Capítulo XVIII

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Malika Sirhan

Aperto o botão da lança, e ao mesmo tempo que ela se estende e atinge um agente próximo a mim, lanço um jato de gelo na direção de mais três, me sentindo viva como não me sentia há muito tempo. A sensação é que, por um instante, estávamos mortos; e num piscar de olhos, voltamos a viver.

Não tinha como vencermos o tamanho do exército de agentes que vieram nos interceptar. Quando fomos presos dentro dessa ratoeira, e fecharam todas as saídas, eu sabia que não haveria escapatória. É isso que a separação de um grupo faz: se nós estivéssemos juntos, nós seis, o Bernard abriria um portal para fora daqui e estaríamos livres e a salvo em poucos segundos. Mas estávamos separados, e não havia esperança.

Até que houve.

Meu coração quase pulou pela boca quando vi um brilho azulado se abrindo ao nosso lado. Um brilho familiar demais. A sensação do ar sendo sugado na direção daquele círculo luminoso que se abria perto de nós. E então eu os vi. Aisha, Akira, Anippe, Bernard e mais um exército de soldados que já percebi serem extremamente preparados, juntando-se a nós, literalmente nos salvando da morte certa.

— Avante! — Ouvi uma mulher, forte e claramente de alta patente, gritar e gesticular em direção aos nossos inimigos.

Vi nos olhos da Aisha toda a emoção que eu também sentia em revê-los, ainda mais naquela situação. Como sempre, o timing foi perfeito.

E foi a alegria de rever aqueles lindos olhos violetas que me fez cair na batalha com ânimo renovado.

Por outro lado, os agentes da OCRV pareceram atordoados ao ver aquele reforço chegando literalmente do nada. Não sei exatamente em que tipo de lugar eles estavam; mas o nível das armas que o exército que veio com eles trouxe é de desesperar qualquer adversário. Armamento de fogo de primeiríssima categoria, com uma tecnologia que deixaria a OCRV totalmente no chinelo. Além de estarem equipados para a batalha, os soldados liderados pela alta mulher com a pele cor de chocolate parecem extremamente treinados e sedentos por sangue. Rapidamente, eles tomam a linha de frente, se interpondo entre nós e a maior parte dos ataques.

Aisha (uma Aisha tão diferente, com os cabelos cortados e pintados) posiciona uma nova arma na frente do seu corpo, e vejo fogo sendo atirado por virotes. O tempo parece desacelerar quando vejo uma espécie de míssil em miniatura vindo na direção do peito dela, mas a coisa mais esquisita do mundo acontece: o tecido violeta da frente de sua jaqueta forma placas peroladas, que absorvem o impacto, e ela apenas cambaleia para trás enquanto o projétil cai no chão.

Vou em sua direção, correndo de lado, sem baixar a guarda, e a puxo pelo braço.

Seus olhos não me reconhecem no ato por conta da maquiagem que me transformou em Jade, mas na hora em que ela olha nos meus olhos, um brilho de reconhecimento passa pelo seu rosto como uma estrela cadente. Imprudentemente, ela me puxa para um rápido abraço emocionado.

— Mali! Que saudade!

— Aisha, o que foi isso? Você está bem?

— Sim! — ela grita, acima do som da batalha. — São roupas novas que nos protegem!

Um estrondo, e sem pensar direito, estendo a mão fazendo uma grossa parede de gelo aparecer à nossa frente. Em uma fração de segundo, inúmeros buracos e rachaduras aparecem no nosso escudo improvisado.

Puxo-a novamente para um abraço de um braço só, por estarmos agarradas em nossas armas. Sinto um calor no coração, e mordo o lábio para tentar conter minhas lágrimas.

— A gente tem muita coisa para colocar em dia — ela diz. — Vamos vencer isso para podermos conversar, tá bem?

Assinto, e como que sincronizadas, saímos de trás da parede de gelo.

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