CAPÍTULO XIV - SUICÍDIO

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Eu me automutilei pela primeira vez em 2020, com o objetivo de morrer. Com uma lâmina eu fiz cortes que atravessavam todo o meu braço, sangrei, mas não o suficiente. A porta estava trancada e eu estava no banheiro, demorando demais, havia acabado de brigar com a minha mãe, então ela não queria que eu me fechasse, fora até a porta e bateu, obrigando-me a abrir e a expor o que eu havia feito. Eu tentei esconder com mangas, eu tentei esconder porque não queria ser um fracasso novamente, porém logo foi visto. Mais brigas, por que eu fiz isso? Eu realmente quero morrer? Sim, na hora eu realmente esperava morrer, talvez eu fosse muito inocente para perceber que os cortes não eram profundos o suficiente, ignóbil demais para perceber. Minha mãe chorou, ameaçou-me a internação, e disse-me palavras ruins, eu me recolhi, estava errada? Prometi não fazer novamente, todavia como eu posso prometer querer estar viva se eu não tenho forças para tal? Era lúcido de que era uma promessa vazia, tão vazia quanto meu coração que suplica por um fim.

Diversas vezes eu pensei e penso em suicídio, matar-me seria a forma mais fácil de lidar com tantas abstrusidades, entretanto nenhuma das minhas tentativas foi sucesso, como sempre eu fora um fracasso, a palavra que me define, fracasso.

Cinto no pescoço, saco plástico amarrado na cabeça, beber produto de limpeza, faca no estômago, estilete nos pulsos, nada me levou lá e eu ainda estou aqui, escrevendo sobre meu fracasso, como eu estive durante todo esse livro.

Já escrevi minha carta de suicídio dezenas de vezes, crente que dessa vez seria a vez, mas nunca foi. Uma vez liguei pro CVV, centro de valorização da vida, e foi bom, foi como um abraço apertado, você pode achar que não precisa, todavia é inexorável.




Nas catacumbas da minha mente tua faceta faz-se ausente. andando sozinha nas sombras do ser o que não se sente e percebo que no passado a morte não era presente. Sentindo os calafrios do meu cortar de asas silencioso, almejando dissipar a carne e tocar-me seja osso, faço-me diminuta no meu sono ocioso. Respire nos meus pulmões, não há mais como criar razões e poupe-me suas crenças, pedidos e orações, estou cumprindo minhas sanções. Anorexia nervosa suga-me inteiriça, queira-me quebradiça, moldando-me para virar maciça. Sou sua escrava, refém de sua palavra, mande-me brava para o poço de lava das crianças que a ti amava. O gosto férrico nos meus dentes, o desconhecido é eu crente e o perdão peço aos meus entes pelo estrago dos meus acidentes. Chorando porque lágrimas caem, batimentos porque meus músculos contraem, sozinha porque todos saem. 

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