O Imprinting do lobo

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  Passei a noite treinando, era a última de lua cheia, meus poderes estariam mais fortes. A transformação parcial não era tão difícil como diziam, nem tão fácil. De certa forma, só conseguira pois herdei essa habilidade de meu pai, sentia falta dos poucos momentos que tive com ele. Além da força dele, herdei também sua liderança, me tornando o líder da alcatéia.
  Falando nos garotos, tínhamos combinado de fazer uma inspeção na floresta naquela tarde e depois, como de costume, sairíamos para comer qualquer coisa industrializada e que não fizesse bem a saúde. Não estava com muita disposição por causa da noite anterior, nem queria sair da cama, mas o fiz por uma força maior: Emerson batendo na porta do meu quarto.
  — Garoto, estou indo buscar a neta de Gertrudes na rodoviária. Já tirei o café da manhã por que já é quase meio dia, volto depois com o almoço. — Tentei responder, mas palavras inaudíveis saíram de minha boca. Emerson e meu pai eram muito amigos antes dele se partir. O ex xerife cuida de mim desde então e sabe da existência dos vampiros assim como sabe que sou um lobo, ele age como um mediador entre os humanos e os outros seres para continuar em segredo a existência destes.
  Escutei seus passos se afastando da porta e me levantei finalmente. No espelho do banheiro, vi que meu cabelo estava horrível. Ter cachos não é uma tarefa fácil, quase nunca estavam como eu queria, mas eu gostava deles, pois lembrava minha mãe. Dizem que pareço com ela, mas os olhos são idênticos aos de meu pai, amarelo alaranjado, bem como de um lobo.
  Liguei o chuveiro e entrei embaixo da água. O lado ruim de ter o corpo quente, é que os banhos são sempre gelados. Um tempo depois já estava de banho tomado e vestindo uma bermuda e uma camiseta. Emerson me enviou uma mensagem que iria almoçar na casa de Gertrudes, perguntou se eu queria ir, mas disse que iria pedir um lanche. Não que eu não goste da comida da namorada de Emerson, pelo contrário, só estava com preguiça mesmo de me deslocar de bicicleta até o outro lado da cidade.
  Algumas horas se passaram, Emerson já tinha chego e ido embora novamente. Sempre ocupado tentando encobrir algum caso que envolva vampiros, afinal ele ainda tinha autoridade, mesmo depois de aposentado. Enfim, ele impedia que descobrissem a existência desses sanguessugas.
  Estava saindo para encontrar os meninos quando ouvi de longe um ruído que parecia um lamentar, um choro. Se meus ouvidos fossem humanos, eu não teria percebido o som de um animalzinho pedindo ajuda. Busquei de onde saía aquele som.
  Não andei muito para encontrar um cãozinho deitado numa caixa de papelão, não parecia adulto, mas já era um pouco grande para ser filhote. O pelo amarelo estava sujo, pobre animal, fora abandonado. Me aproximei, pensando se ele teria medo da minha parte lobo.
  — Ei, amigo! — ele abanou o rabo peludo quando me viu,  — Venha aqui, não vou te machucar — agachei-me e estendi a mão, chamando-o para fora daquele beco encardido. Com passos tímidos e a cabeça baixa, caminhou em minha direção. Fiz um carinho entre as orelhas, ele parece ter gostado, retribuiu com lambidas nos meu dedos. Segundos depois ele já estava pulando e brincando, decidi levá-lo para casa, depois só restaria convencer Emerson a ficarmos com ele.
  Confesso que encontrar o cãozinho melhorou um pouco meu humor. Fazia um tempo que, o fato de não ter tido Imprinting por alguém, me preocupava. Eu sei que devo ser paciente, mas tinha medo de isso nunca acontecer. Lembrei- me de meu pai, minha mãe não era seu Imprinting. O grande instinto protetor e amor incondicional vieram apenas quando eu nasci. Eu era o Imprinting dele e ele morreu para proteger o filho. Afastei os pensamentos tristes e levei o filhote para casa.
  Um tempo depois, eu já estava com minha alcatéia, correndo em forma de lobo pela floresta, buscando algum sinal de vampiro. Não encontramos nada, então decidimos comer alguma coisa. Combinamos que eu iria comprar refrigerantes no mercado porque era mais barato e o restante buscariam lanches. Depois voltaríamos para a floresta para lanchar perto do lago.
  Chegando lá, avistei dona Gertrudes pegando um produto de uma prateleira. Fui conversar com ela.
  — Jack, por que não foi almoçar na minha casa? Não gosta mais da minha comida? — disse ela em tom de brincadeira.
  — Muito pelo contrário, a senhora é a melhor cozinheira dessa cidade! — respondi.
  — Está dizendo isso só para me agradar!
  — Claro que não! O melhor bolo de cenoura que eu já comi foi o da senhora.
  — Me convenceu — riu — Está ficando bonito rapaz, deve conquistar o coração das garotas — sorri um pouco tímido.
  — Alguma novidade?
  — Minha neta veio ficar uns dias com a avó.
  — Emerson comentou comigo.
  — Você vai adorar ela, ela é uma graça! — no mesmo instante, uma garota de cabelos negros compridos e olhos castanhos se aproximou. Ela segurava um quadro de... Um lobo? Intrigante. Ela falou alguma coisa para dona Gertrudes que não entendi direito. — Minha neta! Estava falando de você para o Jack. Jack, essa é minha neta, Natália.
  Nossos olhos se cruzaram, tive uma sensação estranha na barriga. Por algum motivo, senti que precisava protegê-la, ficar perto dela, como se minha vida dependesse da sua. Sorri para a garota, não lembro bem o que falei depois, minha cabeça não estava neste planeta. Era ela.
   Depois de me despedir de avó e neta, segui para o encontro com meus amigos, levando dois refris em uma sacola. Vi Nicolas primeiro, depois Lucas, Arthur e Matheus. Queria contar-lhes o que acabara de vivenciar, mas não encontrei as palavras. Ainda estava atônito. Sorte que lemos os pensamentos uns dos outros.
  — É sério? — foi Lucas que falou primeiro. Concordei com a cabeça.
  — Finalmente! — Nicolas se aproximou e levantou uma de minhas mãos acima da minha cabeça — Jack teve um Imprinting! — fizeram algazarra ao comemorar o acontecimento. Eu era o primeiro de nós a ter um Imprinting. Natalia era meu Imprinting.

 Natalia era meu Imprinting

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O Imprinting de um loboOnde histórias criam vida. Descubra agora