Capítulo 6 - O Dia D (Primeiras Doze Horas)

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O primeiro alvo a ser identificado foi o assassino dos pais de Frank. Um jovem branco de vinte três anos e alta estatura que trabalhava em um cargo menor dentro da Syrus. Isso seria um feito surpreendente para alguém tão novo, se o motivo de estar lá não fosse o pai o ter colocado. Entrar na maior empresa da América era um desafio gigantesco e sonho de muitos, apenas os que tinha boas indicações nas melhores faculdades do mundo eram congratulados com essa oportunidade. O que não era nem de perto o caso. Luca Piccoli tinha um curso abandonado nos primeiros semestres, além poucas referencias acadêmicas em seu currículo. O filho do chefe de divisão, na verdade, era um viciado. Frank contatou traficantes da Zona Norte e teve o retorno que o rapaz vivia comprando quantidades nada recomendáveis.

O sequestro de Luca daria início ao plano. Frank, Maike e Samira aguardariam em três pontos de drogas diferentes para emboscá-lo. Estes que haviam sido escolhidos previamente de acordo com a proximidade ao condomínio que os Piccoli viviam. Samira acabou ficando designada ao mais próximo. Um loteamento com muitas aéreas pertencentes a pessoas diferentes. Dentre algumas fazendas, plantações e maquinas agrícolas, havia uma casa que servia como ponto de compra e venda. Por ser uma zona pertencente a muitos figurões, a fiscalização era reduzida.

Passou o tempo conversando com os residentes e fumando suas ervas. Até que viu Luca entrar. Se manteve agindo normal, mas com os olhos no sujeito. Através do seu celular enviou um alerta para seus dois amigos que havia achado o assassino. O Piccoli apresentava alguns sinais de abstinência, provavelmente estavam pegando mais em seu pé depois do que tinha aprontado na Zona Sul. Tremulo e com as pupilas dilatadas, pedia alguns comprimidos e uns estimulantes para levar. Jogou as notas para o traficante e ali mesmo usou parte das drogas.

Depois de se dopar, Luca conseguiu se recompor um pouco. Comprou mais um punhado dos mais variados tipos e saiu. Enquanto seguia o alvo, Samira puxou o cinto de sua calça e escondeu por detrás do corpo. Quando o rapaz se aproximou do seu veículo, recebeu um chute na lateral da barriga que o fez soltar um gemido abafado. Ao se virar para tentar descobrir quem o tinha feito, Luca viu o cinto perpassar envolta do seu pescoço e lhe apertar. As mãos dele correram para o bolso em busca de alguma lâmina, mas desmaiou antes de conseguir sacar qualquer coisa. Samira rasgou um pedaço da camisa do sujeito para lhe colocar uma mordaça. Nos bolsos achou a chave do carro e jogou Luca Piccoli dentro do porta malas.

Após a captura feita com sucesso, Samira contactou novamente seus amigos dando prosseguimento ao combinado. Iriam levar o rapaz para longe dos holofotes da Syrus. Numa casa abandonada na Zona Sul. Ela subiu os vidros escuros do carro e desceu pela pista principal. Uma abordagem policial nesse momento seria um desastre, contudo veículos de membros de alto escalão da Syrus vinham com placas especiais. Elas intimidavam esse tipo de procedimento policial.

Seencontrou com Maike na entrada da Zona Sul. O carro do Piccoli foi deixado noacostamento e o refém transferido. Frank se atrasou pois teve que passar em umcaixa eletrônico e alertou que os veria na casa abandonada. O local marcadoficava numa periferia comandada pelos Verdes. Frank havia conseguido liberação da gangue e ela passaria um aviso para os moradores locais se manterem afastados. Alguns dias antes, Frank tinha feita uma limpa naquele local para evitar convidados indesejados lá dentro. A casa continha um toldo de madeira anexado para ser usado de garagem, Maike entrou de ré mantendo o porta malas o mais próximo possível da porta de entrada. Frankchegou alguns minutos antes e esperava ali em pé.

Samira saiu primeiro para afugentar possíveis curiosos. Frank colocou um saco preto na cabeça do Luca Piccoli e com ajuda de Maike o carregou para o andar de cima. Lá estava um quarto preparado com isolamento sonoro. Amarraram seus pés e mãos para depois o acordar com pontapés.

- O que é isso!? Qual é, cara, não tinha necessidade disso tudo. Posso passar meus bens para você. Podemos sacar em um caixa eletrônico.

Frank deu um tapa na cara dele.

- Cala a boca! Reconhece esses dois aqui – amostrou uma foto de seus pais no seu aparelho telefone.

Luca estreitou os olhos para enxergar direito e logo em seguida, engoliu em seco.

- Nã não...

- Mentiroso – Frank apertou sua mão em volta do pescoço de Luca. – Eu te vi sendo acompanhado para verificar o corpo. Tu não é nem corajoso o suficiente para assumir. Mas não é seu momento ainda – se virou para Maike. – Vamos!

Bateram à porta e segundos depois, Samira entrou.

- Beleza. Aqui está o seu celular. Tudo que iremos fazer é ligar para Tony Piccoli e dizer que você precisa dele em casa o mais rápido possível para falar do acontecimento do dia quatro de outubro do ano passado.

O rapaz Piccoli fez uma expressão de choque quando ouviu a data.

- Como você sabe? Não vou ligar para ninguém. Posso pagar, tenho o cartão do velho. Todos nós esquecemos que tudo isso aconteceu. Eu juro!

- Não estamos em uma negociação – Samira puxou um gravador do bolso. – E você não precisará falar nada. O seu celular foi hackeado. Buscamos vários áudios enviados para diferentes pessoas. Pai, mãe, amigos, traficantes... Com isso e alguns programas de edição, realizamos um deepfake perfeito da sua voz – pôs uma mordaça na boca de Luca. – Apenas ouça com atenção.

Através do celular de Luca, Samira ligou para Tony Piccoli. O chefe de divisão não atendeu de primeira, foram dados mais três toques e se aguardou o retorno. Quando Tony entrou na linha, a reprodução começou. "Alô, pai. Temos que nos ver o mais breve possível. Fiz uma merda e os policiais estão bem irritados. Foi mal! Vai ser a última vez, prometo. Estou em casa. Eles sabem daquele negócio que aconteceu na Zona Sul ano passado". Tony respondeu dizendo que estava a caminho. Por fim, Samira verificou se o refém estava bem preso e saiu do recinto.

A sala principal daquele lugar estava aos pedaços. Madeira podre, moveis corroídos e sujeira por todo canto. Entretanto o que realmente incomodava Samira era aguardar, mas alguém havia de permanecer ali para caso de invasão. Observava o lado de fora e periodicamente fazia rondas no andar superior. Samira também acompanhava Frank por um visor no seu relógio. O rastreador servia como prevenção. Com o filho do chefe de divisão em mãos, mesmo que a emboscada desse errado teriam como negociar. Em segundo plano, estava um carro alugado deixado em um ponto estratégico. Este seria usado para despistar a policia no sequestro de Tony.

O tempo em espera a fez lembrar do dia que Frank lhe deu o emprego dentro da gangue. Os pais de Samira vinham de negócio familiar longínquo e ela sofria uma pressão interna da família muito forte desde de cedo. Aquilo a fez começar a tomar ansiolíticos ainda na infância. Ao adentrar na adolescência percorreu uma fase bem violentas. As constantes brigas e as compras no mercado ilegal a fizeram chegar em Frank. Ele observou seu interesse por mecânica, ao qual havia aprendido com sua tia antes dela voltar para Asia. Quando Samira apareceu fugiu de casa e buscava um local para ir, Frank lhe ofereceu uma vaga nos Demônios do Bueiro. Estava perdida em pensamentos até que uma voz a fez retornar para a realidade.

- Tamo aqui – falou Frank pelo rádio. – Tony acabou de passar pelo local combinado. Vamos começar a segui-lo. Acelera, Maike! O ponto cego da polícia é logo ali na próxima esquina – Samira ouvia o carro acelerando ao fundo. – Agora é só mirar no pneu – um disparo ecoou no gravador. - Vai! Vai! Ele bateu a cabeça no volante. Vou ver se tá respirando. Me ajuda aqui, Maike!

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Bônus: Samira

Bônus: Samira

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Como Lágrimas na Chuva - Uma Aventura CyberpunkOnde histórias criam vida. Descubra agora