O amargo gosto do proibido

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Evanoff, durante seu sono, chorava desesperadamente. As lágrimas quentes escorriam sobre a bochecha enquanto suas expressões eram de terror e angústia. Seus pais rastejavam até seus pés em busca de ajuda enquanto Hannah os torturava. O desespero tomava conta de Nikolai, pouco a pouco, até que o coração acelerou, esvaindo o sono. 
          O mesmo se levantou frenético, com a respiração pesada. Havia sido um pesadelo. O ruivo olhou ao redor, notando que estava seguro em seu quarto. Ao menos isso o acalmava diante daquele caos sublime.

O maldito sonho fez com que seu coração fosse a mil; disparado. Estava mesmo fadado a lidar com aquilo? Nikolai pôs a mão em seu peito, fechou os olhos e suspirou, aliviado. Por um segundo, a imagem de Sebastian veio a sua mente, lhe trazendo conforto. 

Aquele doutor, pelo visto, era o único com quem poderia contar naquele momento.

Então, procurou o livro que o mesmo lhe deu de presente. Estava bem ao seu lado. Claro, após o pesadelo, acabou se esquecendo de que passou a noite inteira lendo.

Na sua cabeça, se identificava bastante com Alice. 

“Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos.” 

Aquela frase ecoava em sua mente, como uma voz um tanto parecida com a de seu psiquiatra. Iria encontrar com ele de novo, o que também o fez lembrar de seus horários de lazer. A enfermeira tinha apresentado os locais e que, sinceramente, não eram grande coisa. Nada ali era divertido, era como uma prisão. Sem falar nas pessoas loucas que frequentavam aquele lugar. Por que estaria grato em estar ali?
         Nikolai pensava, enquanto observava o relógio bem acima da escrivaninha. A enfermeira tinha lhe dito que os horários de lazer eram à tarde e as consultas de manhã.

Enfiou o rosto no travesseiro macio e ouviu uma voz feminina no interfone. Era Angela novamente. Parecia que aquela mulher de cabelos brancos e rosto jovial era determinada a cuidar especificamente de Nikolai. Aquele era um Hospital bem reservado, então já era de se esperar. 

‒ Jovenzinho? É hora de sua consulta. Preciso que se arrume imediatamente para que eu te leve até a sala de Sr.Sebastian. ‒ Ela disse, desligando em seguida. 

Nikolai sentiu sua barriga gelar e a garganta secar por segundos perceptíveis ao lembrar-se de que iria se encontrar com aquele homem misterioso novamente. Porém, simplesmente ignorou aquele sentimento de dúvida e balançou sua cabeça, decidindo se arrumar de uma vez.
          Abriu o grande guarda roupa, com suas roupas de paciente que eram idênticas, todas de coloração branca. Era torturante precisar usar um padrão ao invés de seu estilo e suas roupas mil vezes mais confortavéis. 

Depois de alguns minutos se vestindo, o mesmo pegou seu livro e apertou aquele mesmo botão para que Angela pudesse vir ao seu encontro. A mulher veio, sorridente, mas algo nela lhe deixava desconfortável. Não confiava de jeito nenhum em ninguém além de Sebastian. 

E não entendia o porquê.

Ao chegar na sala, o psiquiatra se via distraído novamente com seus papéis sob a mesa, mas dessa vez, ao ouvir a porta ser aberta, liberou um sorrisinho de contentamento. Estava feliz em ver seu paciente preferido, notando também o quão fofo este era enquanto segurava seu presente com tanto amor e apreço.
           No mesmo instante, se levantou e acolheu o garoto, segurando-o pelos ombros e o guiando para dentro. Estavam a sós novamente. Nikolai ainda tinha vergonha de olhá-lo nos olhos, mas Sebastian fez questão de manter contato visual, gentilmente. 

‒ O que está achando do livro? Parece estar cuidando bem dele. ‒ O de cabelos negros disse, observando o menor apertar cada vez mais aquele objeto. Sua aura era calma, passava uma confiança enorme e inexplicável.

‒ Eu já terminei. Não conseguia dormir, então comecei a ler até pegar no sono. ‒ Nikolai disse com os olhos vidrados naquele livro. ‒ Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.

Sebastian arregalou levemente os olhos, impressionado com a capacidade daquele garoto. Era bastante inteligente e dedicado. Ele tinha mencionado perfeitamente a frase do livro. O maior se sentou em sua poltrona de forma elegante e pediu para que o garoto fizesse o mesmo.   

‒ “A questão é: Quem é você?” ‒ Seb disse com uma voz específica para o personagem, fazendo soar um pouco engraçado. ‒ Estou orgulhoso por ter evoluído tanto.

O ruivo sorriu de forma tímida, negando com a cabeça. Ele o entendia mais do que qualquer pessoa. Sentiu o seu coração acelerar, desviando os olhos azuis daquele rosto bonito. Não sabia como agir. Mas notava que Sebastian o fazia sentir especial. 

‒ Está dizendo isso porque eu sou seu paciente. É sua obrigação. ‒ Nikolai disse num tom inseguro e triste. O que afirmava não deixava de ser verdade. 

‒ Ora, Nikolai… Não acredita que pode ser realmente dedicado? Eu sempre acreditei em você no momento em que passou por aquela porta. Você é capaz de qualquer coisa. Lembra do que Alice disse? 

‒  “Às vezes, eu acredito em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.”, eu sei. A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível.

Sebastian pôs sua mão sob a de Evanoff, o que fez com que o garoto sentisse borboletas em seu estômago, repentinamente.

O que estava havendo? Era como se passasse a apreciar cada toque, e aguardar por cada palavra sabia daquele homem.

Não deixava de ser uma sensação estranhamente boa.
 

Seus olhos fixaram nas pupilas vermelhas de Sebastian, transformando um segundo em intermináveis horas. Estava preso naquele olhar tão perfurante, como se os seus recusassem-se a desviar. Eram quase hipnóticos. 

‒ O coração de uma pessoa é uma coisa complexa e misteriosa. Você não pode vê-lo ou tocá-lo, Sem dúvida, é completamente impossível encadear o coração de outro. ‒ O doutor puxou uma rosa de dentro de seu terno e entregando-o para o garoto de olhos tão bonitos. 

Nikolai sentiu seu coração bater o mais rápido possível. Parecia confuso, mas segurou aquela rosa. Em sua cabeça, mil coisas se passavam. 

Por quê? O que aquele doutor pretendia com aqueles truques? Como ele conseguia ser tão... diferente e encantador?

‒ É por isso que é meu dever iluminar o seu caminho enquanto viaja pelas trevas; devo servir como guardião da sua chama, para que ela nunca apague. ‒ Sebastian continuou dizendo mesmo com o silêncio de seu paciente. 

O garoto à sua frente observava a rosa vermelha, lembrando da rainha de copas. Naquele momento, tinha entendido que seu coração estava perdido em uma paixão proibida. Aquele homem fazia com que esquecesse de todos os seus problemas.
           Talvez fosse o dever de um psiquiatra, mas preferia imaginar que não. Seu coração se acalmava estranhamente quando acreditava no contrário. 

Evanoff soltou um sorriso bobo. Os dois tinham perdido a noção do tempo. Angela já estava à porta, esperando para que pudesse levar Nikolai para a área de lazer. 

Como o tempo passa rápido quando estamos entretidos…

‒ Parece que perdi a noção do tempo. Peço perdão, Nikolai. Próxima sessão eu devo um livro novo. Não pensei que fosse terminar tão rapidamente. 

Evanoff fez que sim com a cabeça, agradecendo e indo até a porta, perdido em pensamentos românticos com aquele homem. Estava apaixonado. Jamais tivera dificuldade para identificar esse tipo de coisa. Porém, não sabia se isso era algo bom ou ruim.

Se o amargo gosto do “proibido” teria seu lado doce, e os atrairia para mais perto.

Era, inconscientemente, o que esperava.

Logo quando saiu por aquela porta, se sentiu sozinho. Mesmo em volta de algumas pessoas, decidiu focar seus pensamentos em Michaelis. E talvez, fosse ser assim a partir de então.

Continua...

Dancing with the Devil | Sebastian MichaelisOnde histórias criam vida. Descubra agora