VI

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Romildo, numa cela, olhava a lua pela janelinha gradeada com luxúrias de amante. A madrugada pingava e só se ouvia o vento correr lá fora, nas ruas sonolentas de Sunshine.

Não demorou, a carranca antes séria e atenta do mexicano se engelhou num sorriso triunfante quando ouviu um tropel de cavalos se aproximando. Ele sabia exatamente o que aquilo significava.

Em seguida, ouviu um barulho vindo do escritório do xerife. Dois homens de sombreiro entraram rápido, discretos, dois vultos na escuridão.

¡Compañeros! – Romildo segurava as grades sorrindo, desdentado.

Os dois comparsas, também bandoleiros de El Diablo, abriram a sua cela e, tão misteriosamente como entraram, saíram.
Lá fora, o silêncio. A cidade dormia e, para Romildo, não havia sinfonia mais bela. Cada qual montou um cavalo e a noite erma encobriu a sua fuga.

Antes de deixarem Sunshine, porém, o nosso bandoleiro mexicano tomou um desvio.

¡Esperen! – disse aos dois comparsas. – Antes de irmos, preciso fechar uma conta!

¿Y si aparece el xerife?

– Sosseguem! El xerife é nosso aliado!

E rumaram os três pelas ruas desertas indo parar bem em frente à casa do doutor. Lá, no andar de cima, foi Romildo mesmo quem percebeu um clarão de vela trespassando as vidraças de uma janela. Na casa do médico, apesar da hora, alguém ainda estava acordado.

Era uma velha mulher que não importa agora o nome. Sob tosses insistentes, ela andava muito vagarosa pela casa, encolhida debaixo dum xale grosso, segurando uma lamparina pela asa. De repente, uma mão misteriosa saiu da treva e veio cobrir a sua boca. Era um dos homens de Romildo.

¿Dónde está el gringo, mujer? – Ele quis logo saber.

A mulher, que nada poderia fazer em seu favor, apenas os levou aonde Bob Carson estava acamado. E encontrando-o naquele estado – tão indefeso, tão miserável –, os dois olhinhos de cascavel de Romildo brilharam na escuridão. Bob ressonava, inconsciente, febril. Vez por outra tossia, mas só. Estava totalmente indefeso, à deriva num mar de possibilidades e Romildo, agora mesmo, sem perceber, sorria o seu riso mais sincero, mais diabólico.

Lá fora, um comparsa o apressou:

¡Vamonos, hombre!

Mas Romildo não ouviu o aviso. Estava colérico. Ainda sentia a perna latejar bem onde o nosso rapaz o havia alvejado. Romildo não ouviu mais nada. Agarrou a pistola e a pousou bem no meio da testa suada de Bob.

Engatilhou. Atirou.

As Flores da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora