PORTA 5

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Sana podia dizer que sim, ela havia sido convencida por Jihyo. Como ela diria não? Estava caidinha demais para isso. É claro que ela não admitiria para ninguém, então preferia fingir que acreditava que era porque não havia outra opção e ela estaria sendo egoísta se não o fizesse. De qualquer forma, ela realmente ficou decepcionada por não cumprir as expectativas - que Jihyo também não confessaria, mas que alimentava - de levar as duas para casa. Aquilo já estava ficando cansativo e previsível.

Abra uma porta, caia em um mundo desconhecido, torça para não ser a criminosa mais procurada da nação ou algo do tipo e encontre um teto para dormir. No dia seguinte, repita o processo. Não vai ser diferente, mas você pode se iludir e pensar que sim. A mais velha dizia para si mesma, com doce tom de ironia. Ela estava bastante agoniada e, principalmente, cansada. Era exaustivo como correr em círculos, sem chegar a lugar nenhum.

Além disso, ela tinha noção do quão triste a outra estava com tudo aquilo, por mais que ela tentasse disfarçar. Depois de ouvir toda aquela história com Nayeon, a física não conseguia tirar isso da cabeça. Sabia que Jihyo não ficaria verdadeiramente bem até encontrar a irmã, porém, após Sana contar sobre seus sentimentos em relação à ela, era tudo diferente. Não porque a menor quisesse apenas agradar ou evitar que a Minatozaki se machucasse, mas porque era um sentimento que gostaria de preservar, que também pulsava em seu peito e que tornava tudo um pouco mais suportável. Estava tão longe de casa e Sana representava um pedacinho de seu lar, mesmo que a garota não tivesse realmente nada que a lembrasse de sua realidade.

Ela era um universo à parte e Jihyo almejava pertencer a ele.

Era por isso que, por mais que quisesse e precisasse retornar o mais rápido possível, ela se esforçaria para que o tempo ao lado da outra garota fosse agradável. Se as coisas não funcionavam do jeito que ela desejava, ao menos poderia melhorar a situação para as duas.

- Vamos comprar alguma coisa para comer e podemos tentar novamente. – Ouviu a maior dizer.

Dessa vez ela tinha sido mais pragmática e rápida no plano de identificação: ao chegarem àquela Seul, Sana resolveu que simplesmente pagaria um telefone público e ligaria para a Universidade em que trabalhava, como se fosse uma colega que precisava falar com ela.

- Minatozaki Sana. M – I – N – A – T – O – Z – A – K – I. Sim, é japonês. O setor? Ela trabalhava no laboratório 153A, mas pode ter mudado de departamento. Olha, a área de pesquisa dela é física quântica. Sim, ela tem doutorado. Obrigada, vou aguardar.

Ela direcionou aquele olhar divertido para a Park enquanto esperava.

- Uma mulher muito ocupada essa sua amiga?

- Ah, sim, muito. Você sabe como são esses doutores... Principalmente os metidos à cientistas.

- Uns exibidos, concorda?

- Definitivamente... Olá, ainda estou na linha. Ela está no horário de almoço? Tudo bem, eu ligo outra hora. Deixar recado? Não, não é nada urgente. Eu procuro ela mais tarde. Obrigada de novo, viu? Tchau. – Ela saiu da cabine telefônica. – Pois é, eu estou lá. Acho que isso explica muita coisa.

E, agora, ela sugeria que voltassem quase que imediatamente para a Caixa. Jihyo sabia o motivo da pressa. Não era exatamente vontade de Sana fazer tudo com aquela rapidez, quase sem ter a oportunidade de respirar, mas possivelmente ela se sentia pressionada com a responsabilidade toda em suas mãos. A coreana carregava uma sensação de culpa por ter pedido - exigido - aquilo dela, só que sabia que não seria capaz de lidar com isso por conta própria quando toda aquela confusão era tão recente. A parceira de viagem tinha razão: ela não poderia fugir daquilo para sempre, porque Sana estava confusa demais sobre o que genuinamente queria para levá-las para casa. Não poderia fugir para sempre, mas poderia e iria evitar encarar esse fardo no momento. Ela não estava sendo totalmente egoísta, pois não era somente o medo de viver um cenário horrível e se traumatizar de maneiras impensáveis, e sim o risco que elas corriam de caírem de paraquedas em um beco sem saída, uma realidade sem volta. Ou que uma das duas ficasse quebrada demais para retornar. Querendo ou não, a perda física ou psicológica de uma delas significava uma queda exponencial nas chances de encontrarem a porta correta, mesmo que essas chances já não fossem grande coisa. Bem, considerando tudo isso, ela precisava fazer com que Sana entendesse que não havia problema nenhum em cometer um erro. Afinal, não era, de fato, culpa dela, era?

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