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O mês se passou incrivelmente rápido. A lua cheia, bem no inicio do mês, foi incrivelmente calma, ao que Remus deu a explicação:

- A próxima lua cheia será ao mesmo tempo lua de sangue. Eu já passei por duas dessas, e vocês não vão querer estar perto, nem em forma de animais. Por isso não foi ruim nessa. Como se guardasse o pior para depois.

- O que acontece quando é lua de sangue e lua cheia? - Peter pergunta.

- Agressividade. - Ele faz uma cara triste.

Nenhum dos três amigos gostava dessa cara triste. Porque sabiam que ele não estava mal com algo a sua volta, mas com decepção e ódio de si mesmo. Por um momento Sirius pensou em pular para cima do amigo e abraça-lo até que sorrisse. Mas não faria isso. Remus passou o mês inteiro o evitando. No começo ele pensou que poderia ser só impressão dele, mas agora tinha certeza.

Ele estava passando mais tempo na biblioteca e na torre de astronomia. Nem sequer comemorou junto quando o antigo batedor da grifinória sumiu com um pulmão por transfiguração mal feita e Sirius teve de assumir seu lugar. E, o mais estranho, é que Lupin começou a se oferecer para fazer suas tarefas.

Florence não o procurava mais tanto, e, ao que ele soube, estava saindo com um sonserino. A única coisa que o incomodou nisso foi que ela preferiu um dos amigos de Seboso a ele.

E pela primeira vez no ano todo, quem acorda Black pela manhã não é Remus de um jeito carinhoso, mas James. O amigo abre sua cortina e puxa sua coberta gritando algo como:

- O jogo é em duas horas, melhor se apressar!

- O sol nem nasceu direito! - Ele puxa as cobertas para cima de si mesmo, mas antes que conseguisse, seus pés e tornozelos são puxados para cima, e ele vê Prongs segurando a varinha. - Me põe no chão! - Sirius se debate como peixe na rede de pesca.

- É, agora parece que você já está mais acordado. Se não se lembra, preciso de sua ajuda para o último verso da música que vou cantar para Lily quando ganhar. - James desfaz o feitiço e o outro se estatela no chão.

- Você me tirou 50 belos minutos de sono por isso? - Sirius deixa transparecer toda a raiva que acordar cedo causa.

- Desculpe se privei senhor Black de seu sono da beleza. - James desdenha.

- Dá para os dois calarem a boca? - Remus estava sentado na beirada da própria cama.

- Desculpe. - Os dois respondem.

Sirius observa o amigo recém acordado, então se dá conta de que nunca o tinha visto nos primeiros minutos depois do sono - apenas nas horas que ele dorme depois da transformação, mas isso não contava. Lupin estava com o cabelo desgrenhado, ele percebeu, e coçava os olhos com a mão em uma tentativa de acordar melhor, logo depois alongava os braços e o pescoço. Tudo isso de uma forma sexy, não, não é essa a palavra, de uma forma fofa, não, também não. Pensando bem, sim. Era extremamente fofo, Sirius pensou, pois nos primeiros minutos da manhã ele parece perfeitamente incapaz de alguma tirada irônica ou de te bater.

- Enfim, se arrume Pad-foot, o jogo é em - James olha o relógio - Uma hora e quarenta e cinco minutos. - E sai do quarto, já perfeitamente arrumado, para a sala comunal.

- Como Peter consegue continuar dormindo depois de todo esse barulho? - Remus pergunta indignado.

Sirius dá de ombro. Tinha a perfeita sensação de que sua cama o chamava para voltar a dormir.

- É bom se arrumar, ou James vai de azarar pelo resto da manhã.

O jogo... Sirius tinha evitado pensar sobre o jogo, principalmente porque só havia feito um mês de treino e nunca tinha jogado em um time de verdade... Ele inconscientemente segura o antebraço direito com a mão esquerda, na mais infantil demonstração de nervosismo que ele disfarçava com seu ego inflado durante todo o decorrer do mês. 

- Está ansioso não está? - Remus anda até o lado do amigo, que toma consciência de seu gesto infantil e o desfaz imediatamente. 

- Talvez um pouco, mas nosso time está simplesmente invencível esse ano. - Sirius recompõe a postura e o orgulho pomposo, que lembrava, bem no fundo, Walburga.

- O homem pode sair da tapeçaria Black, mas a tapeçaria Black nunca sai do homem. - Remus murmura baixinho.

- O que?

- Nada. - E Remus saiu do quarto para o banheiro.

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Estar apaixonado pelo seu melhor amigo é um desafio mais difícil do que parece. Lupin se esforçava ao máximo para continuar agindo normalmente perto dele. Acordando o amigo do mesmo jeito, fazendo as mesmas piadas... Mas não era assim.

Ele simplesmente não conseguia, sempre que tinha a oportunidade se esforçava para sair de perto dele. Exceto em um momento especifico, pouco depois de ele se dar conta de que estava plenamente fodido, ou, leia-se, apaixonado:

- Para onde está indo? - Remus perguntou tentando parecer desinteressado enquanto fazia suas lições de casa. Já estava anoitecendo.

- Vou procurar Flor. - Sirius respondeu com um sorriso malicioso. - Tenho umas lições acumuladas.

- Sabe... Se você quiser eu posso fazer. - Remus disse pigarreando. 

- Você não se oferece para fazer as nossas tarefas!! - James reclama levantando o olhar do próprio exercício. 

- Prongs, meu caro, Remmie só se oferece porque morre de ciúme de minhas recompensas. - Sirius diz com voz de quem explica o obvio.

- Recompensas? Que recompensas?

Ninguém respondeu nada, então o assunto morreu. Mas não foi a única vez que coisas parecidas aconteciam. Os marotos sempre implicaram uns com os outros fingindo flertar, nunca teve problema, mas agora Remus simplesmente não conseguia fingir flertar com Sirius e sentia uma palpitação descomunal quando Sirius fingia flertar com ele.

Nesse momento Lupin estava no banheiro se arrumando para assistir ao jogo de quadribol. Faltava exatamente uma semana pra a lua cheia - e a lua sangrenta - , então os sintomas da Tensão pré Lunar estavam começando. Eram dores no corpo, dores de cabeça e certo desequilíbrio emocional que sempre apareciam nessa véspera do mês. E ele nunca comentou sobre sua Tensão pré Lunar (ou TPL) para os marotos.

O motivo era obvio, não? Talvez fosse apenas paranoia, mas ele tinha receio que seus amigos fizessem piadas relacionadas a estranha semelhança de uma TPL com uma TPM e, bem... Era melhor não. Sem contar que eles provavelmente já percebiam seu desconforto antes das luas cheias.

Quando desceu para o café da manhã, tudo estava agitado, os grifinórios conversando alto sobre como ganhariam o jogo, assim como os corvinos. Os lufanos diziam não tomar partido nessa disputa e os sonserinos diziam torcer para a corvinal, mas na verdade apenas torciam para a derrota grifinória. 

Remus se juntou a seus amigos, todos ansiosíssimos para a partida, mesmo que tentassem esconder, mas James estava genuinamente convencido de que ganharia não só a partida, mas o coração de Lily Evans... Coitada... 



Wolfstar - 6º anoOnde histórias criam vida. Descubra agora