Capítulo 2

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   A escola vive dizendo que somos diferentes e que temos que explorar isso, mais nos obriga a ir rotulados. Enfim, a hipocrisia. Último ano finalmente. Só quero saber de curtir e viver, limite é uma palavra que não existe no meu vocabulário. Pensei que na escola não iria ter nada de novo, até que surge um estupido garoto.

- Meninos, esse é Leandro Cortez. Nosso novo aluno. Espero que o deixem a vontade.

   Garotas eufóricas por um boy padrão, nada de novo. A sala até esquentou com tanto fogo.

- Por que não se apresenta pra turma Leandro? Que tal todos nos apresentarmos?

   Nunca ouvi uma ideia tão merda de uma professora de ensino superior, coisa de pré-primário.

- Bom eu me chamo Leandro Cortez, sou espanhol e tenho 17 anos.

   Já quero dar um tiro nesse moleque. Mais um rico arrombado metido a besta, não muito diferente dos outros aqui.

   A longa jornada de arrogantes se apresentando parece não ter fim, até que finalmente minha hora é chegada, mas escolho ficar quieta.

- Querida. É a sua vez. – sou solicitada pela professora, eu a encaro – Se apresente para o aluno novo.

- Meu nome é não te interessa, sou de não é da sua conta e tenho o infeliz desgosto de te conhecer. – eu o digo olhando no fundo de sua alma.

   Me sento e ouso sussurros ao meu respeito. "Loca" "Essa menina é esquisita" "Qual o problema dessa garota" Como sempre, pessoas cuidando da vida dos outros, porque as suas são medíocres e escrotas demais para tomarem conta.

- Bom, vamos continuar.

   A professora simplesmente ignora o fato e segue a aula, o famoso "passa pano". Prestei tanta atenção na aula quanto um cego enxerga. Aulas maçantes sempre demoram para acabar, e foram três aulas que pareciam uma vida.

   Finalmente o sinal toca e posso ir para o telhado.

- Oi.

   A voz irritante ecoa em minha cabeça. Fico imóvel. Aprendi no Discovery Channel, que se nos fingirmos de morto, o urso vai embora.

- Tudo bem?

   Um urso seria menos arriscado.

- Que é?

- É... Eu ainda não sei o seu nome.

- Idai?

- Prazer?

- Me deixa em paz.

- Não até me dizer o seu nome.

- Escuta aqui, - pressiono-o contra a parede – acha que só porque estamos na escola, eu não posso te matar? Fica longe de mim.

   Sigo meu caminho até o telhado, infelizmente, ele me segue.

- Você é bem diferente das meninas desse colégio. É mais na sua, não tem expressão, não liga para regras. – ele fala sobre o cigarro que acabo de acender – Imprevisível mais previsível.

   Com toda a paciência que Deus me deu, assopro a fumaça do tabaco em sua face. Pode falar o quanto quiser, não consigo ouvir nada.

- Você sabe o que é um coringa? – ele tem a esperança que eu responda - O Coringa é um termo quimbundo, que significa "matar". O palhaço, é considerado tudo ou nada, a alegria ou a tristeza, a sabedoria ou a ignorância. Pode ser qual quer coisa. – ele ainda espera alguma reação – Não vai me disser seu nome?

   Nunca pensei que conheceria alguém tão insistente. Conseguiu meu respeito, mas não minha atenção.

   O "descanso" é sessado antes de meu cigarro chegar ao fim.

- Eu acho que já vou voltar para sala. Me acompanha? – suspiro entediada – Okay. Até logo Coringa.

   Demorou mas a pulga foi embora. Não vejo a hora desse inferno acabar.

*

   Finalmente essa tortura maçante acabou, o problema é que amanhã essa série continua. Vou pegar algumas bebidas e ver o que me aguarda.

   Não acredito que esse moleque não vai largar do meu pé. Ele está me seguindo a cinco quadras.

- Oi. Também mora nessa direção?

-

- Bom, vou aceitar isso como um sim. Posso te acompanhar?

- Desde quando eu virei rede social para ficar seguindo?

- É...

- Exato. Agora me erra.

   Ignorando a linda, sigo meu caminho. Entro em uma conveniência e vou até a cessão de bebidas. Pego uma Jack Daniel's, uma Absolut Vodka, um Smirnoff e enfio tudo na bolsa.

- O que está fazendo?

- Não é da sua conta.

- Você está roubando! Isso é crime.

- Só se me pegarem. E por que eu vou pagar por uma coisa que vai me fazer esquecer de tudo?

   Ele fica em choque, mas ninguém mandou ele me seguir. Saio plena, enquanto Leandro está super nervoso. Ele fica quieto o resto do trajeto todo, pela primeira vez.

- É aqui que você mora?

   Se ele vier algum dia aqui eu juro que me mato. Abro a porta e a deixo fechar na sua cara, que fica ali parado. Achei falta de educação isso, então volte, abro a porte e fiz questão de fecha-la na cara dele.

- Então boa tarde. Te vejo amanhã. - espero que não.

   Subo para meu ap e não espero um segundo para esvaziar as garrafas enquanto procuro uma festa para invadir. Finalmente, algo legal.

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