Acordei cedo, já tinha feito minhas malas a uma duas semanas e antes que pensem que sou uma filha ingrata por não querer viajar com meus pais, primeiro devem saber que já fui àquela casa de praia umas dez vezes, não preciso de uma décima primeira. Além disso, um casal precisa passar um momento a sós, o que não aconteceria se eu estivesse ali.
Depois de me arrumar, fui para a cozinha, meu pai beberiscava o café vendo algumas notícias no celular, minha mãe andava de um lado para o outro, organizando os utensílios de cozinha no armário. "Temos que deixar a casa limpa antes de viajar", ela dizia, e aí daquele que não entrasse na faxina, receberíamos um discurso que não temos dinheiro para empregada, logo, nós mesmos teríamos de limpar tudo. Sua obsessão por limpeza também nos impedira de ter um cachorro, uma pena pois sempre quis ter um grande como um husky ou um pastor alemão.
- Você vai ir assim? - perguntou minha mãe assim que me viu com uma blusa básica branca, com um casado por cima, uma calça jeans escura, combinada com um tênis velho e um rabo de cavalo.
- Algum problema? - respondi.
- Sua avó não vai gostar de te ver com essas roupas.
- Cecília, deixe-a. Ela é como o pai, prática. - piscou para mim.
- Hum... Só estava comentando. - Continuou o que estava fazendo, sorri para meu pai pela minha pequena vitória.
Sentei-me para comer torradas e beber café. Assim que acabei pedi para papai me levar a rodoviária, despedi da mamã e saímos.
Na porta do ônibus, papai ajudou guardar minhas malas, me deu um beijo na testa e disse:
- Tente não ficar o verão inteiro na casa da vovó, saia, faça amigos... e mande um beijo para ela. - Assenti com a cabeça e embarquei.
Levei alguns livros para me distrair durante o caminho, tirei um da mochila e comecei a ler. Era sobre um vampiro que se apaixona por uma humana, também haviam lobisomens e outros seres fantasiosos. Sempre imaginei como seria se estivesse em um romance de fantasia, provavelmente morreria nos primeiros minutos, graças a minha falta de músculos.
Fechei o livro e decidi escutar um pouco de música, a garota do meu lado não se importaria se eu não usasse fones de ouvido, já que estava dormindo durante todo o trajeto, mas coloquei mesmo assim.
O ônibus finalmente chegou à rodoviária depois de cinco horas de viajem e, de cara, dava para perceber que era uma cidade pequena, visto que não aviam outros veículos chegando. Apenas eu desci, olhei em volta meio perdida segurando minha mala com uma mão, a mochila no ombro e o endereço da vovó na outra mão. Quase pulei de susto quando uma mão tocou meu ombro. Me virei e lá estava um senhor com um bigode grisalho e cabelos brancos por baixo de um chapéu de cowboi, vestia uma jaqueta e bota de couro, jeans velho e um distintivo.
- Natália? - disse o senhor, o chapéu fazia uma sombra cobrindo metade de seu rosto, impedindo-me de ver seus olhos.
- Sou eu - Respondi.
- Que bom! - Abriu um sorriso com dentes desgastados pelo tempo. - Sua vó me pediu para buscá-la, vamos? - Sem questionar, o segui até chegarmos a uma carro, o qual não sei dizer o modelo, mas era quadrado, azul escuro, alguns lugares sem tinta ou desbotados. Já dentro do veículo, tentei puxar conversa.
- O senhor não disse seu nome. - Falei um pouco alto por causa do barulho que o carro fazia.
- Emerson! Muito prazer. - Respondeu-me mais alto ainda.
- O prazer é meu. - Não apertei sua mão, pois elas estavam no volante. - O senhor conhece minha avó?
- É claro! Como antigo xerife conheço quase todo mundo. - Seu tom era animado, mesmo com voz rouca.
- Legal... - não sei mais o que dizer. Olhei pela janela para observar a cidade, casas simples, lojas pequenas e uma única escola durante todo caminho. Lá longe, avistei o topo de algumas árvores. - O que é aquilo?
- Uma pequena floresta, a parte que as indústrias não destruíram. No passado, lutei para preservar essas árvores. - Achei interessante a história, mas não disse nada. - Veja, chegamos!
A casa de vovó não era muito diferente do que esperava, típica casa de cidade pequena, provavelmente móveis antigos e papel de parede florido. Emerson me ajudou com as malas e batemos na porta. Vovó abriu logo em seguida, me abraços do forte e nos convidou para entrar, assim o fizemos. Bingo! Por dentro a casa era exatamente como imaginei. Vovó vestia roupas típicas de avós, com chinelos confortáveis.
- Olha como você está bonita! - Disse vovó. - Seu cabelo lembra o meu quando eu era jovem! - Tenho cabelo castanho escuro, sem muita graça como os loiros e ruivos, lisos, sem vida. Puxei-os da mamãe, mas vovó parecia admira-los, talvez seja a saudade do seu tempo de moça.
- Obrigada. - Respondi.
- Venha, querida, vou te levar ao seu quarto. - Peguei minhas coisas e a segui. Ao abrir a porta de madeira escura, me surpreendi, não era feio, simples, mas não feio. Cheirava bem, talvez limpo recentemente, senti meu coração aquecido ao imaginar minha avó me esperando. No quarto havia uma cama, uma mesa e o guarda roupa.
- Obrigada, vó. - Sorri para ela.
- Faço tudo para minha netinha. Fique a vontade, quando terminar de desfazer as malas farei um almoço delicioso! - Saiu, fechando a porta.
Guardei minhas roupas, coloquei os livros e materiais de desenho na escrivaninha e joguei-me na cama, uma soneca não era nada mal, porém minha vó me esperava.
Sai do quarto para ir ao seu encontro.
Escutei risadas conforme me aproximava e quando cheguei na sala vi Emerson beijando minha avó. Por um instante senti como se estivesse invadindo a cena, então quis voltar ao quarto e fingir que não sai, no entanto esperei o beijo acabar e a chamei.
- Vovó? - Ambos olharam para mim.
- Benzinho, esqueci de te contar, Emerson é meu namorado. Ele almoçará conosco.
- Ah... Felicidades. - Tentei não demonstrar minha cara de desaprovação, não porque não gostei dele ou coisa assim, mas porque fugi de segurar vela para os meus pais e agora terei que segurar vela para minha avó e seu namorado. Maravilha!
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O Imprinting de um lobo
Fanfiction(Sim, isso é uma fanfic de Crepúsculo). Natália decide passar o verão com sua avó, ao invés de viajar com seus pais para o mesmo lugar, assim como fizera nos anos anteriores, todavia, não imaginava que poderia encontrar, em uma cidade pequena como a...