Dear Mr. Vernon

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        Aquela proximidade entre os dois não era habitual. A respiração dele aquecia docemente o pescoço de Gisele. Ela queria rir. No entanto, a gargalhada ficara encarcerada pelo constrangimento e timidez repugnante sentidos pela rapariga.

        Tossicou sem saber ao certo a razão - ou talvez soubesse mas não quisesse admitir. Raphael encarou-a e nesse mesmo momento o seu coraçãozinho de manteiga derreteu com o calor do olhar do rapaz.

        - Estou a fazer alguma coisa errada? - questionou com aquela preocupação enjoativa e pegajosa.

    - Não... não... - subitamente, um fluxo massivo de sangue decidira alojar-se na sua face - continua.

        - Estás estranha hoje. Se quiseres que vá embora diz.

        Gisele só conseguia pensar que se lhe pedisse para ele ir, Raphael nem pensava duas vezes. Sairia sem olhar para trás, deixando-a com os seus pensamentos e remorsos.

        - Ainda temos meia hora - contrapôs, verificando as horas no seu relógio de pulso colorido.

        - Não me importo que fique para outro dia.

        - Não sejas preguiçoso, menino Raphael! - exclamou, tentando recuperar a sua postura diária - Temos de acabar o que começamos.

        Aquilo que ela sentia por Rapha era puramente estúpido. Porém, consciente da estupidez supérflua dessa "paixão", Elle não conseguia combatê-la! Diria até que era mais forte do que ela, uma droga que necessitava de consumir.

        - Ok, ok. Mas quando acabar este, vou embora.

        - Vamos lá começar, então.

        Não foram precisos dez minutos para que o rapaz cruzasse o vão da porta e deixasse a pobre e tímida Gisele só, deambulando pelas divisões. Ficava naquele estado vegetativo até que os seus pais voltassem, todas as quintas feiras, depois de Raphael sair.

        Eram colegas de turma desde o primeiro ano. Desde então, o fedelho irritante e mimado transmutara-se para um rapaz sexy e mimado - sim, porque esta caraterística tão aliciante nunca o deixaria. E, com este suposto amadurecimento físico, Gisele caíra de amores por ele. E não fora uma queda suave e lenta, ah pois não! Fora um tombo abrupto e violento cujo fim continuava desconhecido. 

        Ora, fora por esse motivo que tão gentilmente se disponibilizara a dar explicações de matemática. Inicialmente realizavam-se à segunda feira; no ano seguinte passaram a ser à quarta por volta das duas da tarde; desde há dois anos que o encontro rotineiro tinha lugar à quinta feira. E foram esses mesmos dias, que ao longo dos anos tornavam a semana de Elle ainda melhor. 

        Começava aos poucos a retomar a sua existência, voltava à normalidade. Era momento para a ressaca, para se odiar por ter contraído tais sentimentos por uma criatura tão... Nem sequer conseguia descrevê-la, de tão horrorizada que se encontrava.

        Dirigiu-se para o quarto, o seu santuário, o local onde de certa forma poderia ser ela mesma sem qualquer tipo de preconceitos, onde os únicos juízes seriam a Matrioska, o urso de peluche e os indivíduos presos na coleção de globos de neve.

        - Porquê Mr. Vernon? - perguntou ao animal de pelúcia e olhos alegremente esbugalhados.

     

Please, don't goOnde histórias criam vida. Descubra agora