Seu sangue

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  Não havia luz no final daquele túnel. O som de seus pesados passos ecoavam, faziam barulho junto às gotas d'água que levantavam e respingavam graças à locomoção de seus pés. Ele andava lentamente para onde imaginava ser a saída, os pelos arrepiados em sua nuca indicavam que havia mais alguém ali.

  O cheiro de esgoto invadia suas narinas e ele poderia passar mal a qualquer momento. Começando a andar mais rápido, sentia-se observado e em poucos minutos estava fugindo de alguém, já que seus movimentos não eram os únicos que faziam a água se mexer. Com o passar dos minutos, correr o máximo que podia fez seus ossos começarem a fraquejar e seus músculos pareciam queimar com o excesso de exercício.

  Ele é alto, suas pernas são compridas e fortes mas, mesmo assim, ele já havia chegado ao limite e quem corria atrás de si não parecia nem um pouco desgastado. Ban diminuiu sua velocidade até ficar completamente parado, como se estivesse se entregando antes que lesionasse alguma parte de seu corpo. A água que o molhava até a canela começou a queimá-lo e evaporou, suas roupas encharcaram-se com o vapor quente e alguém respirava freneticamente em suas costas.

  Um calafrio o atingiu, percorrendo sua espinha, levando um novo sentimento ao seu cérebro;

Medo

  -Não, Ban. Não olhe para trás!

  "Eu sabia!" -O homem pensou antes de virar-se para o demônio, seu braço direito movimentou-se rapidamente enquanto seu punho fechava. Ban, inutilmente, tentou socá-lo.

  O golpe foi facilmente anulado por sua mão, Meliodas esmagou seus dedos e o puxou ao encontro do chão. O albino sentiu um aperto na nuca, seu rosto foi direcionado contra o solo e aquela água imunda voltou, pesando em seus pulmões, o oxigênio faltou e tudo que podia fazer era tentar prender a respiração debaixo d'água e ignorar a pressão feita em seu pescoço.

  -Acorde, idiota! Acorde e venha me encontrar. ACORDE!

(...)

  Às cinco da manhã, Gowther terminava o último tópico de sua investigação. Sempre se deu melhor de madrugada, sua esposa estava dormindo assim como todos os vizinhos, o silêncio fazia parte de sua concentração. Estar sozinho era bom, a mulher ao seu lado e seus amigos no Japão eram a única companhia que ele conseguia aturar, por mais que estivesse em Nova Iorque há quase cinco anos, não conseguia se adaptar à agitação de outras pessoas. 

  Fechando o notebook, o homem levantou-se delicadamente da cama e pegou o celular que vibrava sob a madeira.

Chamada em andamento

  -Boa noite, King. Precisava de mim?

  -Todos precisamos, só você pode ajudar nesse caso. Contamos com você.

Chamada finalizada

  "Seria legal um: e aí, como é que vai, parceiro...?-Suspirou. "Se eu sair agora, chegaria lá amanhã às onze (11:00PM), vou arrumar as coisas, devo chegar lá por volta das duas horas da manhã" -Pensou Gowther.

  Nada o faria sair de Nova Iorque, a proposta de emprego foi irrecusável. Na realidade, nada exceto o pedido desesperado de seus antigos companheiros, eles precisavam do melhor detetive do estado.

  Olhando Nadja dormir, sentiu um pouco de pena por ter que acordá-la. Pôs sua mão em sua cabeça e sorriu ao vê-la despertando.

  -Amor, o Capitão está com problemas, arrume suas coisas.

  -Tudo bem... -A mulher disse, ainda embriagada pelo sono.

  O homem pegou um cartão e buscou por duas passagens de avião para o Japão, optando pelo melhor horário para chegarem lá.

Dupla personalidade -hiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora