhamos para fazer hoje. Estávamos muito concentrados ao passo que às vezes esquecíamos do trabalho e trocávamos um olhar, um sorriso, umas palavras. O segredo de ser artista é não cansar e sempre pensar que você pode fazer melhor... Mas acima de tudo entender que quando um projeto passa a ser parte integral da sua vida, já não se trata de trabalho apenas, passa a ser também algo em que você acredita fielmente. Por isso, às vezes, eu fico nervoso quando percebo que ser você mesmo, agir com naturalidade é um problema para os outros.

Bastava ser você, somente isso que nossos fãs queriam.

Desde sempre.

::

Depois de errarmos algumas vezes, cada um tinha o seu jeito de lidar com os erros e ele foi bastante intenso questionando Anahí:

- "...nos vemos no dia 21 de dezembro..." – ele aponta para frente com o dedo e a questiona.

- "Sim, felicidade, se alguns fãs estão se suicidando porque isso vai acabar" – Anahí responde mexendo nos cabelos e ele logo interrompe...

- "Por isso felicidade? Mas não é tudo!" – Ele sabia que não adiantava discutir com ela certas coisas, mas nunca deixou de expressar a sua opinião quando achava que algo não estava certo. Eu assisto a discussão calada e olhando pra frente, evitando conflitos. Ele se vira para Poncho e ganha um aliado...

Sua forma de se portar nervoso logo se faz presente. Leva as mãos a boca e começa a roer as unhas, enquanto Anahí se vira pra mim e pergunta:

- "Que se passa com ele?" - Aponta para ele e eu finjo não entender enquanto ele revira os olhos um pouco cheio de tudo isso.

- "Não sei." - Continuo lendo o script e respondo baixinho -"Amanheceu mal" - Dormiu pouco o menino (penso comigo). Ela tenta encontrar minhas mãos, sem sucesso. Acho que eu as mantinha em minhas costas para não levá-las a boca e roer a unhas como ele fez.

Eu admirava a forma como ele trabalhava, mas confesso que me assustavam esses ataques de nervosismo dele, apesar de sua calmaria na maioria das vezes, pois éramos bastante diplomáticos. Depois de mais algumas tentativas, gravamos a primeira parte da propaganda. Precisávamos responder agora o que significa o RBD para cada um de nós.

RBD para mim era um sonho do qual despertávamos.

::

Finalmente gravamos a primeira parte da propaganda. Eu tinha meus braços cruzados e esperava que os outros terminassem de ensaiar suas falas. Permaneço em silêncio e sinto sua cabeça deitar em meu ombro. Um segundo de paz para os nossos corações agitados.

Não era fácil lidar com tudo o que estava acontecendo, mas tínhamos a nossa forma de reagir. Você era como eu, agia como estava se sentindo no momento e agora, estávamos em sintonia, ligados a um só mundo, aquele que era o nosso. Para mim era a música, pra você um sonho e para nós dois a descoberta de um emaranhado de sentimentos.

Eu ainda me lembro do desenrolar mais enrolado da minha vida.

Você partia quase todos os dias que ficávamos juntos e eu por acabar não tendo nenhuma segurança da sua permanência ao meu lado, seguia confuso, projetando em ti a minha confusão interna, mas ao contrário de você nunca lutei contra o que eu sentia, simplesmente deixava acontecer.

De uma hora para outra, eu era tomado por meus atos, dominado por um sentimento que através da sua ajuda se denominava tudo menos certo. Não vou mentir porque não cabe a mim agir assim, muitas vezes senti raiva, não de você, mas da sua teimosia. Sentir raiva de você seria bem mais fácil pra eu me livrar de tudo isso. Tentei por tantas vezes seguir sem ti, procurava e achava fácil nas outras um refúgio e aos poucos fui descobrindo que o meu verdadeiro refúgio estava bem ao meu lado, mas ainda não era meu.

Nunca gostei de mentir, mas se para você isso era uma condição para que estivéssemos juntos pelo menos em um determinado momento, eu o fazia. Fazia porque era difícil te ter, era mais difícil ainda saber que ao amanhecer poderias não estar mais ali, recoberta por mim. Inventavas desculpas para ir e eu, teimoso, insistia em te trazer de volta. Instabilidade emocional? Nós dois tivemos, não é justo dizer que só você sofria com isso, que só você tinha dúvidas, aliás isso seria muita hipocrisia da minha parte. Se eu não tivesse dúvidas sobre nós dois, não procuraria por outras, mesmo depois de olhar em seus olhos pequenos e molhados mais uma vez me dizer o que eu nunca queria ouvir, que era melhor deixarmos passar, que não poderíamos viver daquela forma, que uma hora tudo ia desmoronar em cima de nós e assim sofreríamos mais.

Eu coloquei em minha cabeça que eu deveria te conquistar para provar que nem tudo nessa vida é incerteza, para tentar te buscar do abismo onde você caiu e nunca mais havia conseguido se levantar. Eu não deixaria você se livrar de mim tão fácil Dulce Maria, assim é o nosso amor.

Não podemos falar de futuro, mas fizemos alguns planos.

Parte dos meus planos de vida incluem Dulce Maria.

Os meus planos?

Você e a música.

______________

Disfraces y Antifaces (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora