Sesshoumaru POV:
Depois que Naraku finalmente foi derrotado, era hora de reorganizar meus objetivos e seguir com minhas viagens. Porém, eu já não viajava mais sozinho naquela época e a ideia de trazer Rin comigo me parecia natural e ao mesmo tempo perigosa. A menina me acompanhara durante meses e já havia enfrentado muitos riscos por minha causa. Naquele tempo eu não sabia muito bem porquê, mas a ideia de perdê-la em alguma batalha já me trazia um incômodo que eu nem mesmo sabia reconhecer como medo. Por isso, a ideia da velha Kaede de levar Rin para o vilarejo me pareceu justa e segura. Kaede queria que ela convivesse com humanos ao invés de viver em um mundo cercada de youkais, e eu não dava a mínima para o que ela dizia, mas era um fato que Rin estaria mais segura no Vilarejo do que viajando ao meu lado.
Ela pareceu se adaptar rapidamente à vida no povoado. Eu ia visitá-la sempre que possível e levava-lhe presentes de minhas viagens que faziam seus grandes olhos escuros brilharem de curiosidade e gratidão. Nessas visitas Rin sempre disparava a falar das coisas que aprendera com a velha Kaede: ervas, remédios, trabalhos manuais, como ajudar a fazer um parto. Ela não era muito nova para aquilo? Não sei, não é como se eu prestasse total atenção ao que ela dizia, mas o som da sua voz de alguma forma me acalmava. Às vezes eu me sentava e observava enquanto ela cuidava do jardim de ervas, sempre cantando alguma canção inventada, que me fariam rir se eu fosse o tipo de homem que tem o riso fácil. Em todo caso, aquelas cenas me divertiam um pouco e por alguns momentos era como se nada mais existisse além daquele jardim. Eu ainda estava muito longe de entender que aquele sentimento estranho de plenitude se chamava "felicidade".
***
Algum tempo já havia se passado desde que Rin se mudara para o Vilarejo. Ela devia ter cerca de dez ou onze anos, quando, em uma das minhas visitas, ela não veio me receber alegremente, se atropelando nas histórias que queria contar. Kaede me recebeu à porta de sua casa e me disse que Rin estava doente. Tinha sido acometida por uma febre dois dias antes e ainda estava de cama.
- Não é tão grave e eu estou lhe dando os remédios corretos - disse a velha sacerdotisa - ela deve ficar boa em um dia ou dois.
Já era tarde, algo parecido com um aviso ecoava pelo meu corpo. Rin já havia morrido duas vezes e não podia correr o risco de uma nova morte, dessa vez sem chance de ressuscitar. Eu não podia perdê-la para uma febre assim tão de repente. Mas por quê isso me importava tanto, afinal?
- Deixe-me vê-la. - disse eu sem dar indícios da minha preocupação.
Kaede me indicou a porta do quarto em que Rin se encontrava e eu caminhei calmamente até lá. Em um futon, Rin dormia pacificamente, um pano molhado cobria sua testa e um cobertor cobria seu pequeno corpo. Sentei-me ao seu lado e pus-me a observá-la, visto que era a única coisa que eu podia fazer. Observei sua respiração lenta enquanto dormia, os cabelos espalhados ao redor de seu rosto, suas pequenas mãos segurando o cobertor... Estar perto de Rin me trazia paz, mas nesse momento também algum desespero que eu não sabia explicar. Eu tinha consciência de que sentia algum apego por ela, mas a ideia de uma terceira e definitiva morte para Rin não devia me preocupar tanto assim.
- Ela vai viver. - disse Kaede como se lesse meus pensamentos. Aquela velha podia ser meio intrometida ás vezes.
Assenti com a cabeça.
- Sabe, se você ficar achando que ela vai morrer a cada resfriado, vai acabar enlouquecendo. Deixe-a descansar e logo estará melhor.
Como ela sabia o que eu estava pensando? Nesse momento, Rin acordou. Estava um pouco confusa e ainda tinha os olhos semicerrados quando me reconheceu.
- Sesshoumaru-sama! - disse, com o pouco de empolgação que lhe restava.
- Rin. - respondi da maneira de sempre
- Que bom que está aqui... Você vai ficar? Por favor, diga que vai ficar... - e caiu no sono novamente.
Lancei um olhar de interrogação para Kaede, que estava parada à porta, ela apenas assentiu e saiu dizendo:
- Eu tenho um futon extra, você pode usar. Não é como se você fosse pegar essa febre mesmo.
Aquele certamente era um rumo estranho para a minha visita. Sempre que eu passava dois ou três dias no vilarejo, preferia dormir ao ar livre e nunca tinha me hospedado na casa da velha Kaede antes, mas Rin queria que eu ficasse e hoje confesso que eu queria ficar também.
Passei toda aquela noite acordado, o que já era mesmo do meu feitio, observando-a e trocando o tecido úmido em sua testa. Ela se mexia bastante, seria algum pesadelo? Estava inquieta e balbuciava coisas que eu não conseguia entender. Certamente era efeito da febre. Até que lá pelo meio da noite Rin rolou de seu futon para o meu, que estava logo ao lado. Seus pequenos braços me abraçaram e ela logo se acalmou.
- Sesshoumaru-sama, que bom que está aqui... - disse ela num estado semiconsciente.
Senti que meu coração se aquecia, quantos novos sentimentos aquela criança podia me mostrar? Eu queria esses sentimentos? Naquela noite, pela primeira vez, eu soube o que era ternura.
Fiquei com Rin até que sua febre melhorasse e eu pudesse seguir viagem. Kaede estava certa, era só uma febre, mas eu precisava saber que era estava bem antes de partir.
Eu não sabia ainda, mas essa cena se repetiria muitos anos depois. Com uma Rin que já não era mais uma criança em meus braços, em uma noite de lua crescente, não foi ternura o que nenhum de nós dois sentiu.
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Mudanças de Rumo
FanfictionSesshoumaru nunca foi de demonstrar sentimentos. Sempre um homem focado em seus objetivos, em sua longa vida de youkai, a ideia de amar outra pessoa sempre lhe pareceu uma fraqueza inadmissível e, sendo essa pessoa uma humana, tal sentimento lhe par...