Capítulo 5

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- Então? – Ela perguntou assim que ele sentou na cadeira de frente à ela.

- Quero me desculpar por ser um tremendo idiota com você.

- Isso eu já sei.

- Desculpe mesmo. Isso é em grande parte culpa do meu pai.

- Seu pai? O que ele tem a ver comigo? – Perguntou nitidamente confusa.

- Ele é o médico que te operou, não nos damos muito bem, eu o odeio na verdade, e saber que teria que ajudar uma pessoa que ele ajudou me deixou... eu não sei definir – Cameron não planejou desabafar, mas quando a viu olhando em seus olhos, sentiu que precisava.

- Ele não aceitou que você fosse bailarino.

- Você lê mentes? – Tentou fazer piada da situação, era assim que ele se safava do assunto.

- O garoto que estava comigo no quarto enfrentou um problema parecido – e de repente ele não queria ouvir, mas não seria rude com ela, não depois do tom de voz que ela usou. – Ele morava com os avós e com a mãe, o pai dele é falecido, o avô não queria que ele fosse bailarino, não era coisa de macho. Ele chegou até a expulsar Logan de casa, ele passou uma semana na minha, nessa semana o avó teve uma parada cardíaca e quando abriu os olhos no hospital quem estava do lado dele era o neto.

- Você quer pizza? – Ele não gostava daquele assunto e mudou o rumo da conversa.

- Se tiver portuguesa sim.

- Já volto – ele demorou um pouco mais que dez minutos, e voltou com dois pratos com três fatias cada.

- Pra quê tudo isso, Dallas?

- Eu tentei subornar o cozinheiro para ele me dar uma caixa, mas ele disse que só podia me dar seis fatias, aproveite, você não vai comer isso de novo tão cedo – falou colocando os pratos em cima da mesa, - vou buscar alguma bebida.

- Já que estamos comendo porcaria, bebemos algo saudável – zombou a ruiva quando o garoto apareceu com dois copos de suco, que ela julgou ser de laranja.

- Exatamente, me sinto menos mal fazendo isso – ele respondeu sentando e empurrando um copo pra ela.

Eles comeram as fatias sempre conversando, Cameron falou até de boca cheia fazendo Pauline dá-lo uma bronca. Quando terminaram de comer o garoto viu que ainda tinham dezesseis minutos, permaneceram sentados, não tinham um assunto fixo, então ele resolveu perguntar o que queria desde quando os viu no quarto:

- Aquele garoto, o Logan, é seu namorado?

- O Logan? Não! Somos só amigos.

- Acho que ele não pensa assim, pelo menos não é como te olha.

- Ele tem uma queda por mim, mas só o vejo como amigo. Além disso, ele é meu partner, seria estranho se acontecesse alguma coisa no nosso relacionamento, ficaríamos incomodados com a companhia um do outro, arrumar um partner de qualidade é difícil hoje em dia – sem saber o porquê ele ficou feliz com a resposta.

Continuaram a conversar sobre coisas banais, só pra não morrer o assunto, mas nenhum dos dois se importava com isso.

- Deveríamos ir – ela avisou

- Ainda temos sete minutos – disse olhando no relógio.

- Eu não acredito que você é um professor de balé.

- Por que não?

- Você é tipo “uuuh” – fez músculos, Cameron gargalhou, muito, ela também ria.

- Cameron?! – Uma voz surpresa falou ao lado da mesa.

- Olá Clhoe – respondeu educado, parando de rir aos poucos; Pauline esperou que ela falasse com ela, mas a morena não fez.

- O que faz com ela? – Atravessou o olhar para a ruiva.

- Estamos nos entendendo.

- Isso é sério? Até ontem você a odiava. E disse que todos os tempos livres ficaria comigo – disse visivelmente irritada.

- Desculpe – soou mais como uma pergunta do que como um pedido. – Não estou em tempo livre, já vamos para sala de fisioterapia – Clhoe revirou os olhos.

- Boa tarde, Clair, como vai? – Sorriu falsa, sabia que o nome dela não era esse – Vou muito bem, obrigada! Nossa você é muito gentil. Desculpe, mas temos que te deixar sozinha, vamos fazer alguns exercícios sabe, com licença – Cameron reprimiu o riso, o tom de voz dela era totalmente sarcástico.

- Clhoe – ela concertou.

- Isso que eu disse, Clair, mas Cameron é sério temos que ir.

- Com licença, Clhoe, até mais – sorriu para ela, levantou e empurrou a cadeira para fora do refeitório, deixando uma morena sozinha e muito irritada.

- Cameron? Isso é sério? – Ela gritou, não obtendo resposta, bufou e saiu dali.

- Clair? – Perguntou quando entraram no elevador.

- O nome dela não é esse?

- Você me ouviu falando com ela, sabe que é Clhoe.

- Desculpe ter falado assim com sua protegida, Dallas, mas ela foi muito mal educada em não falar comigo, eu estava na mesa, não tinha como ela não me ver – defendeu-se.

- Calma ai, vaqueira, eu não estou te repreendendo, e ela não é minha protegida.

- “Disse que todos os tempos livres ficaria comigo” – afinou a voz, Cameron riu fraco.

- Chegamos – ele avisou quando as portas do elevador abriram no andar deles.

- Eu estou certa, ela é sua protegida, mas você não quer admitir, por isso mudou de assunto – Cameron riu alto balançando a cabeça, Pauline foi contagiada e começou a rir também.

- Pensei que se odiassem – Crystal afirmou com uma sobrancelha arqueada e um sorriso no canto dos lábios.

- Estamos nos entendendo – Pauline deu a mesma resposta que Cameron dera alguns segundos atrás.

- Pronta?

- Se eu disser que não, adianta? – Riu.

Assim passou metade da tarde, Pauline fazendo exercícios, sempre que ela precisava de ajuda Cameron corria para ajudá-la, chegou ao ponto de Crystal repreende-lo “A fisioterapeuta aqui sou eu”; a maior parte dos exercícios ela conseguiu fazer sozinha, Cameron a admirava, sempre que ela conseguia fazer algo sozinha ela sorria, e ele sorria junto.

Nenhum deles sabia o porquê de estarem apreciando tanto a companhia um do outro, há poucas horas se odiavam, e agora, eles riem juntos.
Pauline gostava da companhia de Cameron porque ele não lhe olhava com pena, ela beijou o Logan, ele entrou sorrindo, a fez sorrir, mas ela viu nos olhos deles que sentia pena dela.
Cameron gostava da companhia de Pauline porque ela não era superficial, era verdadeira, não se forçava a nada, era uma pessoa incrível, e ele tinha necessidade de permanecer ao lado dela, não sabia o porquê, mas tinha.

O futuro é um caixote de surpresas, elas estão começando a aparecer agora, surpresas boas, e ruins também.

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