Capítulo XIV

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Malika Sirhan

A água morna cai na minha cabeça com uma força maravilhosa. Fecho os olhos e aproveito a chuveirada, erguendo o rosto e permitindo que a força do jato de água massageie a pele do meu rosto. Ao contrário do que era a regra para nós quando estávamos na base da Austrália, aqui os banhos não são cronometrados para os agentes, então posso ficar aqui o quanto eu quiser.

Não que um banheiro comunitário seja muito o lugar para tomar um longo banho relaxante; mas depois dos dias que passamos sem tomar um banho decente enquanto nos escondíamos no galpão à espera das novas identidades, poder tomar um banho de chuveiro em paz no final de um longo dia é realmente um alento à alma.

Fecho o chuveiro lentamente, ouvindo passos se aproximando. Aparentemente, meu momento de paz e silêncio foi muito mais breve do que eu queria.

Duas batidas leves fazem-se ouvir no metal da porta do box que ocupo.

— Está ocupado — murmuro, vestindo as roupas de baixo. Com tantos boxes vazios, a pessoa veio justamente no que eu estou?

— Sou eu — a voz de Verona diz. — Quero falar com você antes de voltarmos ao galpão. Não tem ninguém aqui.

Pego o roupão e me envolvo nele antes de abrir a porta. Encaro Verona — ou melhor, Ayla — de viés.

— O que houve? O que é tão urgente que teria que ser discutido aqui? Não podemos ser vistas conversando.

Ela revira os olhos.

— Eu sei. Eu queria falar com você em particular.

Ergo as sobrancelhas.

— Sim. O que foi?

— Sei que tem algo estranho rolando, e eu não queria te perguntar lá na frente do Vlad, porque sei que não iam querer me contar. Mas algo aconteceu, consigo ver a mudança dele. Qual a novidade?

Coloco as duas mãos na cintura, levemente incrédula.

— Você quer saber as fofocas?

Verona dá um suspiro impaciente.

— Olha, qualquer coisa que altere o bem-estar do grupo me afeta diretamente, tá bom? Vocês querendo ou não, estamos juntos aqui. Somos um grupo. Sei que Débora e eu não temos olhos violetas, mas aqui somos uma unidade. Já passou da hora de confiarmos uns nos outros.

Passo a toalha nos cabelos, levemente envergonhada. "Sei que Débora e eu não temos olhos violetas, mas aqui somos uma unidade". Sério que eu deixei algo tão estúpido como a cor dos olhos interferir na nossa relação? Sei que a relação familiar que temos entre nós não é só decorrente da cor dos olhos, mas por estarmos juntos há muito mais tempo. Mesmo assim, se elas tivessem olhos violetas, minha simpatia pelas duas seria muito maior e esse muro que existe entre nós provavelmente não existiria.

— Tudo bem — Digo. — Você tem razão. Uma coisa muito importante aconteceu. Vlad me contou em particular.

Ela inclina a cabeça na minha direção, me incitando a falar. Continuo:

— A Sophia. Nós descobrimos que ela está viva.

Verona solta um riso curto, descrente.

— A garota ruiva? Que eu vi atirarem na minha frente?

— Sim.

Ela olha para a porta rapidamente e diz:

— Eu a vi caindo.

— Eu sei. Nenhum de nós engoliu muito isso a princípio, mas foi a mãe dela que contou para os garotos que a-...

Uma agente entra no banheiro, e eu me calo. Verona e eu ficamos penteando os cabelos em frente ao espelho enquanto a mulher entra e sai do banheiro. Enquanto isso, eu recordo como Vlad puxou meu pulso naquela madrugada, aflito como eu nunca o havia visto.

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