Ballet Shoes

Capítulo 1

Uma semana atrás.

- Querida, acorde – Peter Fossil tentava acordar a filha.

- Eu não quero – resmungou.

- Sei que você treinou até tarde ontem, mas hoje é o dia da sua formatura – ela deu um salto da cama.

- Sai, eu tenho que me arrumar – o pai saiu do quarto rindo.

Pauline Fossil é uma ruiva de 17 anos, hoje, como já foi dito, é a formatura dela, a garota não via a hora desse dia chegar, assim ela poderia dedicar-se duzentos por cento para o balé.

Como a mãe, Posy Fossil, ela amava o balé, desde pequena pegava os tules da mãe, que o pai guardara mesmo depois da morte, e ficava brincando pela casa, ela dizia que um dia seria uma grande bailarina, o pai sempre concordava e quando ela fez seis anos a colocou em uma academia de balé, era a mesma em que a mãe dava aulas. A menininha amou a surpresa e disse que faria valer à pena e deixaria o pai orgulhoso, Peter já sentia orgulho de ter uma filha tão inteligente com tanta pouca idade, mas ficou ainda mais orgulhoso quando, mesmo tendo treinado só dois meses, a garota recebeu o papel principal da apresentação de primavera. Foi nesse momento que ele percebeu que o futuro do seu tesouro era brilhar nos palcos, mostrando para o mundo toda a graciosidade de uma bailarina clássica.

(...)

- Finalmente acabou – Sky era a oradora da sala e começou seu discurso assim. Pauline não fazia idéia de como ela tinha sido chamada para ser oradora, todos os professores a odiavam, e se fizessem uma votação na turma ela não ganharia. – Tem gente aqui que está desde o começo e tem gente que entrou depois, mas mesmo assim faz parte da turma, foram anos incríveis que eu vivi ao lado de vocês – Pauline revirava os olhos, não conseguia acreditar na cara de pau da amiga, ela odiava todos. – Em nome de todos os formandos, gostaria de agradecer a todo o corpo docente do Houghton High School, vocês foram maravilhosos – olhou para onde estavam os professores e sorriu. – Bem, é difícil falar quando está tudo embaralhado na sua cabeça e não se tem uma ordem exata, eu não fiz um discurso, como deixei de fazer muitos trabalhos ao longo de todo o ensino médio. Eu queria apenas agradecer à Deus – a ruiva revirou os olhos mais uma vez, Sky nem era religiosa e ainda falou aquilo olhando para a amiga, que ao contrário dela era -, aos nossos pais e novamente a todo o corpo docente do colégio, vocês são nota dez – levantou o polegar fazendo um jóinha,  e saiu depois dos aplausos.

- Seu discurso foi ótimo – ironizou Pauline assim que a amiga sentou-se ao seu lado.

- Eu sei – jogou os cabelos para o lado.

A diretora começou a chamar os nomes e a entregar os diplomas, Pauline queria que aquilo acabasse logo, certo que ainda tinha o baile à noite, mas ela não iria, nenhum menino havia a convidado, nem ao menos Logan, ele iria com uma líder de torcida sem nada no cérebro; ela não queria ir, e agradeceu ao fato das garotas daquele colégio serem tão atiradas.

- Pauline Fossil – a voz da diretora fez-se ouvir pelos alto-falantes presentes no ginásio do colégio. A garota levantou-se, subiu até o palanque pegou seu diploma, virou para o publico e o levantou, como todos os colegas haviam feito, olhou para o pai que sorria e abriu ainda mais seu sorriso.

(...)

- Parabéns, querida – o pai a abraçou e a girou no ar. – Você estava linda. Tenho tanto orgulho de você.

- Obrigada, papai – ele sorriu, mesmo crescida a garota ainda o chamava de ‘papai’.

- Que tal a gente ir almoçar naquele restaurante que você gosta? Qual é o nome mesmo?

- Candle 79, mas papai você comida vegetariana.

- Eu não odeio, eu só não sou vegetariano e trocaria uma salada por um hambúrguer sem pensar duas vezes, e você também.

- Trocaria mesmo, mas se a senhora Shield descobrir que eu comi fritura uma semana antes da apresentação ela me mata. Mas o Candle 79 é com certeza meu restaurante favorito.

- Então vamos comer folhas nesse Candle 79.

(...)

- Como aquela mulher obriga vocês a só comer comida vegetariana por uma semana? – Peter perguntou assim que saíram do restaurante – Isso é horrível

- Isso tudo porque não odeia comida vegetariana.

- O que quer fazer agora?

- Vamos ao shopping? Podemos assistir a algum filme e depois comprar sapatilhas para mim, eu vou ser o cisne negro e as minhas sapatilhas pretas já estão muito desgastadas.

- Eu sou seu pai.

- Han... eu sei disso – ela disse estreitando os olhos.

- Você realmente quer ir ao shopping com um velho?

- O senhor sabe que eu amo a sua companhia, vamos lá.

A relação que Pauline tinha com seu pai era de admirar, ela contava tudo para ele, eram melhores amigos; não se importava de aparecer no shopping ou em locais públicos com seu pai; Pauline tinha o seu pai, e Peter a sua filha. Possy morreu no parto, sabiam que era uma gravidez de alto risco, mas ela quis continuar, queria que a menininha que estava dentro de seu útero visse o mundo, mesmo que ela não estivesse presente; sabia que o mundo não seria um lugar seguro como o útero era, e sabia que aquela menininha se magoaria muitas vezes, mas queria que ela o visse, afinal o mundo não é só feito de tristezas, a menina podia magoar-se, mas também sorriria muitas vezes. A última frase de Possy foi: “A nossa menininha será o arco-íris depois da chuva”, Peter sabia o porquê e tinha certeza de que isso seria verdade.