Algumas pessoas não entendem a doença, ora por ignorância, ora por não querer mesmo. Isto é, anorexia é o ato de não sentir fome, podendo ser sintoma ou consequência de diversas patologias ou fármacos, no entanto a anorexia nervosa é o transtorno alimentar no qual o indivíduo põe-se a não se alimentar, tendo, como resulta, uma perda de fome gradativa.
Uns acham que para curar um paciente anoréxico é fácil como manda-lo comer, manda-lo para uma pizzaria ou para um rodízio, comer e comer e pronto, ganhará o peso e estará curado. Não entendem que não se engorda por não querer, mas por não conseguir, ser incapaz.
Deixe-me detalhar isso: um doente não está doente porque não quer comer, muitas vezes ele quer sim comer, mas ele não pode. Não pode porque há uma pressão e uma ansiedade tamanhas dentro de si que o impedem, não sei como por em palavras o que é a anorexia nervosa, porém é o que eu venho tentando ilustrando durante toda essa história.
A anorexia nervosa faz de você uma marionete, você crê num controle irreal que na verdade está sendo controlada pela doença. Faz do doente um refém, um prisioneiro da própria mente enferma, prisioneiro do próprio corpo, querendo atingir cada vez mais um peso ínfimo e sendo mutilada pelo próprio sucesso que seria esse corpo doentio e morto.
O ideal é o afastamento daqueles que não entendem e que fazem mal para seu tratamento, seria crucial para uma cura estar rodeado de pessoas boas e que te desejam o bem, e que te escutam e que não duvidam da sua palavra. Não que aqueles que não entendem queiram-te o teu mal, mas às vezes falam coisas erradas e machucam, atrasando o seu processo. Por exemplo, meu pai vive dizendo que eu como demais, talvez ele não entenda que isso me afeta mais do que ele imagina, talvez ele não entenda que por mais que eu o ame, eu preciso muitas vezes afastá-lo para não me ferir. Ou quando ele comenta das minhas pernas serem grossas, isso pode não parecer nada para ele, todavia para mim é uma problemática.
E têm aquelas pessoas que não entendem, porém tentam falar a coisa certa, como minha avó, que diz que eu não sou doente, que diz que eu já melhorei, ainda que eu esteja doente, ainda que eu não tenha alcançado a cura, ela diz isso até para se iludir, tentando se manter otimista sobre minha patologia.
Exímia escultora que moldou a perfeita máscara e ascendeu no baile, a alta frequência da sua fastidiosa voz soa como carência e implora por bondade e veemência. Clamou por atenção e inteligência, mas não tateia o braile, a facínora cujo amor na mais tenra idade diz-se abstinência. Circunda a si mesma daqueles que lhe são proveitosos, cospe agrestia nos que lhe aparecem soberanos, chora-se aleivosia e ri-me ingratidão. Corpulenta de ácidos graxos ociosos, sequer o espelho capta-te tal qual seus instintos suburbanos, imbatível mestra da heresia que tenta esquecer do vazio e encher de avareza seu coração.
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Coroa de Ossos
Literatura FaktuCoroa de Ossos é um relato da minha luta contra a anorexia nervosa desde os meus 14 anos de idade, depois de cada capítulo tem um poema autoral sobre anorexia que eu escrevi na época em que eu passava por esses impasses. Essa versão está sem um capí...