Psychiatric Hospital Silvercrest em Londres, Inglaterra.
Depois de dormir por horas, ele acordou na cama de um quarto de hospital, diferente do qual estava antes. Sua vista, ainda manchada no escuro, tentava focar no que tinha à sua frente.
Dessa vez, estava sem algemas e com roupas diferentes. Suas vestimentas eram brancas, tais como as de um paciente. O quarto era bastante simples, rodeado por objetos básicos que qualquer quarto teria.O medicamento que havia sido injetado no jovem Nikolai, fez com que seu corpo ficasse mais pesado, dificultando os movimentos e o deixando com certo desconforto ao se mexer. Porém, após alguns suspiros de dor, se pôs de pé e levou os passos até a janela, notando que a rua também havia mudado.
Onde ele estava?
Não lembrava de nada que a médica tinha dito, e sua tentativa de tentar abrir aquela janela foi falha. E aquilo, obviamente, o levou ao pânico.
Logo, correu até a porta, tentando-a abrir desesperadamente. Suas memórias sobre Hannah e seus pais mortos lhe vinha à mente, fazendo sua respiração pesar. Aquela porta nem mesmo tinha maçaneta!
Nikolai olhou para os lados e, à sua direita, notou um interfone que estava bem ao lado do banheiro. Tentando manter a calma, ele expirou e tocou no botão para chamar seja lá quem fosse. Não entendia absolutamente nada daquela mudança repentina, afinal... Aquilo era algum tipo de manicômio?Ele pensava enquanto acariciava seu braço dolorido, esperando que algo acontecesse.
— Sr. Nikolai, não é? Não se preocupe, falta pouco tempo para que possa ir para a terapia. — A voz feminina soava doce e calma naquele interfone.
— Terapia? Onde eu estou? Quer dizer... Não parece a Rússia. — Ele dizia, num tom preocupado. Sua crise de pânico, diante toda aquela mudança, era perceptível.
— Não se preocupe, suas perguntas serão respondidas na terapia. Apenas espere alguns minutos, certo? — Ela disse, finalmente cortando a ligação.
Evanoff parecia preocupado com tudo aquilo que estava acontecendo. Estava sem rumo, sem vontade de viver.
Por que Hannah não o matou? Qual foi o intuito daquilo tudo? Estava sendo castigado por ter nascido naquele mundo?
O pobre garoto, caindo de joelhos naquele chão de madeira e puxando seus cabelos, se via num poço sem fundo; despencando infinitamente em dúvida e tristeza.
Após alguns minutos sentado no canto daquele quarto, uma mulher que parecia bastante uma enfermeira comum, abrira a porta, sendo vista com um sorriso gentil estampado no rosto. O garoto levantou de seu canto com um pouco de receio e se aproximou lentamente. Era a mesma pessoa que estava falando no interfone?
— Vamos, não tenha medo. — Ela disse, em seu tom calmo, dando a certeza de que era a mesma mulher que conversava consigo anteriormente. Aquilo não fazia Evanoff tão contente, mas o possibilitou sair e observar bem o local. — Você terá horários para sair, certo? Quando a sessão acabar, vou te mostrar os lugares disponíveis para você explorar.
Niko fez que sim com a cabeça, ainda confuso. Ela o guiou para uma sala cujo nome estava pendurado na porta;
“Doutor Sebastian Michaelis”.
Um nome bem elegante e requintado, pensara. Aquele seria o homem que iria fazer sua terapia?
Sentiu um frio na barriga depois que aquela porta foi aberta. A sua frente, concentrado em uma ficha de pacientes, havia um homem extremamente bonito, de aparência elegante, aparentando ter por volta de uns trinta anos.
Cabelos negros, escuros como a noite; olhos avermelhados e pele alva. Aparentava ser muito alto, e usava luvas e terno. Depois de perceber que a porta tinha sido aberta, o doutor sorriu levemente para seu novo paciente.
— Muito obrigado, Angela. Entre, Evanoff. Sinta-se à vontade para sentar onde quiser. – Ele insinuou com as mãos erguidas para as poltronas a sua frente.
Nikolai entrou e sentou na poltrona que estava mais próxima, sentindo-se aliviado por um instante, pois estava de frente com alguém de confiança em meio aquele caos.
A enfermeira deixara ambos a sós. E, na visão de Nikolai, a aura daquele homem parecia amigável e bastante acolhedora.Mas, de qualquer modo, aquilo não o fazia sentir-se completamente bem. Afinal, sua vida estava de ponta cabeça.
Sebastian parecia calmo e concentrado, até levantar de sua escrivaninha e sentar de frente ao garoto tímido.
— Suponho que você deva estar confuso com essas pequenas mudanças. Me deixe esclarecer essas dúvidas. Está no Hospital Psiquiátrico Silvercrest, em Londres. Devido ao ocorrido, você foi transferido até mim. Tentativa de suicídio e traumas... Isso pode ser duro, entende? Eu sou um especialista, quero conhecer você melhor e saber o que está sentindo. — Ele dizia enquanto encarava fixamente os olhos do seu paciente.
Aqueles olhos eram incomuns, contudo, extremamente bonitos. Eram revestidos por um vermelho intenso, carmim, que chamou sua atenção desde o primeiro instante.
O que escutava atentamente, passou a prestar atenção no mais novo, focando em outros detalhes. Sebastian notava cada detalhe de seu comportamento.
— Como hoje é sua primeira consulta, não se sinta pressionado. Sou apenas um amigo, então por que não começa com coisas mais simples como… O que você gosta de fazer? O que gosta de comer? Se diverte muito? Me conte aos poucos. — Disse com um sorriso bobo no rosto, fazendo movimentos com as mãos enquanto conversava.
— Eu… Ahmn… Gosto de ler. Comidas doces me atraem, principalmente chocolate. Me divertir? É raro. Quase sempre estou estudando. — Revelou com certa simplicidade, já que o médico a sua frente poderia ser a luz que o guiaria em meio a escuridão.
— Livros são uma fonte enorme de imaginação. Quais gêneros costuma ler?
— Romance ou Conto de fadas.
Sebastian sorriu, se levantou e pegou um livro guardado em sua estante. “Alice no País das Maravilhas”, entregando ao rapazinho tímido à sua frente.
— Alice? Por quê está me dando isso? — Ele dizia num tom de felicidade, passado as mãos naquela capa tão delicada.
— Um presentinho para que você não se sinta entediado. Essa edição é antiga e de primeira mão. Achei que fosse gostar de algo assim. Conforme nossa Terapia for avançando, posso te dar mais coisas. — Seb disse, se sentando de volta.
— É muita gentileza da sua parte… Obrigado. — Algumas memórias de Hannah voltavam a sua cabeça como flashbacks, afetando aquele sorriso marcado no rosto.
— Não se culpe. — O doutor respirou fundo, transmitindo um olhar acolhedor. — Tudo vai melhorar, eu garanto. Agora você tem apoio e uma pessoa em que pode confiar seus sentimentos. Nos vemos na próxima sessão, Evanoff. — Concluiu, encerrando aquela sessão. Levou o seu paciente até a porta, chamando uma das enfermeiras ali presentes para lhe apresentar os locais de lazer.
Mirava o rosto esbelto, sentindo certo interesse em conhecer melhor aquele homem. Um médico gentil e misterioso. Foi uma sessão bem rápida, mas era provável que isso tudo fosse apenas uma apresentação.
Toda aquela situação ainda era péssima; mas poderia ser pior.
Depois de alguns minutos andando e explorando, teve de voltar ao seu quarto tão pequeno e tedioso.
Nikolai olhou para o livro e começou a lê-lo em sua escrivaninha, mentalizando, vez ou outra, os olhos avermelhados que tocaram sua alma naquela tarde. Ele queria ver seu médico novamente.
A luz que o afastaria de toda aquela escuridão.
Continua...
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Dancing with the Devil | Sebastian Michaelis
ФанфикA vida nem sempre é um mar de rosas. Costumamos aprender isso desde jovens, no intuito de amenizar as decepções que o dia à dia nos oferece. Para Nikolai Evanoff, tal certeza foi revelado da pior maneira possível. Logo após o trauma de perder s...