Lobos, vampiro e piscina

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  Jack ficou quieto durante o caminho para casa da vovó, vi preocupação em seu olhar. O que será que havia de diferente nesse vampiro para o outro que o deixara tão sério?
  Quando chegamos, Emerson estava lá, vovó ofereceu que Jack tomasse banho ali pois estava com a água do lago no corpo. E adivinhe, onde vovó disse para ele tomar banho? No banheiro do meu quarto. Decidi não protestar, visto que ele ainda estava atordoado pelo ocorrido.
  Levei uma toalha a ele como vovó havia pedido. Saiu do banheiro de bermuda e secando os cabelos, o que fez a manga da camiseta mostrasse a tatuagem no braço. Foi então que lembrei que vi o mesmo desenho nos garotos lobos.
  — O que isso significa? — perguntei apontando para seu braço.
  — É pelo espírito de lobo, são marcados aqueles que possuem o espírito de um lobo e o recebe quando o lobo morre. É quando nos transformamos.
  — Soa poético — ele deu um sorriso tênue, parece que um pouco da sua tensão fora embora.
  — Sim. — Nos encaramos por alguns segundos, aqueles olhos sempre prendiam minha atenção. — Como está seu braço?
  — Está melhor, quer ver? — Fez que sim com a cabeça. Estendi meu braço para frente, ele levantou a manga da blusa vagarosamente até o cotovelo. O deslisar de sua mão em minha pele provocou-me um arrepio na espinha.
  — Em breve não haverá cicatriz — assenti. Depois de falar isso, Jack parecia não mais olhar para o machucado, mas sim no encontro de sua mão com meu braço, o acariciou com o polegar. Em seguida, direcionou seus olhos aos meus. Havia pouca distância entre nós, meu coração acelerou. Não consegui fugir dos seus olhos.
  Voltei à realidade quando vovó bateu na porta para avisar que o almoço estava pronto. Conversamos um pouco depois de comer, ver o casal de idosos juntos realmente aquecia o coração. Chamei Jack discretamente, antes de ele e Emerson irem embora, apesar de aposentado, o ex xerife ainda resolvia alguns assuntos, me pergunto se ele sabe da existência dos vampiros.
  — Você está bem? — perguntei ao lobo.
  — Está preocupada comigo?
  — Parece atordoado desde que encontramos aquele vampiro.
  — São meus instintos. Não dizem coisas boas — desviou o olhar pensativo.
  — Ei, vai ficar tudo bem! — Peguei em sua mão. Ele me olhou e sorriu, exibindo sua covinhas.
  — Eu devia ficar preocupado mais vezes, para você me tratar bem — levantei as sobrancelhas.
  — Parece que está melhor agora, já posso voltar ao estado normal — rimos. Depois disso eles foram embora.
  Ajudei vovó com as louças e depois subi para o quarto. Me esparramado na cama, sentindo chegar o cansaço daquela manhã agitada. Fechei os olhos para lembrar a sensação de correr na floresta, era um sentimento sublime. Não sei quanto tempo dormi, nas já era noite quando acordei, estava precisando daquele cochilo.
  A casa estava silenciosa, um bilhete na geladeira avisava que vovó fora no mercado. Sem muito o que fazer, tomei um banho. Quando saí do banheiro, vi que Jéssica começou a me seguir nas redes sociais, a segui de volta e aproveitei para olhar suas fotos, eram todas bem elaboradas.
  Lembrei de Jack quando olhei o quadro na parede. Quando nos conhecemos era bem irritante, mas agora me vejo com certos sentimentos, os quais tento lutar contra. Não quero sentir sem ser correspondida, já passei por essa experiência e não gostaria de passar novamente. Como saberei se Jack me vê diferente ou se sou apenas mais uma de sua lista? Disse a mim mesma, Você não gosta dele, não desse jeito.
 
  A semana passou voando, já era sexta-feira e estávamos esperando o professor chegar. Jack estava de frente à minha mesa, Nicolas, Lucas e Jéssica sentaram-se de lado para conversar.
  — Como sabem, esse final de semana é meu aniversário — disse a garota de cabelos loiros — Estão todos convidados, não esqueçam de levar roupa de banho! Você também, Natália!
  — É claro — respondi meio surpresa.
  — É bom ter bastante comida — brincou Nicolas.
  — Você só pensa em comer — retrucou Jéssica — É por isso que o Jack tem o tanquinho mais bonito — Jogou o cabelo para trás — Amanhã você vai ver, Natália.
  Não disse que já tinha visto, mais de um vez, inclusive. Apenas apertei os lábios e concordei com a cabeça.
  — Isso não é nada, Natália até já viu Jack pelado — comentou Nicolas. Notei que outras pessoas olharam para nós, em seguida senti o sangue subindo para minhas bochechas, deixando meu rosto mais vermelho que um pimentão. Tentei me encolher ao máximo na cadeira.
  — É verdade? — Perguntou Jéssica curiosa. Ergui os olhos para Jack que carregava um sorriso no rosto.
  — Foi um acidente — minha voz ficou mais baixa.
  — Entendi — Jéssica virou para frente, talvez tenha se arrependido de ter me chamado para sua festa, mas não disse nada.
  O barulho da classe se encerrou quando o professor entrou na sala, era a última aula e demorou para acabar. Depois de finalmente o sinal tocar, fui em direção à bicicleta, que era o meio no qual vinha à escola e voltava para a casa da vovó. No meio do caminho, encontrei Pedro, vestindo o moletom preto mesmo em um dia de sol como aquele.
  — Olá, garota dos lobos!
  — O que você quer?
  — Nada. Já disse que não estou buscando sangue humano por enquanto. Diferente daquele vampiro que te atacou, eu sei me controlar.
  — Como você sabe disso?
  — Não é de seu interesse. Mas posso dizer que eu o conhecia, sempre lhe disse que sua técnica de caça um dia iria falhar — Ele fala demais, não sei porquê, mas esse vampiro não me faz sentir o mesmo medo que o outro, apenas fico irritada com sua presença.
  — Então sabe o que Jack fez com ele?
  — É claro que sim.
  — E é por isso que se aproxima de mim apenas quando ele não está por perto?
  — O que? — Seu expressão confiante mudou para surpreso — Não é isso!
  — Acho que tem medo dele —  Vi a raiva chegar em seus olhos.
  — Escute, humana! Não ouse a falar comigo dessa maneira — Ele deu um passo, não recuei. Pelo canto do olho, vi Jack vindo.
  — Cuidado, ele está chegando — Observei o vampiro procurar o lobo com os olhos.
  — Isso não vai ficar assim! — E então saiu.
  — Vamos? — disse Jack quando se aproximou.
  — Vamos — falei. Em seguida, pedalamos para a casa da vovó, assim como nos outros dias quando saímos da escola — Você demorou hoje — disse-lhe.
  — Estava falando com uma garota — Aquilo doeu, mais do que devia. Tentei me convencer que não gostava dele e que ele tinha o direito de sair com quem ele quisesse, mas a sensação não foi embora.
  — Entendi — minha voz saiu sem entusiasmo, o resto do percurso foi silencioso.
 

O Imprinting de um loboOnde histórias criam vida. Descubra agora