No Altar do Pensar

Solidão

  Viver na solidão, viver sem nada temer, sem nada a perder. Vivemos nela por gosto e por desgosto. No final todos a contemos, todos a vivemos. Dizem que a mantemos por carência de atenção. Pensam que a alimentamos por gosto. Mas ela habita em nós sem escolha. Como um monstro invejoso e vingativo, uma vez em nós instalado em nós, nunca mais nos deixará. Quando a deixamos, ela de nós vinga-se ausentando a nossa alma de sentimentos. Quando criamos mais sentimentos, ocupando a solidão esta revolta-se com a inveja e consome todos os outros sentimentos, deixando um vazio ainda maior em nossos corações. Opções não restam a não ser aceitá-la. Renegá-la não deveremos, teme-la não poderemos. Sozinhos não ficaremos, mas reféns da sua ausência de luz seremos. No que algo tão negativo poderia de bom nos dar? Sozinhos e solitários, como lobos em noite densa vagamos. Em busca de respostas, em busca de algo incerto encontrar. Desejamos as sombras apagar, o mal eliminar, e de uma vez por todas da solidão nos retirarmos. Mas algo no fundo, no canto mais inabitado de nossa alma, algo instantaneamente nega tal ambição.

Será possível conforto sentir? Em tal fria e solitária jornada de males pensares e dores de decisões ter que tomar? Não é mais comum de se decidir, muito menos aquilo de se amar. Quanto mais solitária nossa caminhada por este mundo imundo for, mais pesada nossa alma se tornará, mais negro nosso coração se transformará, sucumbir ao mal que desta dor nos alivia. Aprendendo assim a viver, longe de amor e luz, na ignorância da paz interior. Inalcançável nossos sonhos se encontram, motivo para existir não mais existe. Gosto amargo da traição se torna o doce que nossa memória alimenta. Nada podemos perder quando nada mais temos. Pelos outros não podemos falar, certezas de nenhum outro podemos ter, em mais ninguém podemos confiar se não em nossos próprios pensamentos. Quando na escuridão nos encontramos, sozinhos e abandonados, definições de bem e mal se perdem, e pouco de sentimentos em amor próprio transformamos. Somente nós sabemos qual rumo tomar, importância à nossa solidão devemos dar.