PORTA 1 (pt. 1)

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A primeira coisa que Jihyo sente é um pequeno impacto que reverbera por sua coluna vertebral. Em seguida, uma leve tontura a pega desprevenida. Com os olhos apertados e uma respiração pesada, ela começa a se acostumar com a escuridão e percebe a silhueta da outra mulher sentada ao seu lado. Ela também parece desnorteada.

- Sana. - Ela consegue dizer. - Nós chegamos.

A japonesa apenas assente, empurrando a porta que as confina naquela cabine.

A luz forte machuca, mas as duas se direcionam para fora da Caixa.

A Park analisa o ambiente ao seu redor. Paredes de concreto bruto conferem ao aposento um sentimento de calabouço, e o teto baixo contribui para a sensação. O ar parece úmido, abafado. Uma mesa de metal está centralizada na sala, com pilhas de papéis e restos de embalagens de comida. É quase impossível enxergar o chão, com centenas ou milhares de fios esparramados que saem das diferentes máquinas em direção à Caixa. Um zumbido constante é a única coisa que se ouve.

Jihyo se pergunta se Sana reconhece esse lugar. As cientistas se encaram. A garota de cabelos castanhos está tão confusa quanto a coreana, mas um brilho estranho atravessa seu rosto pálido.

- Não sei que lugar é esse. - Ela comenta, como se respondendo o questionamento da parceira. - É apenas... um dejavu. Como se, de alguma forma, eu já estivesse aqui antes. Nunca vi esses aparelhos, nem a construção. Não sei onde estamos.

Ela engole em seco, sentindo as lágrimas chegarem.

- Talvez devêssemos voltar, Jihyo. Podemos entrar na Caixa e retornar agora ao corredor.

A coreana nega.

- Não, não podemos. E se esse for o mesmo universo? Não reconhecer um local tão específico não significa que é uma realidade completamente diferente. Quer dizer, Seul é uma cidade imensa.

- Você tem razão. - A mulher de cabelos castanhos responde, acompanhando a lógica da mais nova. - Talvez estejamos apenas do outro lado do município. De qualquer forma, podemos dar uma olhada aqui e ver se encontramos algo importante.

...

Elas tinham, de fato, adquirido coisas relevantes.

Os papéis espalhados pela mesa pareciam conjuntos de equações quânticas que, apesar de não ter tempo para realizar uma constatação de tamanha complexidade, Sana especulou que poderiam ter relação com a construção da Caixa em si. Jihyo focou em uma busca por outros frascos da substância bloqueadora, mas não encontrou nada parecido nos armários.

As duas só perceberam a ausência de um fator essencial quando o encontraram. Dinheiro. Uma bolsinha com cerca de 300 mil wons repousava sob uma camada de lixo e elas aceitaram o empréstimo de bom grado. Ou melhor, Jihyo aceitou.

- Não é roubo, Sana. - Ela insistiu, vendo a outra relutar em levar a quantia. - Se este for mesmo o nosso universo podemos voltar aqui e devolver depois.

A mais alta parecia pensativa, o que irritou a engenheira química.

- Puta merda! Você quer voltar para casa ou iniciar um debate sobre moral e ética na porra desse cativeiro? Se te incomoda tanto, fique aí. Eu estou caindo fora e vou levar o dinheiro atrás. - Jihyo explodiu, dando as costas e se direcionando ao que parecia uma escada desgastada em um dos cantos do cômodo.

Minatozaki Sana novamente sentiu que poderia chorar, mas ela não queria parecer fraca perto da agora nem tão desconhecida mulher. Todo o estresse da situação, a confusão e a possibilidade de vagar eternamente por realidades que não eram a sua estavam deixando a japonesa extremamente sensível. Secando as lágrimas que insistiam em cair com as costas da mão, ela seguiu a coreana com um biquinho chateado.

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