0.13 ☽ ᴘᴀʀᴀ ꜱᴀʟᴠᴀʀ ᴇ ꜱᴇʀ ꜱᴀʟᴠᴏ

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⚠️Aviso de gatilho: paralisia do sono.⚠️



Felix abriu os olhos subitamente.

As pupilas dilatadas encaravam em silencioso horror o teto à sua frente em meio à escuridão que o cercava. Tentou olhar em volta, mas seu pescoço simplesmente não mexia-se, assim como todo o seu corpo.

Ele estava paralisado.

Seus olhos assustadoramente grandes eram a única parte do seu corpo que ele ainda tinha algum controle, mas era difícil enxergar através das lágrimas que turvavam o cômodo escuro, apesar da luz suave do luar adentrar pelas largas janelas que cobriam parcialmente toda a parede do que Felix reconheceu, em um pensamento oscilante em meio à neblina densa de pânico em seu cérebro, como sendo o estúdio antigo que chamava de casa.

O coração esmurrava dolorosamente sua caixa torácica, a respiração rápida tremulava com um soluço subjugado pelo peso sentido sobre cada músculo do seu corpo. Lembrando-se vagamente das palavras da sua psicóloga.

Ele estava bem. Seguro. Sua mente só havia acordado antes de seu corpo, ele só precisava se acalmar.

Fechando os olhos com força, o garoto repetiu aquelas afirmações para si mesmo, tentando sentir seu tato ou ao menos mover seus dedos. Uma tentativa inútil e rapidamente esquecida no momento em que sentiu um peso denso esmagar sua caixa torácica. O peso aumentando e aumentando gradativamente, tornando difícil respirar. Ele sabia, com um arrepio horrível que sentia subir por toda sua vértebra, que não estava sozinho.

Felix abriu os olhos, esperando despertar.

Uma figura sombria e sem rosto acima de si o encarava com seus olhos completamente ocos.

Ele gritou, mas nenhum som saiu de seus lábios imóveis. Podendo apenas olhar a coisa em cima de si, com vazios onde deveriam haver seus olhos e bocas, Felix sabia que aquilo o encarava e, a medida que sentia o peso sobre seu peito aumentar esmagadoramente, podia jurar ver o sorriso estender-se assustadoramente apesar de haver uma grossa linha costurada onde deveriam haver lábios.

Lágrimas quentes deslizavam pelas laterais do rosto congelado em angústia, como brasas queimando e queimando por onde passavam.

Minutos pareceram horas e dias, ao ponto de Felix, em seu estado de puro terror, implorar em um grito silencioso que se ele não fosse acordar logo, que pelo menos ele morresse de uma vez.

Um choro copioso de repente irrompeu no cômodo silencioso no momento em que o corpo dormente de Felix arquejou-se abruptamente, rastejando desesperadamente para a cabeceira da cama, os olhos dilatados buscando freneticamente pelo vasto cômodo a silhueta sem olhos e de boca costurada.

Mas não havia nada.

O antigo estúdio, mesmo com escassa luminosidade, não apresentava nenhuma sombra que não lhe fosse familiar em todos os anos que tem morado ali. Seu corpo, todavia, parecia ignorar todas as evidências que apontavam para não haver ninguém ali além de si.

Respirações apressadas e choros misturavam-se em sua garganta, sufocando-o, suas mãos trêmulas alcançaram desesperadamente os lençóis em busca de qualquer apoio. Qualquer coisa que aplacasse o pavor que ainda torcia suas entranhas, gelando todo o sangue que percorria por suas veias como lâminas.

— Pensei que a paralisia do sono havia ido embora.

Os olhos, brilhantes pelas lágrimas impiedosas, procuraram cegamente na escuridão, pousando sobre a silhueta que não deveria ser tão familiar, mas era. Talvez, a sanidade do Emissário estivesse em um estado questionável, mas um sorriso quase amargo surgiu em seus lábios trêmulos, corpo relaxando sutilmente ao perceber a presença da mulher de cabelos escuros e olhos grandes que vinha da cozinha com uma garrafa de água em mãos, pousando-a sobre seus pés.

Solivagant • chanlixOnde histórias criam vida. Descubra agora