VI

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"Quando os caçadores tiveram suas terras roubadas e um grupo de híbridos assassinou uma criança, a guerra começou. Até hoje o povo não esquece o que aconteceu, mas agem como se a morte de um humano justificasse a dizimação de milhares de seres mágicos, que descendem da Deusa."

— Vem, eu moro ali — Jimin segurou minha mão e me puxou pelo caminho. Um lado do bairro melhor que o meu, mas ainda simples.

Subimos juntos pelas escadas, tudo parece melhor e mais limpo do que o meu prédio. Na sua porta, uma oração para a deusa escrita pendurada em um amuleto e franzi o nariz.

— Deveria tirar isso daí, se alguém ver pode suspeitar de você — comentei e ele deu ombros destrancando. — É sério...

— Esquece isso e me diga, o que trouxe nessa mochila?

Já faz uma semana que comprei a raposinha e não tive coragem de dar. Parei pra pensar, Jimin não me mostrou sua forma animal ainda, e se não for parecido?

— Roupa — respondi e entramos. Seu apartamento é pequeno, mas um pouco maior que o meu. Todo em cores claras, até o sofá tem um tom de areia.

No chão, um tapete bonito, felpudo. Cortinas, vasinhos de plantas com flores cheirosas, integrada com a cozinha, e uma divisória de correr para seu quarto.

— O que acha?

Tirei os sapatos me sentindo sujo em um lugar tão limpinho. — É bonito, combina com você.

Riu e seguiu para a cozinha, deixando as chaves na vasilha de porcelana. O segui. Preparamos arroz e outras coisas, Jimin cozinha o básico, assim como eu, o jantar não ficou bonito, mas o cheiro é maravilhoso.

Deixamos tudo na mesinha da sala, ele ligou uma música baixa, e fiquei um tanto sem graça. É nosso primeiro encontro oficial, um jantar que combinamos na porta da floricultura, e estou suando.

Porque eu gosto dele e quero dizer, que vou protegê-lo de qualquer pessoa que tentar ferir seu corpo ou seu coração.

— Taehyung... não vai comer? — questionou com a boca cheia de o rosto vermelho por causa do vapor do ramen.

— Eugostodevocê. — cuspi as palavras todas juntas num relapso e Jimin gargalhou.

Droga.

— Aigoo... — buscou minha mão na mesa e alisou de leve a minha pele. — Também gosto de você. Muito. Não fica nervoso, tá tudo bem. Não tem prática com essas coisas, né?

Neguei com a cabeça e me ofereceu um ovo de codorna com a colher. Abri a boca e quando dei por mim, Jimin já tinha me alimentado pela metade da refeição. E eu gostei.

Muito.

É diferente, nunca cuidaram de mim antes, não assim.

— Jimin-ah, posso te pedir uma coisa? — perguntei quando ele acabou de comer. Ele fez um "uhum" enquanto limpa a boca com o guardanapo. — Posso ver você na sua outra forma?

Deitou a cabeça de lado e sorriu. — Achei que nunca fosse pedir.

Se levantou e esticou o corpo se alongando. Sua transformação foi mágica, e eu que pensava ser algo horrível, como aqueles filmes de lobisomem, mas não, Jimin se virou uma poeira brilhante e em dois segundos na minha frente suas roupas caíram e do meio delas saiu uma orelha peluda.

Saindo da gola da camisa, o feneco de tons claros, um amarelo bem fraco, de orelhas enormes e corpo pequeno, a coisa mais fofinha do mundo. Farejou a mesa e subiu, deve ter no máximo vinte centímetros de altura, e veio até mim se encaixando no meu colo.

O Caçador E O Feneco | vminOnde histórias criam vida. Descubra agora