Capítulo VI

5 1 0
                                    

-Vamos ficar aqui mais uns dias para irmos ao funeral e para a Íris se despedir dos amigos – Diz a minha mão meu suposto padrasto, enquanto descanso um pouco os olhos. Às vezes ainda penso que isto é tudo um pesadelo e que vou acordar a gritar e o meu pai vai correr para o meu quarto e abraçar-me como ele fazia quando eu sonhava com a minha mãe e acordava a chorar.

Será que estou em coma? Não tinha pensado nesta possibilidade, mas tenho 1% de probabilidade de estar em coma. Já não estás a pensar com clareza, lembra-me o meu subconsciente. Ele tem razão preciso de descansar. Mas é difícil depois de saber que o meu pai morreu e que nos próximos meses não vou poder surfar. Quer dizer...ninguém me impede de acordar às cinco horas da manhã e ir surfar.

-Chegamos Íris. - Diz a minha mãe interrompendo os meus planos de fuga para surfar de madrugada.

-Íris? - Olho para a pessoa que me chama e vejo que o Lourenço está de pé á frente da porta de minha casa com um fato de treino vestido e o cabelo todo despenteado. Mesmo todo desarrumado ele fica lindo.

-Lourenço! - Digo caminhando o mais rápido que posso para o abraçar. - Não sabes a falta que me fazias. - Digo quando finalmente o consigo alcançar. Ele abraça-me com cuidado como se eu fosse partir a qualquer momento. Adoro o cuidado com que ele me trata.

-Vamos dar-lhe um pouco de privacidade. - Diz o meu padrasto à minha mãe.

-Quem é? - Pergunta o Lourenço depois que eles entram em casa.

-O meu novo padrasto. - Digo revirando os olhos.

-Então como estás? Lá se vai o teu plano de fugir para fora do país.

-Estava á tua espera quando a minha mãe apareceu e os meus pontos da ferida nas costas soltaram e eu tive de ir ao hospital. Uma grande confusão. É e agora tenho de ir para o Algarve.

-O quê? - Não era bem assim que pensava contar-lhe que vou ter de ficar 500 km dele. Acho que nenhum de nós está preparado para uma relação à distância.

-Eu sei, é de loucos. Mas ainda vamos a tempo de roubar o Jeep da minha mãe e fugirmos juntos. Quem sabe até nos podíamos casar. - Digo com esperança de tirar um pouco de tensão do ar.

-Íris, podes por favor parar de brincar e perceber o que se está a passar. - Diz largando-me dos seus braços.

-Nós estamos no século XXI, temos mais de mil maneiras de nos comunicarmos. Nós podemos fazer isto funcionar. A Lara Jean e Peter Kavinsky conseguiram manter a relação deles mesmo estando em universidades distantes. O único que importa é que nós nos amamos e que nada, nem a distância, nos separa. - Digo pegando com as minhas mãos a sua cara. Se eu não tivesse os olhos tão secos de tanto chorar estes dias, provavelmente agora estaria a chorar rios.

-Por mais que tentemos vai ser difícil. - Diz tirando as minhas mãos da sua cara, e começando a chorar.

-Por favor... - Suplico com a voz rouca – Tu sabes que eu não consigo viver sem ti. Vamos tentar, pelo menos. Tu és a única pessoa que me resta. Não aguento perder-te também a ti.

Ele olha para mim com aqueles olhos castanhos com todo o cuidado. Eu sei que está a ser muito difícil para ele tomar esta decisão. Então desiste de tentar-me resistir.

-Promete-me que não vais arranjar um rapaz moreno e mais musculado e trocar-me – diz dando-me um meio sorriso.

-Eu prometo. - Digo retribuindo o sorriso. E abraço-o de novo.

-Tu sabes que te amo. - Diz contra os meus cabelos.

-Sim. Também te amo. Prometes que me vais visitar todos os meses, pelo menos?

Perdida nas tuas ondasOnde histórias criam vida. Descubra agora