Retorno

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  Conhecendo os meninos como eu conheço, eu esperava encontrar um pouco de algazarra quando saímos de dentro da tenda. Já que eles lêem a mente uns dos outros, já sabiam o que havia acontecido ali, pensei. Porém, o cenário era diferente.
  Nenhum deles estava ali. Nem Nicolas, nem Lucas. Ninguém. Jack também não estava conseguindo ler o pensamento deles. Fiquei aflita, imaginando os piores cenários possíveis. Torci para que fosse apenas uma piada, uma brincadeira de se esconder, afinal estávamos numa festa, entretanto, não era isso que meus instintos diziam.
  — Vou procurá-los na floresta — Jack falou.
  — Eu vou junto — respondi.
  — É perigoso, e se ele estiver lá?
  — É mais perigoso do que me deixar aqui sozinha? — Ele refletiu por alguns segundos.
  — Tudo bem, mas não saia de perto de mim.
  — O.K. — seguimos em direção à mata.
  Estava escuro, a copa das árvores escondia a luz da lua e estávamos longe da iluminação da cidade. Meus olhos humanos pouco enxergavam, mal via um palmo a minha frente. Imaginei como era a visão de Jack, lobos possuem ótimo visão noturna.
  Passaram-se vinte minutos sem sinal de ninguém, meus olhos se acostumaram com a escuridão. Vimos uma forma humana um pouco a frente, ao aproximarmos, descobrimos que era Marcos.
  — Onde estão os outros — perguntou Jack. O vampiro se virou em um susto.
  — O que estão fazendo aqui — disse ele.
  — Vocês sumiram — respondi.
  — O que está acontecendo — Jack estava inquieto. Marcos pareceu refletir um pouco antes de falar.
  — Talvez Pedro esteja aqui — finalmente falou, em um tom de voz baixo, olhando desconfiado para os lados. Tremi um pouco ao escutar esse nome, Jack e eu estávamos de mãos dadas, senti seus dedos pressionarem minha mão, estava tenso. Eu o compreendi — Acho melhor vocês voltarem para a cidade.
  Parte de mim queria correr, como uma presa foge do predador. Mas outra parte dizia que nada aconteceria de ruim se Jack estivesse comigo. Além disso, eu já o vira lutar, mesmo não sabendo que o lobisomem era ele. Sabia de sua força. Jack refletiu um pouco para depois dizer:
  — Certo, é menos provável que ele faça algo em público.
  — Até porque não deixaríamos — Jamille surgiu das sombras. — Colocaria nossa existência em risco. — Fitei-a com um pouco de surpresa, desde quando estava ali? — Ouvi seus pensamentos, você pensa alto Natália. Diferente de Pedro, não ouço nada, só sinto que não possui boas intenções. — De repente surgiu uma expressão de espanto no rosto da vampira.
  — Jamille, está tudo bem? — perguntei.
  — Não acredito — balbuciou — Ele está aqui.
  — Quem? Pedro? — Jack perguntou. Ela continuava olhando para o nada.
  — Marcos — ela segurou o braço dele — precisamos buscar reforços.
  — Certo — ele respondeu.
  — Espera, o que está acontecendo? — interroguei.
  — Pedro está acompanhado — explicou Jamille — Não sabemos seu nome ou seus objetivos, apenas sabemos as coisas que ele já fez.
  — Ele sempre faz uma grande bagunça — Marcos continuou — Muitas pessoas são feridas e até mortas.
  — Mas isso chamaria a atenção de policiais e civis. — falei.
  — É aí que entra nosso trabalho, fazendo parecer que foi apenas um desastre natural ou um serial killer  enfurecido. Temos alguns contatos importantes. — A partir da explicação de Marcos, deduzi que possivelmente haviam vampiros ocupando cargos importante na sociedade, protegendo suas identidades, trabalhando em conjunto.
  — Estamos indo, tomem cuidado — Jamille se despediu e saiu logo em seguida, acompanhada de Marcos.
  Instantâneamente iniciamos nossa caminhada de volta a praça, porém fomos interrompidos por um estranho ruído. Por extinto, agarrei o braço de Jack, ele olhou atentamente a copa das árvores. O barulho veio de cima. Senti sua pele ficar mais quente, o som do meu coração acelerado invadiu minha cabeça. Medo.
  — Natália, não saia de perto de mim — essa era minha ideia desde quando entramos naquela floresta. Ele tirou sua camisa e entregou-a para mim, amarrei as mangas na cintura — Agora — virou-se para mim — não precisa se assustar.
  A mesma figura que apareceu meses atrás na casa de meus pais estava na minha frente. Vi Jack se transformar em sua forma de lobisomem, ele cresceu até uns três metros de altura, seu corpo tornou-se peludo e suas unhas viraram garras.
  Dois seres saíram dos galhos altos das árvores. Reconheci um deles imediatamente.
  — Sentiram saudades? — disse Pedro.
  — Nem um pouco — rosnou Jack.
  — São esses aí que você falou? — o outro falou. Ele deve ser quem Jamille havia mensionado. Possuía longos cabelos negros, parecia mais pálido que um vampiro normal, vestindo roupas de couro preta. Sua voz soava áspera.
  — Exatamente. — Pedro estava diferente da última vez que o vira, o cabelo um pouco mais comprido e machas escuras embaixo dos olhos. — Você fica com o lobo.
   — O.k. — Os dois moveram-se tão rapidamente que mal pude ver seus vultos. Quando percebi, Pedro estava atrás de mim, me virei instintivamente e então senti seus dedos ao redor do meu pescoço. Fui jogada em uma árvore com força, minhas costas bateu no tronco de modo que pensei que a árvore pudesse cair sobre mim.
  Por sorte não bati a cabeça, então procurei por Jack. Ele tentava acertar golpes no vampiro, mas não o atingia. Pedro segurou meu pescoço novamente e ergueu-me do chão. Levei minhas mão ao seu braço na tentativa de tirá-lo dali. Inútil, não possuía força, o ar me faltava.
  — Onde está seu herói agora? — A pressão em minha garganta me impedia de falar. Ouvi algo parecido com o choro de um cachorro, Jack levou um soco no abdômen. Me debati em vão, não ia conseguir escapar e, mesmo se conseguisse, não conseguiria ajudar Jack. Senti as lágrimas chegarem em meu olhos, não conseguia respirar.
  De repente eu não estava mais nas mãos do vampiro, mas sim, ambos estavam caídos no chão e uma terceira pessoa se encontrava também jogada.
  — Poxa, Erick! — Pedro reclamou. Então esse era o nome dele. Levei a mão ao pescoço finalmente livre, imaginando o quão machucado ele estaria. Jack se aproximou ofegante e com os dentes de fora, me arrastei para perto dele. — Pensei que você faria conta!
  — Não se preocupe — Levantou-se, depois tirou a jaqueta preta, embaixo dela havia uma regata da mesma cor. O casaco não mostrava, mas Erick tinha braços bem fortes. — Foi parecido com o pai dele.

 — Foi parecido com o pai dele

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O Imprinting de um loboOnde histórias criam vida. Descubra agora