CAPÍTULO 4

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Começo a dar voltas e voltas em meu quarto como uma barata tonta. Eu detestava acordar no meio da noite depois de um sonho estranho, era sempre difícil voltar a dormir.

Me sento em frente a escrivaninha ao lado da minha cama e encaro o espelho. O que eu via em meu reflexo era um rosto cansado, com a maquiagem borrada e grandes olheiras debaixo dos olhos. Eu precisava descansar, mas o ritmo do mundo não diminui conforme os nossos desejos.

Olho a tela do meu celular, são três da madrugada, às cinco eu começo a me arrumar para a faculdade. Tenho duas horas livres até lá, o que posso fazer? 

Vejo minha atenção ser fisgada para o pacote que há pouco tempo roubou o resto da minha paz. Sinto uma estranha e forte força me impelindo a abri-lo. Como se vozes dentro de minha cabeça estivessem dizendo: 

-Helena pare de enrolação e leia logo essa carta. 

Em momentos como este, eu acredito que existam outras dimensões, onde pessoas me observam e esperam algo de mim. Que tolice, não é como se eu fosse o personagem de um livro, filme ou algo assim. Nossa, eu precisava mesmo descansar. 

De qualquer maneira, essa vontade faz sentido, é melhor eu ver o que meu avô deseja comigo. Abro o pacote que ele me enviou, tiro de dentro uma folha de caderno dobrada, um DVD em sua capinha e uma chave prateada. Que combinação estranha. 

Desdobro o papel e leio as palavras de meu avô, surpreendentemente ele tem uma caligrafia linda, eis o que ele escreveu: 

Helena, minha neta. 

Esta carta não é um pedido de desculpas e nem uma tentativa de reaproximação. Em breve você entenderá os motivos do porque me afastei de você e de sua mãe. 

Estou cumprindo aqui o meu último dever como esposo, pai e avô e estou cortando de vez meus laços com as Rosas. 

Estou enviando junto com essa carta um DVD, antes de seu nascimento sua mãe me pediu para te entregar, caso um dia acontecesse algo com ela. 

Nele você encontrará o segredo por trás de seu nome. O qual sua mãe já acreditou ser uma benção e eu tenho a convicção de ser uma maldição. 

Junto com o DVD e a carta estou te enviando a chave da casa onde morei com sua avó. No escritório você encontrará alguns livros que podem sanar sua curiosidade, ou parte dela.

Te desejo sorte, você vai precisar.

PS: não estou em condições de fazer pedidos, mas se puder, não cometa o mesmo erro que sua mãe e avó. 

Adeus.

Então esse era o motivo por trás da carta, cortar laços que não existiam e revelar um segredo. O que tinha afinal de tão grande em meu nome? Que tipo de segredo poderia causar tanto burburinho, ser considerado uma maldição e afastar um pai de sua filha?

Essa história me deixou curiosa, mas também incomodada.  Que carta estranha, repentina e inconveniente.  Talvez eu devesse descobrir logo o que existia por trás daquilo. 

Abro a capinha do DVD e o coloco no suporte do meu notebook, faz tempo que não vejo um desses. A tecnologia evolui cada vez mais e as novidades de hoje, já são ultrapassadas amanhã. 

Localizo o arquivo e torço para ele rodar, vai saber por quanto tempo aquele DVD estava guardado. Acho que alguém ouviu minhas preces, porque na tela do meu computador, diante de mim, estava a mesma mulher que em alguns momentos vi em meu sonho. 

Com o cabelo preso para trás em um rabo de cavalo, as mesmas roupas coloridas e uma enorme barriga de grávida, minha mãe. 

Pisco os olhos para segurar as lágrimas que já queriam se formar, aquele não era um momento para ficar emocional. Afasto a tristeza e dou play no vídeo. 

Com um ar agitado minha mãe olha para os lados como se procurasse alguém. Ela se ajeita na cadeira, alisa a barriga e relutantemente começa a falar: 

-Oi, Helena, Rosa Helena, minha querida filha que carrego em meu ventre. 

É difícil para mim gravar esse vídeo, mas preciso encarar todas as possibilidades e se você o está vendo é porque infelizmente já não estou mais ao seu lado. Isso parte meu coração, eu te amo tanto sem nem te conhecer. 

Mas essa é a vida, o que o universo nos dá, ele um dia também nos tira. 

Espero que você tenha crescido bem, que seja forte e que tenha energia para correr atrás dos seus sonhos.    

Meu bebê, você deve estar com quase vinte anos e uma vida agitada pela juventude. Mas eu tenho que te dizer, que tudo está prestes a ficar ainda mais turbulento.

Este é o momento de você conhecer o segredo por trás de nossa família e o mistério por trás de nossos nomes. 

As coisas que vou contar podem parecer um pouco malucas ou até mesmo mentiras, mas por favor filha, mantenha a mente aberta, você vai precisar. 

A história é a seguinte, há muito tempo atrás, uns cem, cento e cinquenta anos, o pai da mãe da sua tataravó fez algo horrível. Vamos apenas dizer que ele era uma pessoa horrível, hoje em dia ele seria chamado de serial killer. 

Esse homem, nosso ancestral, matou no total doze mulheres, todas inocentes. Ele era um doente, um monstro. Escolheu cada uma delas a dedo e transformou seus cadáveres em bonecas. 

Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem haver com você, afinal no que um homem doido do passado influencia seu presente? 

Se a história acabasse aqui, esse seria apenas um relato irrelevante que nunca conheceríamos, mas as coisas foram além. Nesse momento tudo ganha um ar de loucura, por favor tente acreditar no que vou te contar. 

No portão da vida após a morte os doze espíritos daquelas mulheres se encontraram, indignadas por suas injustas mortes clamaram por justiça. Os deuses, divindades, porteiros, ceifadores ou sei lá quem que estivesse no controle daquele lugar, resolveu as escutar. 

Não me pergunte o porquê deram ouvidos bem a elas entre tantos mortos, não posso te dar uma resposta. Eu suponho que ou eles estavam de ótimo humor ou estavam muito entediados naquele dia. 

No fim um pacto foi feito e ele nos influencia até hoje, o pacto das Rosas. 

Este é o acordo que foi feito: uma vez por mês, durante uma semana, um dos doze espíritos vive no corpo das descendentes mulheres do assassino, sempre as primeiras filhas. Elas se revezam entre si, ou seja se em Janeiro temos uma, em Fevereiro teremos outra.

Tudo começou com a mãe da sua tataravó, Rosa Isabel, a partir daí, como sinal do pacto, toda primeira filha mulher da nossa família se chama Rosa. 

Todas nós passamos por isso, ao fazermos vinte anos as encarnações começam e seguem até nossa filha fazer vinte anos. 

Como quase nada é eterno, hoje já não são doze espíritos e sim quatro. A razão disso é que quando um dos espíritos sente que viveu tudo o que tinha que viver, pode partir em paz.

Minha filha, seja forte, essa história pode ser uma bênção ou uma maldição, vai depender de você. Você pode viver momentos maravilhosos ou momentos insuportáveis,  persista e mantenha a força em todos eles.

Na casa de sua avó existe uma coleção de diários que podem te ajudar, foram escritos por mulheres da nossa família. Peça para seu avô ou avó para ter acesso a eles.

Persistência minha garota, sempre se lembre que eu a amo, torcerei por você de onde quer que eu esteja. Que o universo te abençoe. 

As 12 Pétalas da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora