17 - Cães no telhado

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Kagome POV:

Eu estava começando a preparar o almoço quando Rin apareceu em nossa casa. A princípio estava apenas séria, mas ao dar o primeiro passo para dentro, desabou em choro. Inuyasha, que havia acabado de chegar com alguns legumes que eu tinha pedido, parecia tão em choque quanto eu ao ver aquela cena.

- Rin, o que houve? – perguntei eu abraçando-a. Ela agora chorava ainda mais. – Está sentindo alguma dor?

Ela negou com a cabeça.

- Aquele desgraçado do Sesshoumaru fez alguma coisa com você? – Inuyasha perguntou, sem nenhuma delicadeza.

Rin parou de soluçar, mas permaneceu em silêncio.

- Foi ele, não foi? – insistiu.

- Inuyasha, meu amor, por que não vai lá para dentro enquanto eu faço um chá e converso com Rin? – disse eu lhe indicando o quarto.

- Tá, mas se o Sesshoumaru fez alguma coisa com ela, eu vou acabar com ele!

- Inuyasha... – disse eu revirando os olhos.

Meu marido saiu, nos deixando a sós. Pus de lado os preparativos do almoço e esquentei a água para fazer chá, enquanto Rin, sentada perto do fogo, aos poucos parava de chorar.

- Aqui está – disse eu, lhe entregando uma xícara – sente que já pode falar?

Suas mãos estavam trêmulas e ela assentiu sem muita confiança.

- Hanyous... – disse ela em voz baixa – ele disse que não queria hanyous...

- O que?! Então vocês conversaram e essa foi a resposta dele?! – indaguei sem esconder minha indignação.

- Eu tentei conversar, mas a primeira resposta dele já acabou com tudo. – disse ela, fitando a xícara de chá.

Então, Rin me contou com detalhes a conversa que virou uma briga e como a insensibilidade de Sesshoumaru havia partido seu coração. Pouco antes de começar a falar alguma coisa, escutei um barulho vindo do quarto. Com certeza Inuyasha tinha pulado a janela e ia se meter com o meio-irmão. Eu tinha que ficar ali com Rin e não queria preocupá-la, mas eu mesma estava preocupada.

- Rin... eu entendo, ele não foi gentil, realmente. Foi uma escolha de palavras automática e ruim, mas... se você quer saber, Inuyasha e eu já tivemos conversas parecidas também.

Ela me fitou com seus grandes olhos castanhos ainda cheios d'agua e eu comecei a lhe contar sobre como foi difícil decidirmos ter um bebê.

Sesshoumaru POV:

Rin partira com uma raiva que eu nunca tinha visto vindo dela. Eu causara aquilo. Quando a vi com o bebê antes de nosso casamento, eu sabia que devíamos conversar, mas este Sesshoumaru nunca foi bom com palavras. Pensei sobre isso diversas vezes, mas as coisas iam tão bem que eu acabava deixando para depois na esperança de que a própria Rin não quisesse filhos por um tempo.

Ficar ao ar livre sempre tinha sido melhor para mim, então simplesmente me sentei no telhado de nossa casa enquanto repassava aquela briga várias e várias vezes tentando pensar numa explicação. Estava um dia bonito e era possível ver até bem longe, enquanto observava a paisagem comum do vilarejo, ouvi as árvores farfalhando e senti aquele cheiro. Era tudo o que eu não precisava agora.

- Então você está aí seu cachorro idiota! – disse Inuyasha ainda no chão.

- Vá embora. – disse eu sem olhar para ele.

Com um pulo ele estava sentado no telhado também, a alguma distância de mim.

- Eu não vou para casa, não com a Rin chorando na minha sala!

- Vá para qualquer lugar, Inuyasha. – respondi, ignorando o que ele tinha dito sobre minha esposa.

- Escuta aqui, Sesshoumaru, não é que eu goste de você, é que eu ouvi tudo o que a Rin disse para Kagome. – disse ele

- Bom, pelo visto se ela não disse para você, então não há o que fazer aqui.

- Aquele dia, o dia do bebê na casa da Velha Kaede, você já estava pensando sobre isso, não é? Sobre ter filhos com a Rin e eles serem hanyous.

Ele estava certo, mas eu não ia admitir. No entanto, me virei um pouco para olhá-lo.

- Eu já não falei para você ir embora?

- Dava para ver na sua cara! Eu soube por que eu sentia a mesma coisa quando Kagome decidiu que era a hora. – disse ele, olhando para mim.

- A mesma coisa o que? – perguntei eu, arqueando uma sobrancelha e desistindo de me livrar dele.

- Keh! Você sabe muito bem! Medo, você sentiu medo, Sesshoumaru.

- Não diga besteiras. - respondi

- A Rin acha que você não quer ter filhos com ela porque considera hanyous indignos, mas na verdade você tem medo, não é? Medo de sofrerem por isso. É o mesmo medo que eu tinha e eu senti em você aquele dia. Eu sei como um hanyou pode sofrer e você sabe como as pessoas podem fazer hanyous sofrerem, Sesshoumaru. – Mesmo com essa última acusação, ele estava falando sério e calmamente, uma coisa rara para aquela criatura que tanto me irritava com seus gritos.

- Não sente mais medo? – perguntei.

Inuyasha deitou-se no telhado e agora fitava o céu.

- Eu percebi que a partir do momento em que eu comecei a amá-la, teria medo para sempre. No entanto, eu a amo ao ponto em que não podia deixar isso estragar as coisas. Eu faria tudo pela Kagome, certo? Poderia enfrentar qualquer coisa por ela. Então, eu aceitei e... em algumas luas teremos mais alguém por quem eu faria qualquer coisa. – Disse ele, sem conseguir evitar um sorriso.

- Certo. – Limitei-me a responder.

Ficamos ali em um silêncio que não era assim tão desconfortável. Eu meditava sobre o que Inuyasha tinha me dito e ele certamente sabia que eu havia lhe dado ouvidos, mas para minha surpresa, não se gabou disso. Depois de um tempo, ele se levantou.

- É melhor eu ir, elas já devem ter dado pela minha falta. Sabe, Rin estará bem conosco, mas ficará melhor se você for buscá-la. – disse ele de uma maneira quase amigável, e pulou do telhado.

- Inuyasha! – chamei-o involuntariamente e ele virou-se para trás.

- O que foi? - perguntou

Mas eu não disse nada, apenas fiz um movimento com a cabeça. Inuyasha sorriu e continuou seu caminho para casa.

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