Capítulo VII

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Quando chegamos ao cemitério estão todos em volta do caixão á nossa espera. Como sempre atrasada, Íris. Êxito antes de abrir a porta do carro. Íris, mais cedo ou mais tarde vais ter de enfrentar a morte do teu pai, o meu subconsciente lembra-me. A minha mãe está minha espera fora do carro, acho que nem ela está com coragem de enfrentar o que vem a seguir, apesar de tudo el foi marido dela, e para terem casado e terem uma filha significa que eles alguma vez na vida se amaram. Embora ainda não acredite na história de que a causa do fim do casamento deles é falta de amor. Eles amavam-se tanto. Mas também estou a tentar evitar ao máximo essa conversa.

Vejo o Lourenço a aproximar-se. Está vestido com um hoddie e umas calças pretas. Concentro-me no quão lindo ele é para não me lembrar para onde estou a ir. A última vez que estive neste sítio foi á uns cinco anos na morte do meu avô, naquele dia pensei que tão cedo sentiria uma dor tão grande de perda.

-Íris, estou aqui contigo. Se quiseres escapar durante a cerimónia é só falares comigo. - Diz, beijando a minha testa.

-Obrigada por tudo o que fizeste por ela todos estes anos. Dá para reparar que és o porto seguro dela. - Diz a minha mãe dirigindo-se ao Lourenço. Ela tem razão, nunca ninguém me apoiou tanto como ele.

-Vá vamos despachar isso – Digo na tentativa de animar um pouco. O meu pai era a pessoa mais alegre que conhecia, tinha sempre uma piada seca nova para contar sempre que chegava do trabalho. Acho que ele não queria que o seu funeral fosse tão...morto?

Enrolo o meu braço no do Lourenço, e seguimos para dentro do cemitério. Á volta do caixão estão alguns amigos chegados do meu pai, e uns vizinhos que só vieram mesmo para saber se vai haver alguma treta para contarem aos outros. Da parte do meu pai não tenho nenhuma família viva, então sou só eu e a minha mãe, que está de cabeça para baixo, para não ter de encarar o homem que um dia amou dentro de um caixão. No centro está o padre e dois coveiros, que pelas suas caras dá para ver que querem despachar isto o mais rápido possível.

-Estamos aqui todos reunidos para nos despedirmos do nosso amigo e pai Eduardo Scott. - Aquela típica entrada de padre nos funerais.

-Ainda vou a tempo de fugir? - Pergunto ao Lourenço que me dá um pequeno sorriso. Embora o meu pai tenha o ameaçado dar-lhe um tiro com uma caçadeira sempre que o encontrava no meu quarto, não quer dizer que ele não gostasse dele. Um dia encontrei-os a ter uma conversa civilizada pela primeira vez sobre um jogo de futebol, fiquei tão orgulhosa deles nesse dia, estavam a fazer progressos.

-Que Deus guarde esta alma bondosa no seu reino eterno! - Termina o padre. Os coveiros pegam no caixão e colocam-no dentro do buraco recém-escavado no chão. Cada um de nós bota a sua flor antes que enterrem o meu pai por completo. Isto está mesmo a acontecer. Eu não quero-me despedir dele.

-Pai...-digo num sussurro e caio de joelhos no chão a chorar. O Lourenço abraça-me por trás e a minha mãe tenta-me dizer algo, mas não oiço. Apenas vejo a terra a tapar cada vez mais o caixão do meu pai. Sinto uma dor enorme nas costas, por causa dos pontos, e outra ainda maior no peito, que me sufoca. Agarro o Lourenço na esperança de que ele me diga que tudo isto é um pesadelo e que o meu pai está em casa a fazer uns dos seus pratos maravilhosos. Mas não, o meu pai foi-se. Ele não volta. Não consigo parar de chorar, não sei como ainda não inundei o cemitério todo.

-Vamos embora Íris. Vamos para casa - Alguém diz. Uma pessoa forte pega-me ao colo afastando-me da cova do meu pai. Eu tento lutar contra ela, mas ela não me larga. Eu não quero ir, eu não quero deixar o meu pai. Nesse momento apago, e tudo o que me lembro a seguir é um completo borrão.

(...)

Acordo mais uma vez no meu quarto, sem saber se o funeral foi hoje ou ontem, ou talvez á uma semana. Vejo um monte de caixas empilhadas encostadas á minha parede azul do quarto. Só agora reparo que o meu quarto está completamente vazio. Os livros, a roupa, os meus peluches, o meu computador e até O Príncipe Cruel, que estava em cima da minha mesinha de cabeceira, desapareceram. Ou seja, o dia da grande mudança de vida chegou.

Ainda estou vestida com a mesma roupa que tinha no velório. Ajeito o meu vestido e componho a cama. Pego no meu telemóvel e meto dentro de uma mala pequena, que estava no cabide atrás da porta, iam se esquecendo dela quando arrumaram o quarto. Antes de sair do quarto dou uma última olhada no quarto, tantas recordações. Foi aqui que ouvi a minha primeira canção e livro de dormir, foi aqui que fiz a minha primeira festa de pijama, foi aqui que fiz uma luta de almofadas com o meu pai, e até foi aqui que tive a minha primeira vez, se o meu pai soubesse matava-me.

Vou para a cozinha e vejo a minha mãe e o meu padrasto a conversar sentados na mesa.

-Preciso que alguém vá buscar as caixas com as minhas coisas, eu não posso fazer esforços. - Digo revirando os olhos com aquela ordem estúpida do médico.

-Eu vou. - Acho que é a segunda vez que o meu padrasto fala comigo, acho que ele é tímido.

-O Lourenço está lá fora para se despedir. - Diz a minha mãe depois que o Duarte sai da cozinha.

-Está bem, obrigada. - Digo secamente.

-Filha... - Ela levanta-se e exita antes de me abraçar. Nove anos que esperei para ter este tipo de contacto com ela. Fico até sem reação. Quando vou a retribuir o abraço o meu querido padrasto aparece.

-Aí desculpem. - Diz um pouco envergonhado. - Eu posso sair.

-Não é preciso, eu também já me ia despedir do Lourenço.

-Hey Íris - A minha mãe agarra-me no braço, fazendo-me virar para trás. - Estás melhor? - Ela olha-me com um olhar de cautela e preocupação. - Sabes que se estiveres a passar por um mau momento eu estou aqui para ti?

-Sim, obrigada – Pela primeira vez nos últimos dias dou um sorriso genuíno. Uma parte de mim, a traiçoeira, está feliz por a ter de volta, outra parte ainda a odeia pelo que ela fez.

Saio da casa pela última vez e vou a correr, ou pelo menos tento, para os braços do Lourenço, o meu porto seguro.

-Ainda não fui embora, mas já sinto saudades tuas – Digo entre soluços.

-Eu também. Hey... - Ele pega na minha cara com as suas mãos -...nós vamos fazer com que isto funcione. Isto vai funcionar, entendeste? - Aceno e ele chega-se mais perto depositando um beijo nos meus lábios. - Eu amo-te e nunca vou deixar de te amar, mesmo que me troques por um rapaz moreno e mais bonito. - Só ele para me arrancar um sorriso num dia destes.

-Sabes que eu sou incapaz de te trocar. Nenhum rapaz no mundo vai chegar aos teus calcanhares. Nunca duvides, em dia algum, que te amo. - Temos as nossas testas coladas, quando a minha mãe chega atrás de nós.

-Eu sei que é difícil, mas temos de ir embora senão perdemos o nosso avião.

-AVIÃO? Nunca me disseste que íamos de avião. Eu nunca andei. - Digo começando a entrar em pânico.

-Eu pensei que tu tivesses andado de avião. Podemos-te dar uns comprimidos para adormeceres antes de partirmos. - Acento com a cabeça ainda um pouco abalada com a ideia de estar a quilómetros de distância do meu querido solo.

-Hey Íris vai correr tudo bem. - Diz o Lourenço tentando-me acalmar. – Vamos, está na hora.

-Amo-te, amo-te, amo-te... - Dizemos um ao outro abraçados.

-Liga-me quando chegares. - Diz depois de me largares. - Isso é se chegares. - Lá vem o meu ataque de desespero – Estou a brincar. - Ele está com aquele sorriso dele que fez tantas vezes o meu dia ficar melhor.

-Chau. Amo-te! - Digo antes de entrar no carro. Olho pela janela uma última vez para a casa, onde passei a minha vida toda, e depois para o Lourenço, que está de pé com as mãos nos bolsos do mesmo hoddie preto que tinha de manhã. Ele é um sonho. Mando-lhe um último beijo e o Duarte junto com a minha mãe entram no carro. Quando vejo o Jeep a afastar-se daquela cidade, que durante dezasseis anos foi a minha casa, sinto uma dor imensa. Mas preciso de novos começos e estou agora mesmo a caminhar para um.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2021 ⏰

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