𝐄𝐒𝐓𝐑𝐀𝐍𝐇𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐍𝐇𝐄𝐂𝐈𝐃𝐎𝐒

M A N I C Ô M I O

   
  Está escutando a sinfonia? O belo som do vidro espatifando-se contra a parede da sala, as chave girando na fechadura e o ronco do motor? Não ouve o choro e soluçar repetitivo? As goladas no gargalo do uísque barato? Essa é a bela melodia que escuto por todos os meus poucos e melancólicos anos de vida. Porém atualmente está mais regular e escandaloso.

   Estou quase chegando ao ponto de me levantar sacudir o corpo da morena um pouco alcoolizada e esbofetear seu rosto. Como eles são capazes de causar esse belo teatro todos os dias? Pergunto a mim mesma, pois não suportaria indaga-los frente a frente e ouvir tantas desculpas hipócritas em uma só frase. Nunca houve estrutura, psicológico e muito menos maturidade dos dois, então por que casar? Por que ceifar a vida de uma criatura angelical e inocente que não tem culpa dos erros de adultos irresponsáveis? Não me refiro a mim mesma, pois minha mente está tão gasta e poluída que estou longe de ser angelical. Me refiro ao ser minúsculo que treme agarrado ao meu tronco e respira com dificuldade, devido ao nariz obstruído. Que clama ao céus para que isso não se repita e que possamos ter paz pelo menos uma vez. É como uma facada no peito ouvir esses sussurros de uma criança assustada e desolada. Jamais me perdoarei por não ser capaz de tirá-lo daqui e curar sua mente, pois como alguém ferido a faca cura alguém com um tiro no peito? Não sou capaz, nunca serei.

  Ele é minha única responsabilidade... Eu clamo para que pelo menos ele não cresça amargurado e ferido. Por favor, se alguém me escuta... Ajude-me, ou melhor, ajude-nos. Gostaria de poder sair daqui com ele e viver bem, mas eu não posso. Esse sentimento de impotência me esmaga aos poucos. Por que eles fizeram isso?! Por que nos algemar a uma vida tão infeliz? Ele precisa ser forte e aguentar até que eu tenha autorização por lei a ser dona da minha vida. Só assim sairei com ele e fugirei para o mais longe possível desse manicômio, onde os diretores são os imaturos dos meus pais.

  "Respire... Tudo vai passar." Foi a única coisa que fui capaz de dizer antes dele finalmente adormecer, pelo menos assim ele não ouvirá mais esta tenebrosa sinfonia... Pelo menos não até o dia seguinte.

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