Eu já sabia, num certo ponto, que era anoréxica, porém nunca me considerei bulímica, todavia será que eu não era mesmo? Gastando as calorias consumidas com exercícios que dependiam de tudo de mim, que esgotavam minha aptidão física e mental. Outrossim, eu era usuária de balas e geleias diet que tinham efeito laxativo, além de tomar laxantes naturais, para por para fora tudo o que havia entrado sem eu querer, para por para fora meus próprios órgãos se possível.
Ademais, fazia uso de diversos diuréticos naturais, eu ia mais ao banheiro do que realmente fazia alguma coisa importante. Tomava chás, bebidas, shakes, tudo o que fizesse a homeostasia do meu sistema excretor e digestório ser desgastada a máxima potência.
Tudo isso fez-me perceber o quão a bulimia estava alicerçada na minha anorexia, ainda que eu não notasse por não vomitar propriamente dizendo. Entretanto, eu não deixava de vomitar por ser ética e saber dos males e problemáticas, bem como câncer na garganta, o que me impedia de vomitar tudo o que eu havia comido era meu próprio organismo que não cedia. Eu tentei várias vezes, sentei-me no chão do banheiro, com a face voltada à privada, e incitei, pus o dedo, a mão, a escova de dente e tudo possível dentro da minha garganta, almejando esvaziar-me cada vez mais, porém nunca aconteceu, nunca funcionou, sequer vomitei uma vez.
A bulimia não é a doença daqueles que vomitam, a bulimia é a enfermidade que abrange todos os indivíduos que, de uma forma ou de outra, busca meios de jogar fora o que comeu, o que se chama métodos compensatórios pelos profissionais. Exercitar-se até a exaustão, laxantes e diuréticos também servem para compensar o que se foi ingerido.
Minhas asas começam a fraquejar, trêmulo e fadigado tento forçar um sorriso, mas meu destruído âmago lágrimas e petróleo põe-se a despejar. Ventos pérfidos comem-me a sanidade, moldo-me e caibo, todavia, ainda assim, a insuficiência é a falta de capacidade. Recomponho-me para cair outra vez, e, no chão, atravesso o espelho e sangro. Pare de culpar-me, chuva, pela sua escassez. Choro-te só que permaneço de pé, olha-me e diz que foi tudo em vão para comigo, grito, Deus sabe, amor, que rezei por fé.
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Coroa de Ossos
No FicciónCoroa de Ossos é um relato da minha luta contra a anorexia nervosa desde os meus 14 anos de idade, depois de cada capítulo tem um poema autoral sobre anorexia que eu escrevi na época em que eu passava por esses impasses. Essa versão está sem um capí...