Capítulo 01: Conhecendo Helena Cortez

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PRESS START...

E FOI!


Como diria minha mãe, "desde que me entendo por gente", sempre me considerei um tanto diferente das outras meninas da minha idade, sabe? OK, uso o uniforme da escola onde estudo, que também consiste numa saia (que, por vezes, acho um tanto curta), mas penso que meu lado feminino morra aí... 

Em geral, faço, aliás, gosto de fazer certas coisas que os meninos fazem mais. Entre elas, jogar horas e horas de videogame. Jogo de tudo mesmo e, às vezes, eu preferiria ter nascido um pouco antes para aproveitar e ver o lançamento de grandes clássicos dos games consagrados atualmente, tais como Mario, Sonic, Mortal Kombat, Street Fighter, Chrono Trigger, entre outros, mas como sou nova, tenho que me conformar...

Ah! Não me apresentei. Meu nome é Helena, Helena Cortez. Sou uma mera estudante de Ensino Fundamental de apenas treze anos e apaixonada por Literatura (meu pai é escritor)... Fisicamente, não me considero nada demais: minha altura, para a idade que tenho, está na média e tenho olhos e cabelos cacheados castanho-escuros.

Meus pais são: Pedro, como dito lá em cima, escritor, mas também trabalha como professor de línguas estrangeiras (acredito que ele fale mais de três idiomas, além do nosso bom português) e Rafaela, que é advogada ao estilo home office.

Mas por que estou falando tudo isso? Ah lembrei! A história que vou contar a vocês é um tanto (um tanto?) surreal. Logo, peço humildemente que vocês, caríssimos leitores, creiam nas minhas palavras aqui expostas, é o máximo que posso lhes dar...

Tudo começou no final de janeiro desse ano mesmo. Sim! Final de janeiro, ou seja, fim de férias, uma lástima... Mas além desse fator temporal, outra coisa estava mudando literalmente na minha vida: minha família e eu estávamos mudando de casa. 

Assim, me vi repentinamente dando adeus às amizades que construí, aos professores, lugares, etc. na cidade onde residia. Minha maior curiosidade era "E a nova escola?", "Como seria lá?", "Eu faria amizades como fiz e tinha onde eu morava?", "E os professores?". Eram tantos questionamentos na minha cabeça que, quando dei por mim, estava também me despedindo do primeiro mês do ano e já adentrando em fevereiro e, com isso, o retorno um tanto compulsório às aulas.

E lá para o dia sete ou oito daquele mês, eis que meu despertador toca pontualmente às seis horas da manhã. Apesar do horário ingrato, acordo relativamente disposta, creio que devido a um misto de curiosidade e ansiedade, afinal estarei em menos de uma hora pisando em terreno desconhecido. Assim que pulei da cama, fui para o chuveiro, me despertei com um bom banho e logo estava na cozinha tomando o café-da-manhã com meu pai.

— E aí filhota? Ansiosa para o seu primeiro dia na nova escola? — disse meu pai, que também estava se preparando para dar algumas aulas de inglês ou francês (não sei ao certo). Devo ressaltar que o motivo da nossa mudança foi a escola de idiomas onde ele leciona: por uma necessidade dela, meu pai achou melhor termos nos mudado para a cidade onde estamos atualmente, daí ele conseguiria pegar aulas aqui fácil.

— Olha! Sim, tudo muito novo para mim na verdade... — respondi.

— Para todos nós, meu anjo! — disse a minha mãe que tinha acabado de chegar à cozinha, depositando um beijo carinhoso na minha cabeça.

E conversa vai e conversa vem na mesa do café-da-manhã, deu a hora de nos despedirmos da minha mãe e sairmos. A minha nova escola é bem pertinho de casa, mas meu pai insistiu para que me levasse até lá.

— Esse mundo de hoje está muito perigoso, Leninha!

Ai ai, pais sendo pais...

Ao chegar à nova escola, não consigo disfarçar a surpresa. Ao mesmo tempo que esse colégio é grande, especialmente quando comparado à minha escola antiga, ele é um tanto feio, mal pintado, acho que por se tratar de um prédio bem antigo (descobri isso depois). No pátio, crianças brincavam, adolescentes estavam nas suas panelinhas e até mesmo alguns casaizinhos estavam namorando...

— Bem, filhota! Boa aula então!

E lá se foi meu pai me deixando aqui nesse mundo que, num primeiro momento, me causou estranhamento.

Mal adentro a escola, ouço o sinal que "fala" para que nós alunos tenhamos que nos dirigir à nossas salas de aula. OK! Quase cheguei atrasada, mas esse primeiro dia já me serviu de bom parâmetro para as próximas rotinas.

Ao chegar à sala de aula onde devo cursar as matérias até o fim do ano, me deparo com os meus já colegas de classe fazendo a maior algazarra na sala. Entretanto, como se o tempo parasse do nada, eles começam a me encarar como se eu fosse um ET. Presumi que são pessoas que já se conhecem e estudam juntas há certo tempo – uma menina novata como eu deve ter causado estranhamento. Apesar da "surpresa" inicial, em questão de segundos, eles voltaram à bagunça até a chegada do professor que deu uma basta naquela festa.

A aula seguiu normalmente com aquela coisa de "blá blá blá primeiro dia, blá blá blá redação de como foi as suas férias" (embora eu não odeie fazer redação, muito pelo contrário...) até a hora do intervalo. Assim que tocou o sinal para nos avisar que era a hora do lanche, senti novamente alguns olhares sobre mim. Ao levantar a cabeça, confirmo tais olhares que exprimem curiosidade com um quê de timidez. Contudo, ninguém parece se manifestar até que me levanto e me dirijo ao pátio.

"— Gente estranha!" — pensei.

No caminho para a cantina, me deparo com um grupinho de meninos. Ouço um deles falar:

— ...Daí a gente monta o nosso clube de gamers e...

Eles param de conversar e começam a me encarar (pra variar...) e eu, envergonhada, falo:

— É... Desculpa! Não era a minha intenção escutar a conversa de vocês...

Eles me olham com uma expressão indecifrável em seus rostos. Um deles, então, chega perto de mim, me abraça de lado e diz:

— Que nada princesa! Mas vendo você olhando pra gente, eu fiquei curioso: a gatinha gosta de videogame?

Os outros garotos começam a fazer um burburinho com essa fala do amigo deles. Eu fico extremamente desconcertada tanto com o abraço quanto com o que ele disse. Acho que estava mais vermelha que um pimentão, mas tento me recompor e, gaguejando, respondo:

— Eeeer... Sim, eu... Eu gosto muito de videogame sim!

— Que ótimo, princesa! — ! Essa coisa de "princesa" já estava me incomodando. — Como você tinha ouvido a gente: estamos montando um grupinho pra gente jogar, sabe? Sem compromisso nenhum, na moralzinha mesmo!

— Ah legal... — respondo sem dar muita bola.

— Então... Quer se juntar a nós? Sabe... As garotas daqui não curtem muito jogar videogame, logo ia ser muito legal você jogando com a gente — disse o garoto.

Por dentro eu já estava quase pulando de alegria, afinal já estava resolvendo minha vida social já logo no meu primeiro dia de aula. Porém, tinha que ser racional. Questionei:

— Ah nossa! Fico feliz com o convite, mas... É que não conheço vocês... Digo, não conheço direito vocês, aliás nem seus nomes eu sei...

— Meu nome é Gabriel — falou o menino que tinha me feito o convite — e estes são o Luan, o Murilo e o Vinicius! A gente estuda na 8ªE, e você princesa?

"Princesa" ai ai...

— Eu me chamo Helena — falei meu nome de maneira bem enfática —, mas não gosto muito do meu nome, então prefiro que me chamem de Lena. — E aqui fui mais enfática ainda. — Estudo na 8ªA.

— É uma pena uma garota tão linda como você não estar na mesma sala que a gente. — Corei de novo.

— Eeeer... Acho que encararei isso como um elogio... — Com essa minha fala, ouço as risadas dos meninos.

O sinal, anunciando o fim do intervalo, toca.

— Bem, princesa — "É Lena!", pensei —, então o convite está de pé: na quinta-feira será a nossa primeira reunião após a aula. A gente se encontra no portão de saída.

— Tudo bem! — respondo de maneira meiga.

Eu me despeço dos meus novos colegas e saio correndo de volta para a minha sala de aula. Apesar da situação um tanto desconfortável e essa coisa de me chamar de "princesa" toda hora, eu estava feliz, pois já estava começando bem as novas relações de amizade por aqui.

Ou era o que eu pensava...

The BitsmasterOnde histórias criam vida. Descubra agora