O prólogo da maior estupidez da minha vida

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PRÓLOGO DA MAIOR ESTUPIDEZ DA MINHA VIDA

Inacreditável.

Inacreditável me parece ser a única palavra capaz de explicar aquela situação absurda - se é que era possível explicá-la. Era simplesmente inacreditável.

- Não. - respondi ainda atônita com o pedido de meu melhor amigo, se eu ainda podia o chamar assim depois da proposta inexeqüível que ele fizera.

- Eu estou tão feliz quanto você com isso, mas é a única solução. - responde ele com uma calma inacreditável - talvez mais inacreditável do que a situação em si.

- Já pensou em contar pra sua família que terminamos nosso "relacionamento"? - falo entre aspas.

- Você tem certeza que conhece a Daphne? - ele parecia finalmente tomar consciência da situação e, pela primeira vez desde que nos encontramos no Café das Cinco, nosso ponto de encontro favorito, nessa ensolarada tarde de inverno - raridade em Nova Iorque- , perdera a calma. - Se eu contar para ela que terminamos ela vai atravessar o oceano a nado só para fazer nossa reconciliação.

Ele tinha um argumento. Um bom argumento.

Do pouco que conhecera Daphne eu podia afirmar que ela não era uma pessoa que simplesmente aceitava as coisas, não sem questionar. Eu sabia que Daphne era decidida e absolutamente impossível assim que pusera os olhos nela - e minha leitura corporal nunca me engana.

Porém, não era tão simples. Uma coisa era fingir ser a namorada de Colin por algumas horas no Dia de Ações de Graça para não desapontar a irmã favorita. Outra coisa muito diferente era mentir por dias e ainda por cima para a família inteira.

- E se você contasse a verdade? - sugeri antes de tomar mais um gole do meu café. Eu conheço Colin a tempo suficiente para saber que essa jamais seria uma opção. Mesmo que eu pedisse. Mesmo que eu implorasse. Mesmo que fosse a única opção.

O que eu realmente gostaria de entender era o porquê essa não poderia ser uma opção.

Dizer que o fatídico evento com Marina era a razão podia enganar Colin, mas não me enganava. No fundo, talvez nem ele mesmo soubesse a resposta. Orgulho? Arrependimento? Vergonha? Todas opções eram extremamente válidas. E, ao mesmo tempo, extremamente rasas.

- Eu vou fingir que não escutei isso pelo bem da nossa amizade. - ele se restringe a responder agora fechando a cara que antes se esforçava para parecer simpática.

- Você não deveria ter me feito esse pedido indecente se está tão preocupado com o bem da nossa amizade. - eu estava irritada como a muito não ficava.

- Isso é diferente.

- Acho que você já está bem grandinho pra lidar com um pé na bunda.

- A questão não é essa. E eu não levei um pé na bunda. Foi eu quem terminou, e você sabe muito bem disso.

- Então me diga qual é o problema.

- Eu não estou tentando evitar encarar o fim do meu noivado com Marina, o golpe da barriga ou qualquer que seja o problema relacionado a essa história. É tudo página virada.

- Então a questão é... - eu o incentivei.

- A questão é que não é assim que funciona para minha mãe e meus irmãos. - agora era ele que fazia uma pausa para tomar um gole de café - Para eles Nova Iorque sempre vai ser minha maneira de não lidar com a situação, minha mãe nunca vai aceitar que eu segui em frente enquanto não voltar a morar em Londres, o que está fora dos meus planos pelos próximos 20 anos mais ou menos.

- E onde eu entro na história? - eu já estava impaciente.

- Quando eu disse para minha família que estava saindo com uma pessoa e que talvez as coisas ficassem sérias... bom, você tinha que ver o felicidade deles. Pela primeira vez em anos eu não era Colin, O Irresponsável. Eu era apenas o Colin. E eu finalmente tive paz.

- Até o feriado de Ações de Graça.

- Até o feria do de Ações de Graça. - ele concordou - Quando minha mãe contou pra Daphne que eu tinha uma namorada nova ela surtou, no bom sentido. - ele se corrige me olhando como se pedisse desculpas - E o resto você sabe.

- Você não me contou nenhuma novidade, já escutei essa versão mais vezes do que gostaria.

- Então porque ainda pergunta? - fala ele com o maior tom de inocência, tomando seu café logo em seguida.

- Você sabe que eu não acredito nessa história, né?

- Você não precisa acreditar.

- Colin...

- Por favor, Kate - meu maior medo estava se tornado realidade: Colin Bridgerton estava implorando. E não havia uma maneira humanamente possível de dizer não aqueles olhos verdes como duas pedras puras de esmeraldas.

- Isso é absurdo, quer dizer... mentir pra sua mãe, irmãos, irmãs, tios, avôs? Você tem noção que eu vou estar nas fotos do casamento da sua irmã para sempre? Com muita ênfase no "sempre".

- Como a melhor madrinha de casamento que alguém poderia a ter. E você esqueceu dos amigos de infância na lista. - completou ele debochado.

- Se você está tentando me convencer, essa não ajudou.

- Desculpa, não pude resistir.

- Eu te odeio tanto Colin Bridgerton. 

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