Capítulo X

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Malika Sirhan

Ainda não me acostumei aos novos cabelos. Nem ao novo rosto. Muito menos, à minha nova personalidade. Mas combater isso não é exatamente uma opção que eu tenha. Então só me resta tentar me adaptar.

Honestamente, não foi nem um pouco difícil me desprender dos cabelos compridos, então quando a Débora cortou meu cabelo na altura dos ombros, para mim foi até um alívio. Abrir mão das coisas às quais eu estava habituada faz com que a transição seja um pouco mais fácil.

Afinal, a partir de agora minha vida é completamente diferente, e não tem nada que eu possa fazer para mudar isso.

Sinto os pincéis de Verona sendo passados no meu rosto, me transformando em Jade novamente. Fiquei impressionada com a durabilidade disso, e como o meu rosto muda completamente só com a maquiagem que ela faz. Enquanto ela finaliza seu trabalho, concentro-me em congelar e descongelar a distância uma das prateleiras metálicas que há aqui no nosso alojamento.

Embora tivéssemos a possibilidade de arranjar quartos mais confortáveis, onde teríamos mais privacidade, optamos por continuar aqui para podermos estar juntos. Não teria como termos contato nos dormitórios sem chamar a atenção demais. Assim, tomamos banho nos chuveiros comunitários no prédio de alojamentos e, discretamente, voltamos para cá a cada noite. Até mesmo porque não teríamos como manter as maquiagens eternamente, e precisamos estar com a Verona para que ela faça a mágica com seus pincéis sempre que necessário.

— Obrigada, Verona — digo, me olhando no espelho e vendo que a Malika se foi, deixando apenas a Jade em seu lugar.

— Por nada — ela responde. — Só toma um pouco de cuidado na próxima hora para dar tempo de secar completamente.

Levanto da cadeira e pego o uniforme, indo me aprontar para mais um dia de trabalho nessa organização idiota. Ao ficar pronta, me despeço de todos e saio bem mais cedo do que de costume. Fico surpresa por ver todos eles se adaptando e criando uma vida nova aqui dentro. Todos realmente entraram nos personagens e estão agindo de forma muito diferente de como eles realmente são. Nós também evitamos ficar juntos, para prevenir que alguém suspeite que nós nos conhecíamos antes de chegarmos aqui, então acaba que eu fico solitária porque nunca fui muito boa em fazer amigos; e a Jade também não é tão boa assim.

A personalidade que eu resolvi assumir é muito distante de quem eu sou de verdade. A Jade é uma pessoa egocêntrica e bem orgulhosa. Me inspirei levemente na Anippe para criar essa personagem, mas é bem difícil para mim fingir ser algo que eu não sou.

Porém, mais uma vez, preciso me lembrar de novo que eu não tenho escolha. Tudo depende disso. Precisamos fazer valer a pena todas as dificuldades e perdas que sofremos para chegarmos até aqui.

Saio do prédio olhando para os lados, mas, como sempre, não há ninguém aqui. Traço meu rumo para o refeitório, e me abasteço com um café da manhã farto e saboroso. Apenas mais duas pessoas sonolentas estão aqui, já que a maioria dos agentes começa a trabalhar às 8h e ainda são 6:45.

Rumo para o prédio principal da base: o Centro de Produção de Medicamentos. Embora Daniel tivesse falado para nós que essa base foca mais na parte de produção e distribuição de fármacos, me surpreendi ao chegar aqui e ver que existem outras funções sendo desempenhadas no mesmo estabelecimento. Porém, o enfoque principal da base austríaca é realmente a pesquisa e a produção de medicamentos, que é a principal razão por estarmos aqui.

Desde o primeiro dia em que pudemos conviver com as pessoas daqui eu me concentrei em descobrir quem eram os responsáveis pelo campo de medicamentos. Meu plano era tentar ver quem era o mais amigável e me aproximar dessa pessoa, para conseguir ser alocada para este prédio. Não esqueci nem por um segundo que estamos aqui para descobrir mais sobre o antídoto, então tudo que eu pudesse fazer para estar mais perto de qualquer fonte de informações a respeito desse antídoto, eu faria.

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