A entrada do QG era uma porta eletrônica ao lado de um bueiro tubular de concreto. O cheiro dos esgotos era terrível, mas não demorava muito para acostumar. Se fazia necessário o chip implantado no rito de iniciação para passar no sensor de reconhecimento ocular e abrir a porta, aqueles que não tinham o feito esperavam no interfone. Após a entrada se percorria uma antessala com baixa iluminação por conta de uma lâmpada defeituosa. A primeira imagem não muito convidativa para os recém-chegados. Havia um quadro de péssimo gosto torto na parede, pichações sem sentido por toda parte e pragas, como ratos e baratas, esbarravam em seus pés vindos dos esgotos ao lado. Ao chegar na sala principal, havia um sofá de corino preto que frequentemente estava ocupado. Maike passou e enxotou os dois viciados que estavam jogados em cima móvel.
Os dependentes químicos vinham de uma ocupação sem teto próxima ao QG. Um prédio que havia sido abandonado e os habitante locais tomaram para conseguir sobreviver na megalópole. Fora lá também que Maike conseguiu várias das peças para seu carro. Era uma área de constante contrabando e embates entre gangues.
Frank não prestou atenção em nenhuma dessas coisas, sua cabeça encontrava-se longe. Cumprimentou outros membros no piloto automático e seguiu o caminho. Estava curioso com aquele rapaz da noite anterior e passou para Maike rastrear as informações dele pelo computador. Samira, uma mecânica da gangue, se aproximou quando viu que os dois haviam voltado.
- O que estão fazendo dessa vez?
- Tamo no rastro daquele filho da puta que matou meus pais.
- Arrumando confusão com a Syrus? Enlouqueceu de vez? – ela retrucou. – Qual é? Você vivia reclamando deles te colocarem em reformatórios. Nós três sabemos como esses lugares são uma merda. E quando quiseram te entregar para a adoç...
Maike deu um tapa na mesa.
- Parem de me encher o saco enquanto trabalho! Achei o sujeito – apontou para o monitor. – Tony Piccoli é o nome do chefe de divisão da Syrus. Ele também já trabalhou na CPC (China Pacific Company) que domina a Asia e Europa.
- Como é que você não sabia nem o nome do cara, Frank? – indagou Samira.
- Não tinha como! Só recebi a ligação do hospital quando meus pais deram entrada em estado grave. Os desgraçados botaram o atestado de óbito como overdose, mas eu vi as entradas de balas! Eles tentaram me impedir de ver os cadáveres, só que também tenho meus truques. Fornecia rebite para um dos seguranças do período noturno, mas o pagamento estava atrasado. Ele me deixou entrar como forma de quitar a dívida. Lá dentro, tinha visto de relance um cara branco de cabelos espetados carregando o seu primo para a sala de autopsia. Esse era Chris Piccoli. Ele estava levando aquele playboy viciado para ver a merda que fez. Ouvi alguns gritos e fugi antes que pudesse ser pego – Frank se voltou novamente para Maike. – Qual a localização do engravatado?
- Acesso direto a membros de alto escalão da Syrus é impossível. Levaria anos para decodificar todas as barreiras impostas pelo sistema deles e mesmo assim haveria um alto risco de sermos rastreados – depois dessa afirmação, Maike viu o rosto do amigo murchar. - Antes de fazer essa cara de frustação, existe um jeito. Consegui acesso a agenda de reuniões de um prédio comercial da Syrus – apertou algumas teclas e retirou um cartão do computador. – Isto lhes garantirá acesso ao local. Ele fica em meio ao Formigueiro. Samira também tem que ir. É necessário grampear um robô e precisa ser feito fisicamente.
- Só pode estar louco se acha que vão deixar duas pessoas desconhecidas em uma reunião deles – respondeu Frank. – Não estamos nos sistemas da Syrus e todos nós somos fichados. Basta jogar nossos rostos na rede criminal e estamos fudidos!
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Como Lágrimas na Chuva - Uma Aventura Cyberpunk
Ciencia FicciónFrank sempre foi tido como um jovem que causava problemas, mas dessa vez foram eles que vieram em seu encontro. Após o assassinato de seus pais pelo filho de um importante executivo, ele viu as provas do crime se esvaírem como fumaça quando a influe...