9. Louise / Anna

20 2 1
                                    

– Louise?

– Não, sou o Jô Soares - ela disse rindo da minha cara de quem viu um fantasma - veio fazer moda comigo?

– Definitivamente não - disse abraçando ela - Artes plásticas - respondi.

– Sua idiota, por que não me ligou antes? Eu deixei meu número contigo, pensando bem você pode não ter visto mas...

– Eu vi - respondi um tanto constrangida - você ta nos meus contatos mas não lembrei de te chamar até agora...

– É bom você me aguentar agora - ela sorriu - vou pedir para ser sua nova colega de quarto.

– Eu ia dizer isso agora mesmo - estava muito feliz com a ideia de dividir o quarto com uma amiga.

Duas horas depois

Estávamos sentadas no exterior de um café tipicamente francês, eu com um capuccino e ela com um chá de coloração rosa que eu não fazia ideia do que seja.

Eu vestia uma saia longa preta, uma camisa listrada amarela e preta e meu cabelo havia crescido um tanto desde minha viagem, estava em um castanho mais escuro e, na minha não tão humilde opinião, muito mais belo.

Louise parecia uma manequim de uma boutique cara, usava um largo chapéu de palha con um laço preto, uma saia preta como a minha, porém muito mais curta, uma simples camisa branca e uma bela bolsa vermelha, que combinava com seus saltos (quem diabos vai para a faculdade de salto?).

– Então você ta vivendo com aquele cara? - perguntou Louise.

– É, tem sido ok.

– Ok? Ele tem te enchido a paciência, não tem?

– Um pouco, eu confesso - dei um gole no meu capuccino - tem sido...

– Pior do que você imaginava que seria?

– É... mas vai melhorar o quanto antes, quero dizer, a faculdade e tudo mais.

– Hum - Louise me fitava curiosa - não é só de saco cheio que se vive, o que você fez nessa sua primeira semana aqui?

– Ah, isso tem sido uma loucura - dei mais um gole.

Contei para Louise da festa no meu primeiro dia, das garotas que eu conheci e do porre que eu tomei, do meu sonho esquisito e dos tediosos dias que eu passei na cidade.

– Não tem nada de tedioso sobre Paris, mas se o seu namorado é um monitor da universidade dá pra entender bem o porquê de vocês não terem feito muito - Louise pausou um momento.

– O que você quer dizer? - perguntei.

– Bem, monitores tem compromissos toda hora e além disso, ele deve ser bem comprometido com os estudos para estar onde ele está. Sendo assim, faz sentido que vocês não tenham saído tanto.

– Hum - bufei - a gente pode fazer alguma coisa divertida então, já que estamos juntas hoje.

– Agora estamos conversando - ela terminou seu chá - a parte boa é: eu conheço um lugar.

– E a parte ruim?

– Você vai chegar em casa mais tarde que o previsto. Beeem mais tarde.

– Não é como se eu tivesse horário pra chegar de qualquer maneira...

– Se você diz...

O sol começava a se pôr em Paris e caminhávamos pelas ruas entre bicicletas e vendas até chegarmos a escadaria que nos levou ao metrô da cidade. 

Pelos túneis, Louise retirou de sua bolsa um exemplar amassado de alguma revista que eu não soube identificar e se desfocou totalmente do mundo ao seu redor até finalmente soltar um "mimada de merda", o que me fez corar de vergonha e a fitar por um momento.

– Louise?

– Sim?

– Do que diabos você está falando?

– Ah, nada - ela apontou para uma moça loira na revista - é só a princesa.

– Princesa? Em uma revista de moda?

– Sim, da Grécia, para ser mais específica. Sabe-se lá como ela tem a pachorra de se chamar de modelo, acho que tem poucas coisas que o dinheiro não compra no fim das contas.

– Louise?

– Sim, Anna? - ela respondeu irritada.

– Pare de tagarelar sobre a princesa, chegamos.

As portas abriram e nós seguimos viagem para o lugar que Louise queria me levar. As luzes da cidade acendiam aos poucos.

– Foi você que pediu pra eu explicar Anna - ela terminou a frase e fez uma parada completa - pois bem, chegamos ao não tão maravilhoso bar Sputnik.





Mentiras, desculpas e outras invençõesOnde histórias criam vida. Descubra agora