Quando as visões apartaram-se de Eirik, ele ficou pensando qual seria a razão dessas premonições, concluindo que os deuses queriam avisá-lo sobre um mal presságio. Bem devagar levantou-se da lareira, e caminhou para longe da cerimônia, pois o sacerdote estava preparando as oferendas ao deus Njord a fim de que os presenteasse com a chuva. Eirik juntou suas mãos como uma concha assim as fechou levando-as à boca, assobiou.
O corvo empoleirado nos galhos, escutou o chamado de seu nobre companheiro, não obstante alçou voo seguindo a direção do som. O pássaro desceu suavemente dos ares, fincando seus pés no braço estendido de Eirik. Ele observou que ele sentia-se afligido por seus constantes tormentos.
— Corvo, as visões ainda tiram a paz da minha mente, tenho por certo de que preciso de algum sacerdote para decifrar esses maus presságios — confessou Eirik.
— Ele precisaria conhecer os deuses, já que o sacerdote dessa vila possui o conhecimento apenas sobre alguns Vanir — relatou o corvo.
— O pai-de-todos possui outras famílias? — perguntou Eirik.
— Ouvi dizer que Odin teve muitos filhos, porém aqueles que vivem com ele em Asgard são conhecidos como Aesir, já os Vanir formaram-se após a guerra contra Asgardianos — disse o corvo, ainda mais — Existe apenas um que viveu entre vários lados, na verdade, ele era do seu próprio lado, o seu nome era Loki.
— Loki? Acho que escutei apenas uma vez de alguém quando seus porcos fugiram — disse Eirik.
— Não sei muito sobre ele, apenas que não tomava partido de ninguém, a não ser que a causa o interessasse — respondeu o corvo assertivo.
— Talvez o sacerdote possa dizer sobre alguém que conheça o mundo dos deuses, amanhã irei consultá-lo, mas antes devo comprar uma oferenda — afirmou Eirik.
— Talvez uma cabra o fará dizer onde você encontrará o seu destino — assegurou o corvo dizendo — Eu vou para minha toca, acredito que a cerimônia em breve começará; adeus Eirik — despediu-se o corvo, enquanto Eirik caminhava de volta para o arraial.
No momento em que o ritual começou, Hel planejava como poderia retirar-se do mundo dos mortos com a finalidade de encontrar a pessoa que despertou o seu interesse. O guardião da fome, Inanição, o príncipe do círculo de Helheim, o responsável por leva as almas dos glutões a seu terrível castigo, nunca imaginaria o que sua rainha pretendia fazer, apenas envolveu-se em seus pensamentos esperando Hel voltar consigo para o mundo dos mortos.
— Eu irei me ausentar do meu reino por um tempo, e habitarei com esses homens até que encontre essa alma — afirmou Hel.
— Senhora, essa decisão pode acarretar no desequilíbrio dos mortos, a quem eles irão recorrer o julgamento de suas vidas? — indagou-a, Inanição.
— Não se eu falhar em meu objetivo, pois o tempo em meu reino não é o mesmo dos vivos, além disso leve a alma de Balder para Precipício, pois ela é muito valiosa para mim — falou Hel.
— Farei como a senhora pediu-me — afirmou Inanição, o qual estendeu as mãos gerando um vórtice negro pelo qual adentrou.
" Irei achá-lo, e quando o encontrar o libertarei para nossa vingança contra os deuses" — Refletiu Hel.
Em um pântano obscuro repleto de galhos retorcidos além de um rio de águas barrentas, havia um grande tronco cujo tamanho era incomensurável apresentando apenas uma entrada talhada para adentrá-lo. Havia dentro desse lugar uma gruta repleta de fios, quase que incontáveis, porém no centro havia três mulheres vestidas mantos negros retalhados tendo seus rostos cobertos por capuzes, e nas suas cabeças coroas feitas de raízes arbóreas.
As três mulheres pareciam operar conjuntamente uma máquina de costura. A menor chamava-se Skuld, a qual com seus pés apertava o pedal para que o roda de fiar não parasse. Na verdade ela estava construindo o futuro do mundo, e das pessoas. Urd, que era corcunda de nariz longo e fino, trabalhava na construção do fio no carretel assim observando o passado do mundo além dos seres vivos, por último Verdandi, a maior dentre as três também a única possuidora de asas, a sua função era retirar os fios do carretel ligando cada um em diversos cantos do lugar, operando assim o presente de tudo e de todos.
Nesse momento escutou-se o barulho de passos de alguém adentrando o recinto. Era um homem de pele branca, cabelos raspados e uma longa barba grisalha tendo seus olhos envoltos com uma fita vermelha, e carregava nas mãos um arco poderoso, vestindo-se de pele de lobo. Ele caminhou chegando próximo às Normas, e imediatamente curvou-se esperando por sua resposta.
— Você busca redenção, não é? deus caído — falou Urd tendo presciência do seu passado.
— E pretendo alcançá-la com a morte de quem me entregou a essa desgraça — disse o homem raivoso.
— Hora irmãs, esse não é Hoder o deus cego, porém não é seu destino matá-lo — afirmou Verdandi.
— Mas ele encontrará uma de suas crias em Midgard, sim, eu o vi, e lá que está o seu destino — disse ainda mais Skuld — você irá feri-lo nos pés, mais ele rasgará sua jugular.
— Não se preocupem, pois sou eu um exímio rastreador, ele morrerá antes de sequer reagir! — esbravejou Hoder.
— Vá, vingador, o seu destino o aguarda — disse Skuld.
Hoder levantou-se, e foi caminhando com o arco empunhado nas mãos, mas à medida que andava o ambiente esfriava ao ponto de deixar rastros de gelo, pois a raiva que o consumia levaria com ele a destruição a onde pisasse.Ao lado de fora, Hoder entrou em um barco, a qual ia remando por aquelas águas escuras lentamente, atentando-se a tudo ao seu redor, pois desde dos peixes até o minúsculo bater das asas dos vagalumes, sequer passou despercebido para Hoder, o ex-intitulado arqueiro dos deuses, pois ele nunca errava o seu alvo.
" Eu irei caçá-lo como uma lebre na neve, você é minha presa particular" — pensava Hoder sadicamente com um sorriso no rosto.
YOU ARE READING
Correntes do Passado - O Ermo
FantasyUm homem acorda em um lugar misterioso sem suas memórias. Ele apenas tem um corvo como seu guia nessa nova realidade.