God only knows

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"Raciocina, Luiza" ouvi Kate falar na minha cabeça. Charlotte apontou a arma para Shawn e meu próprio desespero me fez acordar. Levantei e me joguei em cima dela, ouvindo a arma ser disparada e logo depois, caindo. Tudo aconteceu muito rápido, Charlotte se jogou para trás caindo por cima de mim, bati minha cabeça com tudo no chão e as coisas começaram a ficar borradas. Ouvi pessoas entrando no quarto, flashes de uniformes policiais e dos bombeiros. Alguém me levantou e me colocou numa maca e então, apaguei.

*

Morta. Tenho certeza que estou morta. Não sinto meu corpo, não consigo enxergar e muito menos ouvir alguma coisa... Aliás, não sei quem sou eu. Quanto mais tentava me lembrar, mais confusa ficava. Dizem que quando vamos para os campos de Asfódelos, nossas memórias são apagadas, então acho que é isso que está acontecendo. De repente, minha visão clareou, minha cabeça começou a latejar e ouvi barulhos de aparelhos hospitalares.
- Ah, filha! Que bom que acordou! - Um cara vestindo suster verde oliva com preto e calças jeans se levantou e veio até a minha cama. Sei que você não faz idéia de quem sou eu ou de quem você mesma é... Você bateu muito forte com a cabeça e... Perdeu a memória. - Seus olhos azuis se encheram d'água e ele passou a mão na minha bochecha. - Meu nome é Charles Brandon e eu sou seu pai.
- Quem sou eu?
- Katherine Brandon e você tem 18 anos. (N/a: no caso, estamos em janeiro de 2016, vocês já vão entender porque).
- Como... Como isso aconteceu?
- Mais tarde eu te explico tudo...
- Não, Charles. Por favor, me explica agora.
- Katherine, você acabou de acordar de um coma de 5 meses e...
- Cinco meses?!
- Sim, filha. Nós... Eu achei que você não iria mais acordar. Você caiu e rasgou a parte de trás da cabeça, trincou o crânio e teve algumas alterações, além de perder a memória. É um milagre você estar acordada, os médicos haviam praticamente declarado estado vegetativo. - Dessa vez ele não conseguiu segurar as lágrimas. - Você só está viva, Katherine, pelo que você é.
- Como assim? - Olhei pra ele com dúvida e então ele me explicou tudo. Desde o assassinato da Luiza até o Shawn, a Charlotte e o internato. Sobre eu ser uma Enviada e tudo o mais.
- Shawn... Ele está...
- Bem Ele foi internado por hemorragia e fraturas nas costelas, mas já está em casa há mais de 4 meses.
- E Charlotte?
- Só ele pode te explicar o que aconteceu. Irei informa-lo que você acordou e ele vira o mais rápido possível para conversar com você.
- Pai?
- Sim?
- Você... Também é um Enviado? - Perguntei e ele sorriu.
- Descanse, Katherine. Depois conversaremos sobre isso. - Charles saiu e eu caí no sono novamente.

*

- Charlotte Benson. Esse era o nome dela, se é que podemos nós referir a um demônio como ela. - Shawn começou falando. Ele vestia uma blusa branca de mangas compridas e uma calça bege.
- Você diz era...
- Esta morta. Ela mirava na minha cabeça, mas quando atirou, foi como se um campo de força me envolvesse... A bala encostou em mim e voltou diretamente para ela sem nem mesmo me machucar. E quando a atingiu... Ela se dissolveu em poeira.
- Poeira, tipo pó?
- Sim. Ela virou pó em cima de você.
- Que estranho...
- Sim. Mas seu pai sabe de coisas...
- Filha? - Ouvi Charles entrar no quarto e olhei em direção a porta.
- Oi, sr. Brandon.
- Olá, Shawn. Já explicou pra ela?
- Achei melhor deixar o final para o senhor...
- Tudo bem. - Ele me olhou e sorriu. - Katherine, os Enviados são um tipo diferente de anjo. Anjos de verdade não podem ser mortos de formas normais, como vocês. Somente um ser Celestial pode mata-los e isso significa, Deus. Os Enviados podem ser mortos de três formas: por doenças humanas ou com um toque do metal branco. Esse metal é muito raro e é uma versão invertida do metal Celestial, usado para fabricar armas de anjos e Enviados treinados. Ao contrário do Celestial, o metal branco é letal para qualquer criatura, estando ela viva ou semi morta como a Luiza estava em seu subconsciente. Quando uma criatura é tocada pelo metal, ela vira pó instantaneamente e nunca mais volta a vida.
- O que aconteceu com a Luiza?
- Ela voltou para o seu corpo original, o corpo do anjo que renunciou a alma para dar vida a ela.
- Mas ela esta bem?
- Sim, estou. - Uma garota respondeu aparecendo no sofá ao lado da minha cama. Luiza estava diferente da ultima vez que eu a vira. Os cabelos castanhos estavam longos e presos numa trança que ia até o seu quadril. Sua pele, antes bronzeada, estava pálida e tinha um brilho estranho. Seus olhos brilhavam e sua boca estava naturalmente vermelha, fazendo-me lembrar da Branca de Neve. Um fino fio de ouro estava na sua cabeça, como uma aureola, mas sua roupa era comum, sapatilhas azuis, jeans claro e camiseta de seda branca. Sem asas e túnicas brancas. - Olá, Charles.
- Luiza. - Meu pai fez uma pequena referência e Luiza sorriu.
- Como está se sentindo, Katherine?
- Bem... Só a minha cabeça e meu corpo que estão latejando um pouco...
- Normal. Você comportou duas almas poderosas por quase um ano. Seu corpo e sua mente estão se readaptando... E você bateu a cabeça com tanta força que até eu sinto os impactos. Tem sorte de ter perdido apenas a memória.
- Enviados que sofrem esse tipo de contusão costumam perder os sentidos, os movimentos e em casos extremos, a vida.
- Sim, Charles. - Ela olhou para Shawn e seus olhos brilharam com um pouco mais de intensidade. Mesmo sendo imortal, seus sentimentos por ele não mudaram. - E você, Shawn? Como vai o treinamento?
- Bem... Eles são bem legais e inteligentes, estou me sindo bem.
- Que bom.
- Treinamento?
- Sim, Kate. Quando você tiver alta será levada para o nosso centro de treinamento, onde irá aprender a se defender e a usar os seus dons. - Meu pai respondeu.
- Mas por que nós vamos para esse centro só agora depois de tantas tragédias?
- Geralmente, os Enviados mais jovens são mandados apenas quando são reconhecidos. Muitos levam uma vida normal e morrem naturalmente, sem nem mesmo saber o que são. E os que sabem, precisam ser mandados pelos pais, pelo menos até completarem 22 anos.
- É um sistema bem falho, não acham?
- Não. Geralmente, os que não descobrem, não correm perigo. Crescem tendo uma vida humana, normalmente se tornam embaixadores da ONU ou médicos voluntários... Fazem o bem para a humanidade. Se eu te contasse todos os famosos que são Enviados, você não acreditaria. - Luiza riu. - Mas nós três não fomos destinados a isso. Nunca teremos uma vida normal.
- Por que não?
- Porque nossos anjos originais eram guerreiros. - Shawn respondeu. - Eles eram mais importantes, eram anjos maiores. Anjos primordiais. Como os deuses da mitologia grega. Os 3 maiores, Zeus, Poseidon e Hades, são os mais fortes, representam os três maiores componentes do planeta Terra. Nossos anjos são tipo eles. Os três primeiros anjos criados por Deus, após o primeiro pecado do homem, tinham o dever de impedir guerras e salvar a humanidade... Alguns séculos depois, o nosso planeta quase queimou em chamas, então os três resolveram descer á Terra em forma humana para tentar livrar os seres vivos de uma catastrofe que iria por fim na vida da nossa e de várias outras espécies.
- E desde então, os três são unidos e trabalham juntos, evitando e acabando com conflitos que seriam letais para a humanidade. Quando seus hospedeiros morrem, eles voltam em paz para seus corpos originais até que sejam necessários novamente. Vem sendo assim há milhares de séculos
- Mas nós não fomos necessários...
- Ainda. Brittany e Charlotte foram apenas o começo. Esses conflitos no Oriente, ataques terroristas na Europa e guerras internas nos países euro-asiáticos estão saindo do controle e temo que venham se tornar algo maior em alguns anos, por isso vocês precisam ser treinados o mais rápido possível. - Charles respondeu apontando para nós.
- E o que você é?
- Um Enviado. Só que já terminei meu treinamento e hoje sou médico.
- Minha mãe também era?
- Não. Ela era uma humana comum. - Meu pai sorriu.
- E como ela morreu?
- Acidente de carro. Vai fazer um ano daqui há um mês.
- E Luiza, você vai voltar?
- Sim, por isso estou aqui hoje. - Juro que vi Shawn dar um sorrisinho de canto e sorri.
- E os nossos amigos?
- As memórias deles foram apagadas. Eles não sabem quem nós somos. Nem eles, nem ninguém.
- Nem os pais de vocês?
- Não... Eles são pais adotivos.
- Isso é cruel.
- Não exatamente... Esse é o nosso destino, Kate, e as vezes é preciso fazer sacrificios para salvar quem amamos. - Shawn respondeu. - Além disso, hoje sei quem eu sou de verdade. Nossa geração foi a única que manteu as características originais mesmo em forma humana.
- E seremos a última geração de hospedeiros dos primordiais. - Luiza completou.
- E depois?
- Existem milhares de outros anjos que são capazes de exercer nossa função. Foram treinandos por eras e eras para isso. Daqui há alguns anos teremos que nos aposentar e eles assumirão o fardo. - Lu sorriu e um médico entrou no quarto.
- Pronta para deixar o hospital, srta. Brandon?
- Com certeza.
- Então pode ir se trocar enquanto seu pai assina os termos. Sr. Mendes e sr. Brandon me acompanhem, por favor.
- Mas e a... - Comecei mas Luiza balançou a cabeça negativamente e eu entendi. O médico não podia vê-la. - Nada não, esquece.
- Tudo bem. - Então, eles saíram, nos deixando sozinhas no quarto.
- Pronta para ir para a Costa Oeste?
- O acampamento fica onde?
- Los Angeles, Califórnia. - Luiza sorriu e seus olhos brilharam. - A cidade não foi nomeada assim a toa.

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