IV

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"Aberrações que impedem o mundo de andar para frente, não podem existir."

Não queria ver ele chorar, até porque não sei como agir, não somos íntimos a esse ponto, Jimin limpou o rosto com a camisa suja de sangue e ofereci a ele um banho no meu pequeno e humilde banheiro. Aceitou depois de certa insistência e separei para ele uma camisa social antiga que não uso faz um tempo.

Enquanto isso limpei a casa de seu sangue, além de pedir comida, já que está tarde demais para eu cozinhar e imagino que esteja com fome. Quando ele saiu, um pouco vermelho, lhe entreguei a camisa e agradeceu com um gesto frio da cabeça.

Desci para buscar o pedido e assim que subi, o vi sentado na minha cama, com a camisa que vai até a metade de suas coxas, olhando para a parede.

— Não tenho tv, mas pode usar meu notebook se quiser — disse deixando a comida sobre o pequeno móvel ao lado da cama. O cheiro é bom. — Comprei comida pra você, você come qualquer coisa? Ou seu tipo de gente tem uma dieta diferente?

Franziu o nariz com minha indelicadeza. Sentei no chão, a sua frente e ele esticou sua mão, com pequenos arranhões, até o saco marrom.

— Sou gente como você. — respondeu sério abrindo o saco. — Pelo menos gosto de pensar assim.

Puxa, eu realmente não queria magoar ele, mas minha boca gigante só fala bosta. Jimin esfrega um pé no outro e vejo que alguns dos hematomas já sumiram. Ele se regenera incrivelmente rápido, já esperava, ouvi nas histórias que esses seres são magicamente especiais.

— Desculpa, não foi minha intenção.

Começou a separar os pequenos potes sobre a mesinha. Fica pequeno dentro daquela camisa branca de listras azuis, algo sobre ele na minha roupa será inesquecível. Jimin é lindo, muito, e eu sempre fico surpreso com o quanto.

— Não fiquei bravo. Só tome cuidado com as coisas que diz — pediu levando um bolinho a boca. — Obrigado pela comida.

Balancei a cabeça positivo, fiquei ali observando ele comer e parece estar esfomeado, devora tudo com pressa e suas bochechas ficaram cheias por um tempo. Não parece ligar para meu olhar curioso.

— Deveria ter suspeitado antes — comentei para quebrar o silêncio e ele afirmou com a cabeça, ainda comendo. — É bonito demais para ser alguém comum...

Me fitou imediatamente, ainda sério, e engoliu a comida, voltando para pegar mais.

— Já matou quantos de nós?

Que pergunta direta. Neguei com as mãos.

— Participei de operações e invasões, mas nunca matei um híbrido... Posso te chamar assim?

— Bem, melhor do que bicho. — respondeu dando ombros. — Mas mesmo que não tenha tirado a vida de um de nós, diretamente, participou das missões.

Abaixei a cabeça. Sei que sim, mas era tudo para orgulhar minha família.

— Tem raiva de mim por isso?

Seu pé fofo encostou no meu joelho de leve. — Não. Porque eu sei que seu coração é bom.

— Tem como saber disso? Como?

Se ajustou na cama depois que acabou de comer e cruzou as pernas, me olhando.

— É como um cachorro sabe a quem confiar, não tem como explicar, é só instinto — disse passando a mão no ombro ferido. — Devo ficar melhor até amanhã...

— Onde atacaram você? E quem foi? Se lembra?

Negou com a cabeça. — Não fui atacado nesse distrito. É lua cheia, eu me transformei sem aviso prévio, sem querer, por um descuido, estava em outra cidade resolvendo um problema. O caçador não sabe quem sou.

O Caçador E O Feneco | vminOnde histórias criam vida. Descubra agora