ᛖ Capítulo 1

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Sob o carvalho memorial plantado pelos ancestrais, e tão antigo, prevalecendo de tempos em tempos, houve uma grande reunião. Sob os seus galhos longos e retorcidos, o brilho das tochas revelavam uma noite ritualística e serena. Os ramos da árvore centenária eram enfeitados com cordões todos feitos de palha envoltos de pedras-lua talhadas com diversas runas. E quando uma lua cheia revelou seu esplendor aqueles cordões brilharam em um tom azulado, assim chamando atenção criança.

- Meu Pai ... - disse a criança, puxando o cinto.

- Diga ... - respondeu o pai rapidamente enquanto lembrava-se dos companheiros mortos em batalha.

- O que são aquelas pedrinhas amarradas nos galhos da árvore? - perguntou uma criança insensata.

- Não são pedrinhas qualquer garoto ... são um memorial dos guerreiros mortos em batalha - respondeu o pai sinceramente.

"Agora estão banqueteando-se com os deuses, e um dia eu hei de vê-los" - Refletiu Henrard.

A criança naquele momento emudeceu. E lembrando que possuía um cordão idêntico aos demais, ele finalmente pode entender o porquê recebera do sacerdote quando fora apresentado aos deuses quando bebê. "esse é o verdadeiro propósito do homem? Morrer em batalha" - pensava o pequeno Reynard. Enquanto ele observava o cordão, e afogava-se em seus pensamentos, sinto que estava sendo observado por alguém, mas apesar de contemplar todas as pessoas agrupadas conversando, notou uma figura misteriosa ao lado do tronco.

"É apenas um conhecido a quem não fui apresentada" - fórmula o garoto, porém a mulher continuava a observá-lo.

- Pai quem é aquela mulher perto do tronco? - perguntou Reynard, curioso.

- É melhor concentrar-se, a reunião logo escolher - respondeu o pai assertivo.

Nesse momento Reynard fitou os olhos naquela mulher que tocava os cordões, e com os lábios parecia falar algo, e não obstante, tirou o capuz, um qual revelou longos cabelos negros além de uma fantasmagórica coroa de ossos.

Entusiasmado, ele fascinou-se como as pessoas andando de um canto para outro não notaram aquela mulher e, estavam vestidas com suas melhores roupas. Homens trajados com túnicas e mantos, e os nobres exibiam seus colares dourados além de espadas feitas por grandes ferreiros. As mulheres adornavam suas tranças com fitas de couro, trajando longos vestidos feitos de bons tecidos, e nos pulsos, usavam pulseiras.

"Eu nunca vi um rosto tão belo, é como o luar da noite" - refletiu Reynard, enquanto observava um rosto jovem mulher, porém algo cruel revelou-se quando ela virou-se exibindo a outra face.

Nesse momento a pele da criança ficou pálida, e o tempo parecia um tormento como também já respirava lentamente. O rosto branco da mulher era como um cadáver. O seu olho esquerdo era cego, e a sua pele como alguém que sobreviveu a uma queimadura. A metade dos cabelos eram grisalhos, mui terrível de se ver. As vozes das pessoas pareciam cada vez mais longe até que tudo começou a girar, e antes de tombar no chão, os braços de alguém ou seguraram.

" Esse menino já esteve em meus braços uma única vez " - refletiu Hel enquanto observava o menino desfalecer.

A visão de Reynard estava embaçada e aos poucos enxergando os braços fortes daquele homem, tal qual como de um urso. O seu rosto era claro, e esboçava uma cara sombria e barbuda. Tinha longos cabelos pretos, trançados e raspados nas laterais com algumas runas de proteção tatuadas. Porém Reynard ficou perplexo com o corvo empoleirado nas suas costas.

- Recomponha-se garoto por acaso embriagou-se? - falou o homem direto, olhando para o seu rosto claro.

- Meu filho ... é fraco assim desde de nascença, foi um parto difícil ... - retrucou Henrard, desconcertado.

- Não sou fraco ... - falou Reynard, tossindo - Algum dia serei tão forte como o senhor; como Eirik! - esbravejou, Reynard.

- Não subestime tanto o garoto Henrard - disse Eirik, e logo caminhou.

Ele andava sorrateiramente como um lobo para perto da fogueira quando deparou-se junto a uma pedra para assentar-se. Desembainhando a espada da cintura, também retirou uma sacola feita de couro presa no seu cinto, o qual guardava uma pedra de amolar, e suavemente afiava o gume de sua espada. O corvo alçou voo ficando de tocaia nos galhos do carvalho distraindo-se das causas humanas.

Enquanto Hel observava ás pessoas, procurava por um mortal que despertou o seu interesse. Ela ainda tinha esperança de encontrar alguém próximo, pois o mesmo havia desaparecido desde sua revolta contra os deuses, a qual julgava até então ter sido morto. Nesse momento, por trás da deusa dos mortos surgiu um vórtice negro, o qual emergiu um cavalo magro e um tanto desnutrido de aparência cinzenta.

Montado no cavalo, o guerreiro emanava uma presença gritante. O seu corpo esquelético parecia mas uma armadura do que um esqueleto normal propriamente dito, o seu capuz branco ocultava um rosto ósseo, sombrio e sem esperança. Quando desceu do cavalo, ajoelhou-se, saudando-a:

- Meu nome é Inanição, e cavalguei do mundo dos mortos afim de informar que a alma de quem deseja não se encontra em vosso reino, garanto minha informação, pois os outros principados procuraram por todos os círculos do reino. Ele não está morto - afirmou Inanição.

- Eu tenho procurado por seu rastro através dos tempos, mas não encontrei nenhum até sentir aquela presença estranha de um campo de batalha - dizia Hel em seu relato— Uma alma acorrentada sem destino lutava bravamente então, vi com meus próprios olhos como valquírias o rejeitaram por algum motivo, e essa presença emana deste lugar.

Atento às chamas do fogo que estalava à medida que consumia o amontoado de toras de madeira. Eirik parecia estar entrando em uma espécie de transe, perdendo cada vez mais em sua consciência, foi quando o flashes atingiram sua mente, o fazendo lembrar dos seus terríveis pesadelos. Elevando seus olhos para o céu repleto de trevas contemplou um escuro que parecia ofuscar o sol no esplendor de sua força.

"Essas visões novamente, será que os deuses querem me dizer algo ??" - pensava Eirik.

Correntes do Passado - O ErmoWhere stories live. Discover now