Take umbrage

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As colunas cuspiam a música a um som alucinante - pelo menos para Ivan, cuja cabeça pesada não aguentava mais ouvir. Sem hesitar, levou a mão ao botão que rapidamente premiu, para que finalmente alcançasse a paz.

-Oh! Mas eu estava a gostar tanto! - replicou, teatralmente a sua irmã.

- Podes falar mais baixo? - ordenou, irritadinho.

- Estou a ver que a noite de ontem foi... como é que vou dizer isto sem te magoar? - questionou retoricamente, em tom de gozo.

- Para com isso, por favor...

- Afinal o excelentíssimo senhor Ivan tem maneiras! E fui uma privilegiada por ter tido a oportunidade de presenciar este momento tão emocionante e marcante para a minha vida - mais uma vez, aquela entoação desdenhosa apoderara-se da voz melodiosa de Melanie.

- Quando é que te começas a comportar como a minha irmã mais velha? - questionou, irado.

- A partir do momento momento em que tu, meu menino - estendeu o dedo indicador para o local onde a ponta do narizinho de Ivan se encontrava e encarou-o furiosamente - te começares a comportar como alguém crescido e deixares de ser o seguidor eterno do Steve!

"Seguidor eterno do Steve?!" mas quem é que ela pensava que era? Ivan? Um simples adorador de Steven? Nunca na vida - ou pelo menos ele nunca admitiria tal facto, e talvez, um dia mais tarde quando finalmente se apercebesse, de que em parte, era o servo de estimação do melhor amigo jamais o iria proferir ou confidenciar com alguém.

- E não me olhes com essa cara, meu menino. - Mel não estava irritada, queria apenas transmitir esse estado de espírito para que o seu irmão se apercebesse do quanto era importante que ele mudasse - Tens de te tornar responsável e começar a utilizar essa massa cinzenta.

Ironicamente o seu irmão bateu com o punho no crânio, de forma a que o som reproduzido se assemelhasse ao de um local oco. E instantaneamente, o ambiente suavizou-se e os dois puderam rir-se à vontade.

- As aspirinas estão no porta luvas e tenho uma garrafa de água na mala - indicou maternalmente.

- Obrigada - agradeceu Ivan, despontando no rosto de Melanie um sorriso. O rapaz acercou-se dos comprimidos e da garrafa de plástico translúcida. numa mão colocou uma pílula esbranquiçado enquanto que com a outra segurava o recipiente com o líquido da vida. Engoliu-o em seco e por isso ficou com uma sensação estranha na sua garganta, que tentou quebrar com uns quantos goles de água.

Ao fundo da estrada já se avistava a enormidade de um edifício branco, de janelinhas de madeira. Ivan começava a distinguir caras conhecidas e ânsia de ter como companhia os seus amigos apoderara-se de si.

- Tem juízo meu menino - aconselhou a irmã, quando este colocou a mochila às costas, já na rua.

- Sempre... - respondeu o outro.

- Oh, e não te esqueças de mandar cumprimentos ao meu adorado Steven - troçou - não te esqueças de lhe dizer o quanto o amo.

E o carro partiu, deixando para trás, em frente do portão da escola, rindo e abanando a cabeça em eterna e plena negação.

Please, don't goOnde histórias criam vida. Descubra agora