1. Uma participação activa e consciente
36. A celebração da Missa, enquanto acção de Cristo e da Igreja, constitui o centro de toda a vida cristã para a Igreja, tanto universal como particular, e para cada um dos fiéis que, «de diverso modo afecta, conforme a diversidade de ordens, de tarefas e da participação efectiva . Assim, o povo cristão, "raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo que Deus adquiriu para si", manifesta a sua ordem coerente e hierárquica». «O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora difiram essencialmente e não somente de grau, ordenam-se, contudo, um ao outro; com efeito, um e outro, cada qual a seu modo, participam do único sacerdócio de Cristo».
37. Todos os fiéis, libertados dos seus pecados e incorporados na Igreja pelo Baptismo, estão habilitados para o culto da religião cristã pelo carácter que lhes foi impresso, a fim de que, em virtude do seu sacerdócio real , perseverando na oração e louvando a Deus , se ofereçam a si próprios como vítima viva, santa, agradável a Deus e provada em todas as suas acções , dêem por toda a parte testemunho de Cristo e dêem a quem o pedir razão da esperança da vida eterna que os habita . Portanto, também a participação dos fiéis leigos na celebração da Eucaristia e dos outros ritos da Igreja não pode reduzir-se a uma mera presença, para mais passiva, mas deve considerar-se um exercício verdadeiro da fé e da dignidade baptismal.
38. A doutrina constante da Igreja sobre a natureza não apenas convivial, mas também e sobretudo sacrificial da Eucaristia, deve ser justamente considerada como uma das principais chaves para a plena participação de todos os fiéis num tão grande sacramento . «Despojado do seu valor sacrificial, o mistério será vivido como se não ultrapassasse o sentido e o valor de um qualquer encontro convivial e fraterno».
39. Para promover e realçar a participação activa, a recente reforma dos livros litúrgicos favoreceu, segundo as intenções do Concílio, as aclamações do povo, os diálogos, a salmodia, as antífonas, os cantos, bem como as acções ou gestos e as atitudes do corpo, e esforçou-se por fazer observar em devido tempo o silêncio sagrado, prevendo nas rubricas também as partes relativas aos fiéis . Além disso, dá-se um amplo espaço a uma apropriada liberdade de adaptação fundada no princípio de que cada celebração corresponda às necessidades, capacidade, preparação do espírito e índole dos participantes, segundo as faculdades estabelecidas pelas normas litúrgicas. Na escolha dos cantos, das melodias, das orações e das leituras bíblicas, na homilia a fazer, na composição da oração dos fiéis, nas monições a proferir e no modo de ornamentar a igreja de acordo com os vários tempos, existe uma ampla possibilidade de introduzir em cada celebração uma certa variedade que contribua para tornar ainda mais evidente a riqueza da tradição litúrgica e para conferir cuidadosamente uma conotação particular à celebração, tendo em conta as exigências pastorais, de modo a favorecer a interioridade dos participantes. No entanto, é bom recordar que a eficácia das acções litúrgicas não reside na modificação frequente dos ritos, mas no aprofundamento da Palavra de Deus e do mistério celebrado.
40. Todavia, embora a celebração da Liturgia possua indubitavelmente esta nota da actividade de todos os fiéis, daí não se segue, como por dedução lógica, que todos devam materialmente realizar algo para além dos gestos previstos e das atitudes do corpo, como se cada um devesse necessariamente realizar uma tarefa litúrgica específica. Esforce-se a formação catequética por corrigir cuidadosamente as noções e hábitos superficiais que nesta matéria se têm difundido aqui e ali nos últimos anos e faça despertar sempre nos fiéis um renovado sentido de grande admiração perante a profundidade do mistério de fé que é a Eucaristia, em cuja celebração a Igreja continuamente passa «do velho ao novo» . Com efeito, na celebração da Eucaristia, como, aliás, em toda a vida cristã que dela extrai a sua força e para ela tende, a Igreja, como o Apóstolo São Tomé, prostra-se em adoração diante do Senhor crucificado, morto, sepultado e ressuscitado «na plenitude do seu esplendor divino, e incessantemente exclama: "Meu Senhor e meu Deus!"».
41. Para suscitar, promover e alimentar este sentido interior da participação litúrgica são particularmente úteis a celebração assídua e difundida da Liturgia das Horas, o uso dos sacramentais e os exercícios da piedade popular cristã. Este tipo de exercícios «que, embora em rigor de direito, não pertençam à Sagrada Liturgia, revestem-se, contudo, de especial importância e dignidade, devendo ser conservados pelo estreito vínculo que têm com o ordenamento litúrgico, sobretudo quando são louvados e aprovados pelo próprio Magistério , como é especialmente o caso da oração do terço. Ademais e como estas práticas de piedade guiam o povo cristão para a participação nos sacramentos e de modo particular na Eucaristia, «e bem assim para a meditação dos mistérios da nossa redenção e para a imitação dos exemplos insignes dos santos no céu, então, elas tornam-nos participantes do culto litúrgico não sem fruto de salvação» .
42. É necessário compreender que a Igreja não se reúne por vontade humana, mas é convocada por Deus no Espírito Santo, e responde pela fé à sua vocação gratuita (de facto, o termo ekklesía remete para klesis, que significa «chamamento»). Nem o Sacrifício Eucarístico deve ser considerado como «concelebração» em sentido unívoco do Sacerdote juntamente com o povo presente . Pelo contrário, a Eucaristia celebrada pelos Sacerdotes é um dom «que supera radicalmente o poder da assembleia [...]. A comunidade que se reúne para a celebração da Eucaristia necessita absolutamente de um Sacerdote ordenado que a ela presida para poder ser verdadeiramente assembleia eucarística. Por outro lado, a comunidade não está em condições de, por si só, se dar a si própria o ministro ordenado» . É absolutamente necessária a vontade comum de evitar toda a ambiguidade nesta matéria e remediar as dificuldades surgidas nos últimos anos. Portanto, usem-se com todo o cuidado locuções como «comunidade celebrante» ou «assembleia celebrante» ou, noutras línguas modernas, «celebrating assembly», «asamblea celebrante», «assemblée célébrante» e outras semelhantes.
2. As funções dos fiéis leigos na celebração da Missa
43. É justo e louvável que, para o bem da comunidade e de toda a Igreja de Deus, alguns fiéis leigos, segundo a tradição, desempenhem algumas tarefas relacionadas com a celebração da Sagrada Liturgia . Convém que sejam várias as pessoas a distribuir entre si essas tarefas ou a desempenhar os diversos ofícios ou as várias partes do mesmo ofício .
44. Além dos ministérios instituídos do acólito e do leitor , entre os referidos ofícios particulares, há os do acólito e o do leitor por encargo temporário, aos quais se acrescentam outras funções descritas no Missal Romano , e ainda as tarefas de preparar as hóstias, de lavar os panos de linho e semelhantes. Todos, «tanto ministros ordenados como fiéis leigos, exercendo o seu ministério ou ofício, realizem tudo e só o que lhes compete» e, tanto na própria celebração litúrgica como na sua preparação, façam com que a Liturgia da Igreja se realize com dignidade e decoro.
45. Deve evitar-se o risco de obscurecer a complementaridade entre a acção dos clérigos e a dos leigos, submetendo o papel dos leigos a uma espécie, como se costuma dizer, de «clericalização», ao mesmo tempo que os ministros sagrados assumem indevidamente tarefas que são próprias da vida e da acção dos fiéis leigos.
46. Convém que o fiel leigo chamado a prestar a sua ajuda nas celebrações litúrgicas seja devidamente preparado e se distinga pela vida cristã, pela fé, pela conduta e pela fidelidade ao Magistério da Igreja. É bom que ele receba uma formação litúrgica adequada, de acordo com a sua idade, condição, género de vida e cultura religiosa . Não se escolha ninguém cuja designação possa causar surpresa entre os fiéis .
47. É altamente louvável que se mantenha o benemérito costume de estarem presentes crianças ou jovens, habitualmente chamados «ministrantes» [acólitos, «meninos de coro»], que prestem serviço junto do altar como acólitos e tenham recebido, segundo a sua capacidade, uma oportuna catequese sobre a sua função . Não se deve esquecer que destes rapazinhos saiu ao longo dos séculos um notável número de ministros sagrados . Instituam-se ou promovam-se para eles associações, com a participação e ajuda também dos seus pais, de modo que com elas se providencie aos ministrantes um cuidado pastoral mais eficaz. Quando essas associações assumirem carácter internacional, competirá à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos erigi-las ou examinar e aprovar os seus estatutos . A esse serviço do altar podem admitir-se meninas ou mulheres, segundo o parecer do Bispo diocesano e no respeito pelas normas estabelecidas.
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Redemptionis Sacramentum - PPB XVI (Coleção Documentos da Santa Igreja Católica)
SpiritualitéRedemptionis Sacramentum é o título de uma instrução sobre a maneira correta de celebrada a missa no rito romano e, com as necessárias adaptações, em outros ritos litúrgicos latinos. Foi emitido pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos...