Malya tentou manter a respiração controlada, depurando os fatos devagar. Não queria fazer nenhuma acusação infundada, seu histórico não estava favorável para que tivesse o direito de errar. Continuou analisando os movimentos da outra, buscando comparar cada traço com o do afanador.
— Se o Mago Idrovras está mesmo morto, precisaremos mais do que nunca de tua agilidade, Kelaya. – Halina repreendeu a cunhada.
— Eu sei, não consigo entender a razão pela qual as pedras não funcionaram. – tocou a último elemento do saco.
Percebeu que a celosiana lhe sondava. Malya sabia o porquê da outra não aparecer em Amaranto, no dia do incêndio. A meia bruxa era a incendiária.
— Ele morreu em paz? – Arden ainda processava o fim de Idrovras.
— Sim, como um grande Mago. – sorriu para ele, tocando o antebraço do homem, na tentativa de oferecer consolo.
As pulseiras soaram outra vez, alarmando a mente de Malya. Ela tinha certeza.
— E então, Kelaya? Antes de discutimos sobre o desafio de Celosia, tu poderias nos dá outro modo de lhe chamar, ou até quem sabe partir conosco. – a princesa insistiu, não estava com paciência para o romance do irmã, acordara nauseada naquela manhã.
— Façamos um acordo, – começou a mestiça, depois dessas palavras os ouvidos de Malya.
A sentença saiu com a mesma entonação do afanador, eram perfeitamente iguais, exceto pela voz deturpada do ladrão. Todo o resto era idêntico, até os trejeitos realizados.
— Repita. – a celosiana exigiu.
— Perdão, não entendestes minha proposta? – Kelaya devolveu.
— Repita a primeira sentença. – aproximou-se ameaçadora da mulher de cabelo azulado.
Os outros se entreolhavam confusos, buscando uma resolução para o conflito recém nascido.
— Estás bem, Malya? – Arden tentou se achegar para perto dela.
A postura da celosiana permanecia irredutível, não tirava os olhos da mestiça. Queria matá-la imediatamente. Arrastar a meia bruxa pela areias, arrancando os tufos de seu cabelo.
— Façamos um acordo. – Kelaya repetiu, apenas deixando a morena mais certa de sua suposição.
— É você! – Malya rugiu para mestiça. Kelaya falou exatamente igual ao afanador.A meia bruxa recuou acanhada para trás do noivo, parecia confusa. A celosiana tirou as espadas de suas costas, pronta para atacar a outra.
— O que está fazendo, Malya? Você está bem? – Zaire olhou para ela preocupado, tocando em seu ombro.
— É ela! – respondeu como se todos tivessem percebido.
Sua mente trabalhava a mil por hora, o cheiro da magia que sentiu no dia que Zaire e Arden brigaram arduamente, deixando-os vulneráveis para o roubo do primeiro fragmento era o mesmo da mestiça. Percebia semelhança nos modos das duas figuras se moverem, somente agora. A pronúncia das palavras também era similar, mesmo com a voz distorcida usada pelo afanador. Os mínimos detalhes se encaixavam, impulsionados pelos simples tilintar das pulseiras de Kelaya.
— Não estou entendendo. Elabore. – pediu Skadi, tão perdido quanto os outros.
— Ela é o afanador. – falou por fim, fazendo todos abrirem as bocas surpresos.
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Contos de Lucem - Ressurgir Sombrio
FantasiA queda de uma estrela em um continente infértil dá origem a cinco reinos abundantes de vida. Contudo, o impacto do astro abre uma passagem para um sexto reino demoníaco chamado Tenebris. Uma Era de miséria e maldições assolou os reinos da superfíci...