Frank estava com um estabilizador de mira no olho quando acertou em cheio o pneu de Tony Piccoli. O carro derrapou até ir de encontro a um muro. Frank pulou para fora do veículo de Maike e correu em direção ao chefe de divisão. Ele estava com o supercílio aberto, sangue escorrendo por todo o corpo e um sinal vermelho acendia em seu carro. Frank verificou sua pulsação e viu que estava vivo. Gritou por Maike, que parou o carro próximo a colisão e jogaram agilmente Tony no porta malas.
Aquele botão piscando era um alarme. Ele enviava a localização geográfica para o departamento de polícia mais próximo e eles respondiam com socorro. Maike conhecia aquele tipo de dispositivo. Por isso, arremessou um explosivo para dentro do veículo Piccoli e afundou o pé no acelerador. O estrondo ecoou em suas costas enquanto o motor do carro de Maike era posto em seu máximo. Mais de trezentos quilômetros por hora. O camuflador holográfico também voltou a ser utilizado pelos dois. Dessa vez para tentar atrasar um pouco o reconhecimento do veículo. Não tinham certeza da eficácia daquele método, mas ganharam alguns minutos. Passado esse breve tempo, os dois ouviram algumas sirenes ao fundo. Provavelmente começando as buscas.
Os robôs vigilantes, que encontraram pelo caminho, observaram o comportamento atípico e começaram a enviar avisos para que a velocidade fosse reduzida. Maike os ignorou completamente. Seguiu ultrapassando todos os carros que via pela frente e andando em contramão quando era preciso. De repente após dobrar numa rua, viu algumas dessas maquinas tentando interditar a passagem se pondo no meio do percurso. O que não adiantou de nada, porque Maike não pensou duas vezes antes de atropelar os robôs vigilantes.
A partir disso a perseguição realmente começou. As sirenes policiais cada vez mais se aproximavam e apareciam no horizonte pelo retrovisor. O melhor caminho havia sido planejado anteriormente. Não iriam atravessar por dentro de Nova Vera Cruz, pois ficar preso no trânsito da Central decretaria o fim de sua tentativa de vingança. Contornariam por fora a Zona Norte direto para a Sul. Um percurso mais longo e mais seguro. Quando estavam se aproximando do segundo carro, uma viatura dobrou numa sinaleira a frente e apareceu do seu lado.
- Encostem o veículo! – gritava um policial de um megafone retrátil em sua orelha que reverberava por um amplificador na viatura. – Ou abriremos fogo.
- Se segura, Frank! – Maike emparelhou com a viatura e jogou o seu veículo em cima dela.
Os policiais foram jogados calçada a dentro e só pararam após avançar sobre a vitrine de uma loja de roupas. Os poucos pedestres que ali estavam começaram a gritar. Frank vislumbrou alguns indivíduos sendo arrastados pela viatura na calçada, mas não teve tempo para distinguir se eram androides ou humanos. Concluiu que não valia a pena pensar naquilo agora. Ignorou esses questionamentos quando chegou até o carro substituto. Quem estava no porta-malas era o mais importante. Verificou e Tony ainda estava desacordado. Precisavam saber se ele estava com algum localizador consigo.
- Vai demorar muito tempo ficar procurando. Tira a roupa toda de vez. Quando tivermos seguros, damos algo para ele vestir – falou Frank.
Maike seguiu a instrução. Em seguida, amarrou Tony e o pôs uma mordaça. Trocaram de carro e arremessaram o refém no porta-malas do atual. Toda essa movimentação levou pouco mais de um minuto. Usaram uma faca para rasgar as roupas do executivo, o que facilitou o processo. Deram mais uma arrancada para se afastar do antigo carro e alguns quilômetros depois estavam seguros. Samira acompanhou tudo pelo seu relógio.
Retornaram para casa abandonada por volta das quatro horas da tarde, repetiram o mesmo procedimento de transporte de refém. A exceção das roupas que Frank se encarregou de colocar em Tony. Samira contou que os noticiários estavam em polvorosos. Noticiavam a explosão, o sumiço de um importante executivo e a invasão da calçada por parte dos policiais. Um delegado tinha vindo a público comunicar que iriam decretar estado crítico caso fosse necessário. O vice-presidente da Syrus também deu um depoimento que não iria poupar esforços para recuperar Tony Piccoli com vida.
- Você precisa resolver isso rápido, Frank – disse Maike. – Irei contatar um cara que pode arranjar identidades falsas. Queima de arquivo total. Vamos sumir do mapa. Samira irá providenciar a viagem.
- Já tinha feito esse tipo de busca quando fugi de casa. Só vou resgatar algumas conversas. Vá depressa! – disse Samira.
Frank subiu as escadas e entrou na sala de cabeça baixa. Estava apertando os punhos com força ao ver a cena de Luca tentando acordar o pai. Quando o rapaz percebeu que alguém adentrou, ele se acuou num canto. Após Frank verificar que Tony estava bem amarrado, ele o acordou com alguns tapas no rosto.
- Que droga de lugar é esse? – passou os olhos sobre todo o quarto escuro e vazio. – Luca? As merdas que tu me coloca, seu moleque de merda! – Frank apenas observava. – Qual é a história dessa vez? Tá devendo pra esse tipo de sujeito? A espelunca que você está me fazendo pisar. E cadê a porra do meu terno?
- Como você fala, meu deus. Faz eu sentir saudades de quando estava apagado – disse Frank em tom sereno.
- Vamos parar com esse joguinho. Não está falando mais com esse traste aqui do lado. Você sabe com quem está lidando? Sou o chefe de divisão da Syrus Corporations. Poderia arranjar alguma coisa pedindo o resgate do meu filho, mas seu erro foi me envolver nis...
Frank acertou um chute na boca do executivo, o que o fez se contorcer de dor.
- Reconhece esses dois? – dessa vez mostrou a foto de seus pais para Tony.
- Não faço a mínima ideia.
- São o casal que eu tive aquele problema, pai.
- Aquela gentinha da Zona Sul? Se acha que vai me fazer pedir de desculpas e implorar de joelhos, achou errado. Esse acontecimento foi apenas mais um. Não vai conseguir dinheiro comigo preso aqui. Você está fudido agora! Pare de perder meu tempo, me solte e talvez sua pena seja aliviada.
- Não sei por que ainda perdi meu tempo – Frank puxou uma pistola automática da cintura e disparou uma vez em cada. Sentiu um breve momento de alivio pela primeira vez em muito tempo, contudo a confusão estava longe de seu fim. Desceu as escadas com pressa. – Trabalho feito! Temos que vazar.
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Como Lágrimas na Chuva - Uma Aventura Cyberpunk
Science FictionFrank sempre foi tido como um jovem que causava problemas, mas dessa vez foram eles que vieram em seu encontro. Após o assassinato de seus pais pelo filho de um importante executivo, ele viu as provas do crime se esvaírem como fumaça quando a influe...