Capítulo 2

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Porque aunque sé que te perdí, yo iré a buscarte
Y sé que no podré dormir hasta encontrarte
Le prometí a mi corazón volverte a ver

- Vas a Quedarte - Aitana

Carmem encarou o café do outro lado da rua. Ela havia dito a si mesma que não faria aquilo,mas falhara.

Precisava saber de Jules, mesmo que fosse apenas de longe, saber que estava bem e que não havia mudado nos últimos meses.

Carmem não tinha certeza do que esperava encontrar, a havia visto no hospital, mas parecia há tanto tempo atrás, talvez tivesse deixado crescer o cabelo, talvez tivesse sido machucada por algum agente da VILE e agora tivesse uma cicatriz no rosto bonito.

A verdade é que ela não conseguia imaginar Jules diferente do que sempre conhecera e nem precisaria.

Os cabelos ainda eram os mesmo e os olhos espertos estavam pregados em algo sobre a mesa, provavelmente um livro.

Era uma cena tão familiar que trouxera um calor ao coração da ladra e ela não pode evitar um sorriso daqueles que faziam mesmo seus olhos se curvarem.

Se imaginou entrando no café, com aquela roupa de verão que havia escolhido para o dia, sem capuzes ou chapéus, sem nada que pudesse escondê-la, apenas como daquela primeira vez no trem, e se sentaria em frente a ela.

Flertariam um pouco como se não se conhecessem, mesmo que Jules ficasse nervosa com a surpresa de vê-la.

Sabia que tinha de se controlar, do contrário seus próprios pés a levariam de encontro a agente naquele pequeno café de luz amarelada.

Aconchegante foi a primeira palavra que pensou quando percebeu Jules levou a xícara a boca, uma mancha de batom rosado na borda branca e os olhos fixos no livro. Ao seu redor haviam grupos conversando e casais trocando carícias em suas mãos, bebendo seus cafés lentamente.

Talvez Carmem houvesse feito algum barulho, talvez a mulher parada ao lado da janela tivesse algum tipo de sexto sentido para sempre erguer a cabeça na hora exata e então seus olhos escuros se encontraram com os da ladra em meio a multidão.

Diferente do que muitos podiam pensar, Carmem não odiava gatos, odiava Tigresa, claro! Mas não estendia isso aos felinos de verdade. Mas também não seria o prmeiro grupo de animais que usaria para se descrever, mas agora ela estava ali, parada em meio a calçada como um gato pego pelos faróis de um carro.

Carmem parou com os lábios entreabertos, esperando o próximo movimento da mulher enquanto Jules afastava os olhos e voltava. Tudo parecia desacelerado com o coração da ladra batendo a mil contra o peito.

Júlia pagou sua conta e se levantou com presa para atravessar a sua. Parou na porta, para ter a certeza de que era mesmo Carmem. Os cabelos longos estavam presos no coque ao qual já havia se acostumado e usava uma camiseta vermelha simples e um short jeans gasto, poderia se passar por uma pessoa qualquer, mas jamais poderia confundir a agente.

Jules respirou fundo quando e deu um passo além da porta, alguém bateu contra seu braço e quase a carregou de volta para dentro e quando conseguiu voltar seus olhos para a rua, o movimento de carros a cegou por um instante e de repente Carmem já não estava mais ali.

A ladra não sabia o que deu nela por passar tanto tempo parada, observando Jules por tanto tempo, poderia ter sido pega a qualquer momento e sabia disso, mas seus pés não conseguiam se mover.

Foi só quando ela se distraiu com o rapaz que Carmem conseguira dispersar daquela névoa que a havia mantido hipnotizada em Júlia Argent, mas não conseguira ir longe, ainda podia enxergá-la da loja de livros em que havia entrado para se esconder.

– O livro é interessante?

A voz pegou completamente desprevenida, não estava esperando que Jules a encontrasse lá dentro, não havia deixado qualquer rastro para ser seguida e não seria mais do que uma leitora qualquer em meio aos livros, mas a mulher era mais inteligente do que qualquer outra pessoa que Carmem já havia conhecido.

Se virou para encará-la por um momento.

Estava em roupas casuais como a ladra nunca a havia visto antes. Não era um terninho caro como os que usava na ACME, também não era a calça justa que usava na faculdade. Pela primeira vez estava com as pernas completamente expostas em um vestido azul que quase chegava aos seus joelhos e deixava as costas abertas. Não era a primeira vez que via suas costas, mas era a primeira vez que conseguia prestar atenção em seus ombros delicados.

– Um pouco, – respondeu, finalmente olhando a capa e descobrindo que estava com um livro sobre a história do México – eu acho.

As duas se encararam por um momento, separadas por uma grande ilha de livros. Carmem nem mesmo afastou o olhar para pensar em escapar.

– É bom ver você de novo – disse Jules, se aproximando pela lateral.

A luz do fim da tarde lançava raios alaranjados sobre os livros e criavam luzes e sombras no corpo magro enquanto Júlia se movia mais para perto. Ela arrumou os óculos sobre o nariz e quase parecia tímida pela forma como o sol iluminou seu rosto.

– Eu estive procurando por você nos últimos meses.

– Eu soube. – respondeu ensaiando se aproximar também – Resolvi parar com a vida de crimes, focar na família.

Jules suspirou, a boca se abrindo em uma expressão de surpresa e desanimo.

– Família? – perguntou com a voz falhando por um momento.

Parecia incomodada com a novidade e isso fez Carmem rir de forma instintiva, quase podia imaginar o que se passava em sua cabeça. Uma família poderia significar um milhão de coisas, como a família que formava com Ivy, Zack, Player e Shadowan, mas o mais comum eram associar a um casal e seus filhos.

– E eu deveria agradecer você por isso ao que me parece.

A confusão fez a mulher enrugar a testa, não estava conseguindo entender para onde aquela conversa poderia ir. Era quase desconcertante a forma como ela ficava bonita sob aquela luz e tão fora de sua zona de conforto.

Carmem não havia se dado conta do quanto havia sentido falta daquele rosto amigável. Estava tão acostumada a tê-la por perto em suas missões, principalmente depois da busca pelas relíquias da VILE. Ela ainda sentia o medo de quando soubera que a haviam sequestrado e levado para o Egito.

– Eu não sei nem como começar a pedir perdão por tudo que eu fiz para você.

Carmem escondeu o rosto, virando o olhar para os livros próximos a suas mãos, mas Jules a cobriu com seus dedos finos, um toque delicado que lhe parecia tão familiar que nem o estranhara.

– Eu não tenho nada que perdoar, – Carmem manteve os olhos pregados nos dedos macios que acariciavam sua mão – Carmem, não era você.

Ela sabia disso, deveria saber, mas as memórias eram tão reais para pertencer a outra pessoa, a outra vida. Virou a palma para cima e deixou que a mão de Jules descansasse tranquilamente sobre a dela antes de fechar os dedos e segurá-la com firmeza.

– Eu quero te apresentar para uma pessoa.

Jules hesitou por um momento, o coração batendo muito perto da garganta. Ela encarou a mão castanha contra a sua e um calor percorreu o seu corpo por um instante.

– Eu adoraria.

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Notas finais:

Oi gente! Então, talvez eu passe um tempo afastada porque minhas aulas e trabalho voltaram e to um pouco focada na minha original em um outro perfil, mas assim que organizar tudo eu volto :*

Vas a QuedarteOnde histórias criam vida. Descubra agora