Uma Segunda Chance Para Viver [ SuaYeon ]

Eu Quero Mudar o Mundo

[ Kim Bora ]

Balanço a cabeça de um lado ao outro, sentindo os músculos de meu pescoço. Movimento os pés em mini pulos, exercitando-me para não perder a adrenalina. O suor escorre livremente pelo meu rosto, mas não faço a mínima questão de me limpar. Só me mantenho concentrada, observando meu reflexo no enorme espelho à minha frente, me permitindo estar pronta para os minutos seguintes.

Esse lugar, a sala de dança, é meu local preferido. É aqui onde eu posso me libertar, extravasar toda a preocupação que carrego durante as horas do dia. Dançar, mexer cada célula de meu corpo no ritmo da música é o que me faz sentir que estou realmente viva, que não sou uma mera vida que está presa a trivialidades desse mundo ao qual fui posta. É dançando que encontro a paz que tanto almejo todas as vezes que deito a cabeça no travesseiro para dormir.

Sempre que algo acontece e me deixa frustrada, irritada ou triste, costumo vir até aqui me isolar do mundo. Como tenho a cópia das chaves da sala de dança, posso vir nos horários em que não está tendo nenhuma aula e ficar sozinha, a única companhia sendo a mim mesma, refletida no espelho.

Só que dessa vez, não estou exatamente sozinha. Ali, sentada próxima ao aparelho de som, me observando com um belo sorriso no rosto, está Yoohyeon. Minha melhor amiga. É ela quem vem ao meu encontro me confortar quando estou para baixo, é ela que esquece de seus afazeres, mesmo que isso lhe dê problemas depois, para ficar comigo quando mais estou precisando... é ela quem procuro sempre que tenho dúvidas ou problemas em minha vida. Essa garota, mais nova do que eu, tem um belo coração, e é a mulher mais incrível que eu conheci até hoje.

E não está sendo diferente hoje.

Logo após brigar com meu pai por causa de seus ideais ridículos e ultrapassados, eu decidi faltar a aula hoje e liguei para Yoohyeon. Imediatamente ela desistiu de suas aulas também e veio ao meu encontro. Costumo me sentir mal por tê-la se prejudicando por minha causa, mas ela nunca me permite se sentir tanto tempo culpada. Segundo ela mesma diz, "estou aqui porque eu te amo e quero te ajudar, então não se preocupe com minhas ações".

Ela é um anjo, tenho certeza disso.

Mas não se enganem, ela não é a única a estar deixando de lado outros afazeres para cuidar de mim. Sempre que ela precisa, eu me ponho com tudo que possuo a seu dispor. Uma ajuda a outra, não importa as circunstâncias. É assim que nossa amizade se fortaleceu, e eu agradeço todos os dias por tê-la conhecido.

— Está pronta? — Ouço Yoo questionar, e eu balanço a cabeça afirmativamente em sua direção.

Ela então dá play no aparelho de som e uma música calma se inicia, à base de violino e piano. Espero o momento correto para iniciar os primeiros passos, firmes e determinados. A cada movimento que faço, vou me recordando do inferno que minha vida começou a adentrar nas últimas semanas.

Muitos podem pensar que eu, Kim Bora, sou uma pessoa muito afortunada por ser filha do grande líder da nova ordem mundial. Meu papai, Jisung, é o chefe dos oito líderes mundiais, ou seja, é ele quem dá a palavra final para qualquer reunião que envolva algo relacionado às mudanças nas gestões do planeta. Há muitos anos, ele, ao lado de seus amigos, uniu as maiores empresas mundiais em uma única só, de diversas áreas, indo de alimentícia e automobilística, até a Nasa e centros ecológicos. Resumindo, uma única empresa foi criada sem chance alguma de haver concorrência contra ela. Era questão de tempo para eles assumirem o controle da economia mundial e quando isso aconteceu, eles praticamente se tornaram os donos do mundo.

Quando mais nova, eu apenas vivia na inocência de uma jovem criança que só pensa em brincar e ter amigas. Porém, com o passar do tempo e de meu amadurecimento, fui notando o quão podre é o mundo que papai construiu. É conflitante você descobrir que o homem que chama de pai, que ama com todo seu coração, que sempre participou de suas brincadeiras, esteve presente nos dias mais importantes de sua vida, ser uma pessoa cruel para aqueles que não lhe oferecem vantagens ou lucros.